Últimas 24 horas de José Alencar

Segunda-feira, dia 28, 14 horas. Com fortes dores abdominais, José Alencar chegou de ambulância para ser internado mais uma vez no Hospital Sírio-Libanês.A equipe médica rapidamente se reuniu na UTI e avaliou a gravidade do quadro – tão grave, que não havia mais nada a fazer, a não ser sedar o paciente com morfina para que ele não sofresse com as dores.O ex-vice-presidente estava consciente ao chegar e mostrou bom humor quando fez seu último comentário aos médicos, antes de receber o medicamento:”O doutor Raul não vai falar nada? Se o doutor Raul não está falando nada é porque estou mal, a situação deve ser grave mesmo”Terça-feira, dia 29, por volta das 14h30 horas. O médico Raul Cutait, 61 anos de idade e 37 de medicina, que cuidava de José Alencar desde a sua primeira cirurgia, em 1997, e passou com ele as últimas 24 horas, recebe uma ligação do ex-presidente Lula, querendo saber notícias do seu amigo.Dez minutos depois, Cuitait daria a notícia da morte de José Alencar a Lula, que soltou um palavrão e começou a chorar ao telefone.A imbatível dona Marisa, acompanhada dos filhos Josué, Patrícia e Maria da Graça, ficou ao lado do marido até o fim. Nas muitas visitas que fiz a ele no Hospital Sírio-Libanês, nos últimos dois anos, nunca o encontrei sem a mulher a seu lado.A última vez, umas duas semanas atrás, foi no dia em que Alencar, cansado de tomar remédios e se submeter a tratamentos dolorosos que já não faziam mais efeito, decidiu comunicar aos médicos que preferia voltar para casa.Queria apenas que a família lhe providenciasse uma garrafa da cachaça “Maria da Cruz”, que ele mesmo fabricava, para tomar um “golo”, como ele dizia, com os amigos.A companheira de mais de 50 anos só não estava com ele no momento em que foi internado na segunda-feira porque tinha passado a noite em claro a seu lado, e queria descansar um pouco antes de ir para o hospital.No final da tarde, quando ela chegou, o quadro médico já era gravíssimo. “Procuramos apenas dar conforto ao paciente”, lembrou Cutait, na manhã desta quarta-feira, ao me relatar os últimos momentos da vida de José Alencar, de quem ficou muito amigo também.Na hora do almoço de terça-feira, fui informado por um amigo que estava no hospital, o eterno assessor Adriano Silva, que já não havia mais esperanças de que Alencar conseguisse sobreviver a mais um dia, como tantas vezes aconteceu antes.Ao saber da notícia de sua morte, fiz apenas um breve registro no Balaio. Tudo o que tinha a dizer sobre José Alencar Gomes da Silva escrevi enquanto ele estava vivo, em inúmeros posts nos quais os leitores puderam acompanhar a sua longa luta contra o câncer.”É fácil falar das pessoas depois que morrem, porque todo mundo fica bom depois que morre. Mas o Zé Alencar era bom em vida”, disse Lula sobre seu melhor amigo, e disse tudo. Faço minhas as palavras do ex-presidente.Os dois, Lula e Alencar, eram os melhores amigos um do outro – um exemplo raro na vida, raríssimo na política.MAIS JOSÉ ALENCAR:
Quando a política pode ser nobre
Lula e José Alencar, amigos para sempre
“Eu só não posso fazer coisa errada”
Enquanto isso, nos Jardins…
Um dia na vida de Zé Alencar, a unanimidade nacional
Prosa de fim de tarde com José Alencar no hospital
A valente luta de José Alencar pela vida
Zé Alencar dá mais uma bela lição de vida– Mais sobre a morte de José Alencar no iG


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