Leitores: entre a revolta e o conformismo

Até o momento em que comecei a escrever este post, foram 220 os comentários enviados por leitores para a matéria “Câmara e STF, um show de hipocrisia”, publicada ontem aqui no Balaio – o maior número desde que comecei a fazer a moderação prévia, não contando os que me vi obrigado a excluir.

Depois de ler todos, notei que os comentários se dividem em dois blocos:

* O dos revoltados com a situação descrita pela matéria, que defendem o voto nulo ou facultativo, chamam de volta os caras pintadas ou os militares, propõem que o povo vá as ruas e promova manifestações, falam em pegar em armas e até há quem ameace colocar fogo em tudo.

* O dos conformados, perplexos diante dos fatos narrados sobre aumento de vencimentos de parlamentares e ministros do STF, que confessam sua impotência para dar uma guinada nos rumos do país.

Mensagem enviada pelo leitor Jorge Luiz, às 21h50 de quarta-feira, resume bem o sentimento dos leitores deste segundo bloco:

“Vocês acham que eles estão ligando para os nossos comentários?”

“Vocês”, no caso, são os leitores e, “eles”, as autoridades constituídas.

Respondo a Jorge Luiz: acho que em nenhum outro momento da nossa vida política leitores e eleitores foram tão ouvidos, tanto pelos homens do poder constituído como pela própria mídia.

O responsável por isso chama-se internet, que permite a cada cidadão falar o que pensa sobre o que lê, no momento seguinte, ao contrário do que acontecia antes, quando os monólogos dominavam as vozes tanto das autoridades como dos jornalistas.

Às vezes até me assustam os termos empregados nos desabafos dos leitores que enviam comentários para este Balaio, mostrando duas coisas: o andar de baixo está com muita raiva, já não aceita passivamente os abusos praticados pelo andar de cima, e perdeu o medo de falar o que pensa.

Ofensas e exageros à parte, que me vejo na obrigação de não publicar para manter o nível do debate, há um sentimento generalizado de “nós”, o povo, descontente com “eles”, os políticos que nós elegemos.

Nem os ministros do STF, antes intocáveis e acima do bem e do mal, que não foram eleitos por ninguém, mas decidem o destino de todos, escapam.

Temos hoje um sentimento generalizado de descrédito nas instituições, confundindo, como escrevi num comentário publicado ontem, o que é permanente – os três poderes em que se alicerça a democracia – daquilo que é transitório – ou seja, as pessoas que ocupam temporariamente determinados cargos.

Num clima desses, eu sei que pode até parecer ingênuo repetir como sempre escrevo que numa democracia só se pode mudar esta situação pelo voto e que o próximo encontro marcado com as urnas está marcado para outubro de 2010.

Mas, como eu sempre fui contra qualquer ato de violência para resolver nossos problemas mais imediatos, só me resta insistir em lutar com as palavras para defender meus princípios e ideais, palavras tão antigas, e é o que procuro fazer todos os dias aqui no Balaio.

Agora, com este fantástico instrumento da internet que nos permite um debate online, ao contrário do que pensa o desencatado leitor Jorge Luiz, acho que pelo menos somos ouvidos e, de alguma forma, podemos interferir no resultado do jogo, cada um de acordo e até o limite das nossas fôrças.

No mínimo, podemos dizer que estamos de olho e não concordamos mais em aceitar o prato feito de desmandos, prepotência e arbítrio que nos é oferecido todos os dias por autoridades de todas as latitudes e tamanhos.

Em 2010, com a internet se espalhando por todos os cantos do país, a cada com mais gente tendo acesso à rede, tenho certeza de que pela primeira vez os brasileiros todos poderemos ter uma participação decisiva no processo, e não somente políticos e jornalistas, e não apenas no dia da eleição.

Entre a revolta e o conformismo, prefiro ficar com uma esperança realista de que dias melhores virão, não apenas torcendo, mas trabalhando para isso acontecer logo.


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