Como era de se esperar, apanhei feito cachorro magro de muitos leitores ao criticar os exageros da Lei Antifumo do governador José Serra, que praticamente prevê o banimento do cigarro, aprovada na semana passada pela Assembléia Legislativa de São Paulo.
Mas o que eu não esperava, já que as pesquisas nos indicam que 80% da população aprova medidas restritivas ao fumo, é que a lei dividisse tanto os leitores, a ponto de uma grande parte, incluindo não fumantes, considerar exageradas as proibições.
Segundo assunto mais comentado na semana passada no Balaio e na Folha, a Lei Antifumo do governador mobilizou leitores de todo o país e o que mais me chamou a atenção foi o alto nível das mensagens enviadas.
A favor ou contra a lei, a maioria argumentou com educação e respeito aos que pensam diferente no post “Cigarro adverte: governo faz mal à saúde”, alguns até com bom humor. Trata-se, como sabemos, de um assunto que envolve temas delicados como a saúde pública e a liberdade individual.
Marcus Corrêa (14:22) pegou pesado e mandou ver: “Você tem a capacidade de se superar a cada dia. Cada dia pior. O paladino das causas imbecis e seus seguidores”.
Reinaldo (14:21) ficou preocupado com outra coisa: “Só falta proibirem sexo no motel Eu não sou fumante, mas se vou a um bar que tenha fumante, o problema é meu, não preciso do Serra zelando pela minha saúde”.
Dos mais de 220 comentários enviados – li todos -, tive que excluir apenas dois por conterem ofensas graves, sem acrescentar nada à discussão. Este é um ponto positivo: desde que comecei a fazer moderação de comentários, os cachorros loucos se afastaram e o debate ganhou qualidade, como se poderá observar por algumas mensagens que reproduzo abaixo.
Outra novidade que me deixou bastante contente foi que a maioria dos leitores passou a escrever aqui com sua verdadeira identidade.
Muitos estão colocando seus nomes completos, endereços de e-mail e até fotos, algo que é raro nesta rede infestada de anônimos, codinomes, pseudônimos, niks, comentaristas fixos, que passam o dia batendo papo nos blogs naquele velho esquema do me-chupa-que-eu te-chupo.
Como os argumentos de quem é a favor da lei já são mais do que conhecidos – e ninguém ignora os males causados pelo cigarro a fumantes e não fumantes -, selecionei alguns comentários por tratarem exatamente do que destaquei no meu texto: os direitos individuais e os exageros da lei. Alguns exemplos:
Bradock (17:07): “Não é matando o cavalo que se acaba com o carrapato”.
Rodney (16:57): “Enquanto isso, a liberdade de todo mundo vai sendo arrancada a forceps e todo mundo fica quieto e ainda aplaude”.
Fábio José de Mello (15:36): “Se o governo quiser ajudar as pessoas a largarem o cigarro, que faça como foi feito com a Aids: tratamento gratuito, universal, com o que há de mais moderno na Medicina. Fora disso é factóide; peça publicitária para ser criada durante a propaganda eleitoral”.
Robson de Oliveira (15:32), lembrando de uma frase do livro “O Gênio do Crime”, que leu nos seus tempos de ginário: “Senhor, os chatos são bichos muito esquisitos e estão sempre com a razão. Mas, o mais importante na vida, não é ter ou não ter razão O mais importante na vida é não ser chato”.
Harry (15:29): “Quando o governo te proibe de fazer algo, quando ele não te dá opções, ele está privando a sua liberdade de escolha. Se você tiver a opção de ir a um bar que proibe fumar e a um outro que permite fumar, você iria ao de não fumantes, correto?”.
Mauro D´Fant (15:26): “E eu pergunto: o que será que um não fumante iria fazer em um fumódromo?”
Por razões óbvias, já que tenho três netos, o comentário que mais me tocou foi o de Gabriela, de 11 anos (12:36), filha de um leitor do blog, que reclamou do avô fumante e, claro, gostou da lei.
O mais radical foi Felipe (23:20), que pediu para eu ser demitido e me recomendou continuar fumando para morrer logo.
Daniel (15:21) resumiu o pensamento de outros leitores ao avisar que irá fiscalizar a aplicação da lei e chamar a polícia se ela não for cumprida. “Espero que existam mais pessoas assim”.
Pelo jeito, vão surgir logo, logo os “fiscais do Serra”, assim como já tivemos os “fiscais do Sarney”, na época do boi gordo no Plano Cruzado, lembram-se? Essas coisas acabam gerando mais intolerância, uma guerra fumantes vs. não fumantes, e costumam não acabar bem.
De tudo o que li sobre o assunto nos últimos dias foi exatamente a decisão do governo estadual de deslocar 250 fiscais de outras áreas para garantir o cumprimento da Lei Antifumo que me chamou a atenção. Só na cidade temos mais de 27 mil bares e restaurantes para eles fiscalizarem. Eles não farão falta nos seus serviços de origem ou eram supérfluos?
Ao mesmo tempo, li no Estadão, durante o feriado, que São Paulo tem fila antiga para tratamento antifumo.
“O problema é que 550 pessoas já aguardam nos dois principais centros de tratamento da capital e faltam remédios, fornecidos pelo governo federal”. Mais adiante, o jornal revela que, dos 88 serviços capacitados pelo sistema Único de Saúde (SUS) para oferecer tratamento completo a quem deseja parar de fumar, apenas 53 ofereceram algum tratamento.
O próprio secretário da Saúde, Luiz Roberto Barradas Barata, reconhece que “a entrada em vigor da lei não vai, necessariamente, fazer a pessoas deixarem de fumar”.
Se é assim, não seria o caso de, antes de chamar os fiscais e a polícia, o governo botar os postos do SUS para funcionar, providenciar a contratação de mais profissionais de saúde especializados e comprar mais remédios?
A lei só deve entrar em vigor daqui a 90 dias. Até lá, o debate sobre a Lei Antifumo certamente ainda causará muita polêmica e batalhas judiciais. Com a palavra, sua excelência, o leitor.
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