Lugar de menina é no pódio

Tudo começou cinco anos atrás, quando a menina Luana Pedrosa, então com 11 para 12 anos, pediu ao pai, o jornalista Mino Pedrosa, para também participar das corridas de kart que ele e um grupo de colegas “disputavam” no Carrera, um kartódromo indoor localizado no Parque de Brasília. Ele concordou, achando engraçado que a menina magrinha tivesse vontade de andar de kart. E lhe ensinou os princípios básicos da direção.”Foi mesmo meu pai quem me deu as primeiras aulas. Mas em pouco tempo eu já estava correndo mais do que ele e todo o resto do pessoal”, lembra ela, rindo. E quem via a “magrelinha”, como até hoje Luana é chamada carinhosamente pela mãe, Neiva, se surpreendia ao saber que quem parecia um garoto agressivo e bom de roda, era uma menina morena, de cabelos pretos e sorridente.

A mudança da família para o Rio de Janeiro, em 2005, acabou sendo um divisor de águas. Morando na Barra, Luana descobriu o kartódromo de Jacarepaguá e os karts de verdade – no indoor, os karts são mais pesados e lentos do que os de competição. Convenceu o pai e a mãe que valia a pena testar sua capacidade. E teve a ajuda preciosa do primo, Victor Pedrosa, então com 19 anos, e já campeão brasileiro de kart, para dobrar a resistência familiar. O resultado foi surpreendente. No primeiro ano em que participou do Campeonato Carioca de Kart, na categoria 14 anos, acabou como campeã. No mesmo ano, 2007, ficou em terceiro lugar no Campeonato Paulista Light. Promovida para a categoria Novatos em 2008, Luana seguiu surpreendendo: foi vice-campeã brasileira e vice-campeã da Copa do Brasil de Kart, correndo em kartódromos do Rio, São Paulo, Paraná e Goiás.
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Mas, para passar do nível do lazer para o kart mais competitivo do País, Luana teve de treinar muito. “São umas seis horas na pista, todos os dias, completando entre 130 a 150 voltas, sempre de pé embaixo. E ainda malho uma hora e meia na academia de segunda a sexta” , comenta, rindo. Essa rotina acabou atrapalhando os estudos, especialmente ano passado. Um “conselho de família” decidiu que Luana teria de completar o segundo grau este ano, fazendo um supletivo, como condição básica para continuar no automobilismo. “Eu aceitei, claro, e vou passar. É o único modo de continuar fazendo o que gosto”, garante. Esse fazer o que gosta tem suas dificuldades. Luana já foi posta para fora da pista duas vezes, em etapas da Copa do Brasil e no campeonato brasileiro, por um adversário, um garoto de 17 anos. E mesmo assim voltou para a pista e conseguiu a colocação necessária para os dois vice-campeonatos. Já o adversário levou bandeira preta e foi desclassificado nas etapas. “No começo, os meninos ficavam meio irritados quando não conseguiam me ultrapassar. Mas já estão se acostumando, pois eu sou boa mesmo”, comenta. Os primeiros a se acostumarem a ser superados pela menina bonita foram dois namorados.

O primeiro, que conheceu logo que começou a treinar no Rio, lhe deu muitas dicas, provavelmente querendo impressionar. O segundo, também kartista carioca, ela namorou por pouco mais de um ano, foi namorado e adversário. Ambos descobriram rapidamente que não eram páreo nas pistas para Luana. “Os dois me ajudaram muito e me respeitam, pois sabem que ando mais do que eles”, afirma a garota.

No kart brasileiro hoje, Luana fica no seleto grupo dos seis pilotos mais rápidos, os que realmente disputam vitórias e títulos. Ela admite que busca sempre ser a pole position ou largar na primeira fila das provas, para fugir da tradicional confusão que marca as voltas iniciais nas corridas de kart. “Imagina, mais de 30 karts no grid e quem sai atrás achando que pode recuperar 10, 15 posições logo na primeira curva. Eu saio na frente exatamente para fugir do bolo”, comenta.

Essa disputa maluca na largada até hoje faz com que o pai de Luana fique de costas para a pista nas largadas. “Não tenho coragem para ver. Só depois que a primeira volta é completada é que eu passo a acompanhar as corridas”, confessa Mino. A mãe reconhece que sempre fica preocupada, mas admite que a coragem e a determinação da filha hoje a deixam orgulhosa. E se conforma: “Acho que ela nasceu para ser piloto de corrida. Quando vejo que agora ela vai treinar e disputar campeonatos com verdadeiros carros de corrida, já se imaginando um dia na Fórmula 1, tenho mesmo que apoiar e torcer pelo seu sucesso”, afirma Neiva. O medo dos pais de Luana não passa pela cabeça da sua maior torcedora, a avó materna Lady Gomes, de 68 anos. “Minha avó chega a ser alucinada. Pula, grita, faz de tudo nas provas, torcendo por mim”, conta Luana, dando gargalhadas. E fora das pistas, o que faz a adolescente Luana Pedrosa? “Treinando seis horas por dia, sobra pouco tempo livre. Mas sempre consigo ir ao cinema e ao New York Shopping, na Barra”, conta. Entre seus filmes prediletos estão os da série Velozes e Furiosos, que já viu “milhares” de vezes. O filme Crepúsculo, como acontece com as adolescentes de todo mundo, é outra de suas paixões, assim como a série de livros, que já está devorando. Falando de shopping, ela garante que não faz o tipo consumista. “Eu quero mesmo é ser piloto. Me imagino mesmo na Fórmula 1. Quero fazer coisas grandes”, garante. Falando em Fórmula 1, além de Ayrton Senna, que viu pela TV quando era pequena, seus ídolos são Lewis Hamilton, Fernando Alonso e Felipe Massa. E, surpresa, Rubens Barrichello. “O Rubinho é bom. Acho uma sacanagem o tipo de comentário que fazem sobre ele.”

Mas o kart brasileiro vai perder Luana, que está se transferindo para a equipe de Luiz Alberto Triuci, o Dragão, na Fórmula 3 Light Sul-americana – uma modalidade preparatória para níveis mais elevados do automobilismo. Com 59 anos e 30 de automobilismo, o Dragão acha que tem uma pedra preciosa nas mãos. “Essa menina, no kart, anda tão ou mais rápido que os homens de sua idade. É um dos melhores investimentos disponíveis hoje. Uma campeã com potencial para chegar até na Fórmula 1”, aposta. Os planos de Luana Pedrosa incluem um ano na F 3 Light (já tem patrocínio do BMG acertado) e a promoção em 2011 para a F 3 Sul-americana, em que os carros chegam a mais de 250 km/h. Daí para a frente, se o Dragão estiver certo, os brasileiros podem se preparar para, nas manhãs de domingo, torcer por uma bela moça de cabelos negros.


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