LIBELO ANTINUCLEAR

Chuva Negra, a obra-prima do escritor japonês Masuji Ibuse, foi lançada em 1965 e adaptada para o cinema, em 1989, pelo cineasta Shohei Imamura. Ibuse narra a história de um tio que vive o impasse de não conseguir casar a sobrinha, órfã e sob sua tutela, suspeita de contaminação radioativa. Nesses dias de temores de novas ameaças nucleares, o romance – que inventaria a devastação de Hiroshima e Nagasaki na tragédia que completa 61 anos em agosto – é um convite à reflexão. Chuva Negra, Masuji Ibuse, Estação Liberdade, 328 páginas

ELEGIA LITERÁRIA

Segundo título do húngaro Péter Esterházy a ser lançado no País (em 2010, a Cosac Naify publicou Uma Mulher), Os Verbos Auxiliares do Coraçãoengrossa o coro de críticos que classificam o autor como um inquieto renovador das estruturas romanescas. À maneira de Camus, em O Estrangeiro, ele abre o romance narrando a morte de uma matriarca. Concebido por Esterházy, o projeto gráfico interage com as reflexões de morte e perda suscitadas pelo protagonista. Os Verbos Auxiliares do Coração, Péter Esterházy, Cosac Naify, 72 páginas

SALINGER VISÍVEL

A saga errante de Holden Caulfield, contada em O Apanhador no Campo de Centeio, tornou o americano J.D. Salinger um dos mais influentes autores do século XX. A insubordinação juvenil de Caulfield caiu como pólvora no incêndio de rupturas ensaiado pela primeira geração do Pós-Guerra, mas apesar do grande sucesso, Salinger permaneceu décadas em reclusão, até morrer em 2010. Salinger: uma Vidaé considerada a mais importante biografia do autor de Nove Históriase acaba de ser lançada. Salinger: uma Vida, Kenneth Slawenski, Leya, 416 páginas

PALAVRAS DE BRASILEIROS

por Paulo Vasconcelos*

Após as digressões sobre o livro didático e sua problemática das variações linguísticas, diz-nos Sírio Possenti, pesquisador da UNICAMP, por meio de Lívia Perozim, da Carta Fundamental: “O que consolida o desconhecimento da norma culta é continuar fazendo o que se faz, considerar ‘errados’ os que só falam diferente, ensinar uma gramática precária” (http://bit.ly/kmaITN). São essas as formas de dizer e escrever que consolidam a língua em sua trajetória política, de lutas por variações de dizer. Coincidentemente, me envia a poeta Selma Vasconcelos, pesquisadora paraibana com obras publicadas sobre poesia e João Cabral de Melo Neto, um e-mail – ou emaiu– com questões dessa monta e que circulam pela web:

O VOCABULÁRIO DO PARAIBANO

Paraibano não fica solteiro, ele fica “solto na bagaceira”.

Paraibano não vai embora, ele “pega o beco”.

Paraibano não diz ‘concordo com você’, ele diz: “issssso, homi!!!”

Paraibano não conserta, ele “imenda”.

Paraibano quando se empolga, fica com a “mulestia do scachorro”.

Paraibano não bate, ele ‘senta-le’ a mão.

Paraibano não bebe um drink, ele“toma uma”. (Não só toma uma, como toma todas)

Paraibano não malha os outros, ele “manga”.

Paraibano não toma água com açúcar, ele toma “garapa”.

Paraibano não percebe, ele “dá fé”.

Paraibano não sai apressado, ele sai “desembestado“desembestado”.


*Mestre e doutor em Artes e Comunicação pela ECA-USP, pesquisador na área de Cultura Popular e docente da Fundação Escola de Sociologia e Política (FESP-SP) e da Universidade Anhembi Morumbi (SP).


Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.