361 X 120: mais do que uma importante vitória sobre a oposição, ao mostrar a unidade dos aliados para aprovar na Câmara o novo salário mínimo de R$ 545, por larga margem de votos, na noite de quarta-feira, a presidente Dilma Rousseff conseguiu desmontar até o final do seu mandato o circo armado com data marcada em todos os governos.
Assim como o Natal, o Ano Novo, as enchentes de verão e o Carnaval, em todo começo de ano entra no ar a novela do “novo salário mínimo”, mobilizando os partidos de oposição e as centrais sindicais para arrancar o maior valor possível de quem está no poder para agradar às suas bases, mesmo conhecendo as limitações orçamentárias do governo de plantão.
É sempre o mesmo roteiro, não importa quem esteja no governo ou na oposição: partidos e centrais sindicais mobilizam seus militantes para ocupar a praça do Congresso, os corredores e as galerias, com militantes uniformizados armados de placas e bandeiras em que reivindicam muito mais do que é proposto.
Claro que todo governante quer oferecer o máximo possível, mas em campanhas eleitorais ou assembléias salariais, quem não tem a responsabilidade de pagar pode oferecer quanto quiser.
Todo mundo conhece este teatro que se repete a cada ano. Desta vez, porém, a indignação popular foi maior exatamente pelo contraste entre os aumentos dos próprios parlamentares – 62% aprovados em apenas dez minutos, elevando os salários para mais de R$ 24 mil – e os R$ 35 de reajuste dados ao salário mínimo depois de semanas de discussão.
O abismo entre uma realidade e outra dentro do mesmo país é chocante. Junto com o mínimo, Dilma conseguiu aprovar uma nova lei estabelecendo que até 2015 os reajustes serão automáticos, sem passar pela votação no Congresso, com base na inflação do ano anterior mais o crescimento do PIB de dois anos atrás.
Por que então não aproveitam e aprovam outra lei estabelecendo o mesmo critério do mínimo para reajustar daqui para frente os salários de todas as excelências, da Presidência da República às Câmaras de Vereadores?
O que dói mais na alma de quem trabalha é saber que o país só tem condições de pagar R$ 545 por mês de salário mínimo e, ao mesmo tempo, paga alguns dos maiores salários do mundo para os seus políticos, incluindo os aposentados.
Claro que os líderes sindicais e os dos partidos de oposição que se uniram para defender um mínimo maior, armando o circo em Brasília, não vão aprovar esta sugestão, nem estão preocupados com isso.
O próprio governo de Dilma Rousseff e seus aliados, no entanto, poderiam aproveitar a vitória de terça-feira para tomar a iniciativa de propor esta equiparação de critérios para os aumentos salariais de quem vota e de quem é votado.
Seria uma verdadeira revolução nos costumes políticos brasileiros.
Deixe um comentário