Lá vem o circo

Foto Adriano Escanhuela


A excelência dos espetáculos do canadense Circo de Soleil parecia condenar à morte os espetáculos de picadeiro que, há mais de um século, percorrem o Brasil. Quem apostou nisso, errou feio. Ao que parece, serviu de motivação para a formação de plateias interessadas nessa arte cênica. Ao mesmo tempo, não impediu que continuasse a surgir mais escolas – o que acontece desde os anos de 1980 – e o segmento se reciclasse. Artistas de todo o País passaram a perseguir a perfeição, na esperança de um dia fazer parte da elite circense mundial. E vários conseguiram. Não por acaso, o Brasil é um dos que mais fornecem mão de obra ao Soliel. Um termômetro desse momento é o Festival Paulista de Circo, que este ano entra em sua sexta edição. Na soma de todas elas, o evento reuniu mais de 400 artistas em 1.580 espetáculos e atividades para um público de 123 mil espectadores – média de 24 mil pessoas/ano.

Sempre é tudo de graça. Neste ano, serão apresentados espetáculos do circo contemporâneo e tradicional, além de oficinas para o público. Entre as atrações que seguem uma linguagem mais convencional da arte circense, estão programadas apresentações dos grupos Circo Nosotros, com Famiglia Milan; Gran Circo Guaraná, com Rolha; e Circo dos Sonhos. Na vertente contemporânea, destacam-se as companhias Grupo Ares, Casa Ares e Paraladosanjos.

O objetivo inicial do festival era dar visibilidade a todas as tendências e isso tem sido mais evidenciado nos dois últimos anos, como explica Hugo Possolo, ator e diretor do grupo Parlapatões, além de idealizador do evento e consultor do mesmo por alguns anos. Desde o ano passado, Possolo se tornou curador do festival, em parceria com a diretora Alessandra Abrantes, ex-coordenadora de circos da Funarte. A cada edição, um diretor é convidado para comandar um espetáculo de variedades com a mistura de artistas de várias companhias. A apresentação funciona como uma síntese da concepção de cada ano. Em 2013, por exemplo, serão privilegiados os grupos que investiram em pesquisa e aprimoramento de seus números e, comprovadamente, venceram editais de pesquisa.

“Existe uma interação grande nos ensaios, e o resultado é empolgante”, diz Possolo, que este ano também dirige a atração. Ao mesmo tempo, ressalta, um festival assim dá voz ao circo como parte das políticas públicas de valorização das artes populares.

Os critérios para a escolha dos participantes incluem avaliação de vídeos do número a ser mostrado – por DVD ou link de internet – e um currículo de 20 linhas do candidato. Não é difícil escolher por que os curadores conhecem cerca de 90% dos grupos circenses do estado de São Paulo. Mesmo assim, a seleção leva em conta aspectos como técnica, estética e histórico da trupe. Se não tem qualidade, fica de fora para aprimorar e voltar no ano seguinte. “É preciso ser cuidadoso, não queremos nivelar por baixo o evento nem excluir o que traz uma linguagem diferente. Escolhemos sem a preocupação de trazer a novidade pela novidade, pois consideramos o respeito à tradição, além do apuro e do acabamento.” Segundo Possolo, existe a ideia equivocada de que os números tradicionais são ultrapassados. “Às vezes, são fundamentais, funcionam como a fonte principal para quem quer juntar as peças de outras maneiras.”

O Festival Paulista de Circo, portanto, propicia a troca de experiências entre as diferentes vertentes e linguagens. “Mas é preciso preservar alguns elementos, como a forma de apresentação dos espetáculos”. Nesta edição, serão montadas três lonas, além de um palco aberto e uma tenda voltada para oficinas de práticas circenses para crianças. A área externa terá traves para apresentações de números aéreos e intervenções de palhaços e pernas-de-pau. Possolo observa que existe toda uma mística em torno da lona. “O imaginário da lona é importante para o público, apesar de ela existir há 400 anos. Graças a esse tipo de estrutura, tornou-se possível a itinerância e, desse modo, deu longa vida às companhias, tornou-a ainda mais popular, enquanto difundiu outros formatos, como a música e o teatro.

Natália Duarte, coordenadora do festival pela Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo (além dessa secretaria, o festival é realizado em parceria com a Associação Paulista dos Amigos da Arte e a Secretaria de Cultura do Município de Piracicaba, com o apoio da Cooperativa Brasileira de Circo), afirma que o aprimoramento tem sido gradual e a programação, cada vez mais integrada e em respeito a quem faz o circo, já que os profissionais são ouvidos no processo de organização, graças à parceria com a cooperativa Brasileira de Circo. “Compreendemos que a natureza do circo é itinerante, daí a ideia de termos feito os quatro primeiros em Limeira e os dois últimos em Piracicaba.”

Além disso, a mudança de cidade permite ampliar a formação de público. A opção por fazer no interior, de acordo com Natália, deve-se ao fato de a capital ter uma demanda cultural grande. “Fomentamos a produção regional e democratizamos o acesso à cultura.”

6º FESTIVAL PAULISTA DE CIRCO
De 12 a 15 de setembro. Av. Maurice Allain, 254 – Parque do Engenho Central – Piracicaba. Entrada gratuita   

 


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