Já vou logo avisando?aos leitores: como não se trata de uma reportagem convencional, escreverei este texto em forma de carta aos amigos. Explico o motivo: eu era o único repórter presente ao Palácio da Alvorada na festa promovida por Lula e Marisa em comemoração à vitória de Dilma Rousseff, primeira brasileira a chegar à Presidência da República, mas estava lá como amigo deles, não por ser jornalista. Tanto que não tirei meu caderno de anotações nem a caneta do bolso, não entrevistei, nem importunei ninguém. Não estava a serviço.Por esta razão, farei a seguir apenas um relato das minhas lembranças pessoais desse dia histórico, o 31 de outubro de 2010, em que tive a feliz oportunidade de testemunhar o primeiro encontro do presidente Lula com a presidente eleita Dilma, após o anúncio oficial do resultado pelo TSE. Passava das dez da noite, mas não me lembro do horário exato, até porque não uso relógio, quando os dois se encontraram no corredor do cinema do Alvorada, e se deram um longo e sentido abraço, com direito a tapas nas costas, como é de costume nessa casa.[nggallery id=15069]”Minha presidenta!”, gritou Lula, ao vê-la entrando em cena, protagonizando o final feliz de uma história que parecia inverossímel quando começou a ser escrita, exatos cinco anos atrás, como veremos mais adiante. Já com os olhos marejados, Dilma festejou com a amiga e primeira-dama Marisa, que a apoiou desde o início e o tempo todo, e foi abraçando com força quem mais encontrou pela frente – umas 15 pessoas naquele momento, entre parentes e amigos do casal Silva. Ninguém precisava dizer palavra, tamanha era a emoção de todos.O silêncio só foi quebrado por Lula, que chegou perto de onde Dilma tinha parado para descansar em pé, colocou as duas mãos na parede e lhe pediu falando no ouvido:- A ficha já caiu?- Ainda não…- É assim mesmo. Demora… Comigo também foi assim.Meio sem jeito, sem ser chamado, entrei na conversa para fazer um comentário a ela.- É que não estava nos teus planos ser presidente, né, Dilma…- É, nos meus não estava… Mas estava nos planos dele – disse, apontando para o presidente Lula, e todos em volta começaram a rir.Mais do que de euforia, o sentimento era de alívio e satisfação pela vitória duramente conquistada ao final da mais suja e pesada disputa eleitoral desde 1989. No telão do cinema, os números do TSE iam confirmando a vitória de Dilma por larga vantagem de votos, para tristeza de alguns comentaristas de TV, que não conseguiam esconder sua contrariedade. A esta altura, porém, já ninguém prestava atenção neles nem no pronunciamento feito pelo candidato derrotado José Serra. A eleição era página virada, hora de comemorar.Aos poucos, foram chegando governadores reeleitos (Eduardo Campos, Jacques Wagner, Cid Gomes, Marcelo Deda), alguns ministros (Celso Amorim, Orlando Silva, Paulo Bernardo) e parlamentares (o presidente do Senado, José Sarney, e o da Câmara, Michel Temer, agora eleito vice de Dilma), antigos assessores do governo (Marco Aurélio Garcia, Clara Ant, Gilberto Carvalho), e amigos dos dois (como os médicos Roberto Kalil Filho e Claudia Cozer, e o ator José de Abreu). No auge da festa, contei lá umas 40 pessoas. Como boa e animada anfitriã, dona Marisa foi mostrando as mesas de comes e bebes, convidando todos a se servir: vários tipos de salgadinhos, bons pastéis, pratinhos de arroz negro com pequenos camarões, bebidas em geral e refrigerantes. Não tinha chope. Só o ministro Franklin Martins, da Comunicação Social, e sua equipe continuaram acompanhando as apurações nos vários monitores instalados no salão de jogos ao lado do cinema.Os mais assediados, além da presidente eleita, eram os coordenadores da sua campanha, que ela apelidou carinhosamente de “os três porquinhos”: o presidente nacional do PT, José Eduardo Dutra, o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci, e José Eduardo Cardozo, deputado federal em final de mandato. O poder começava a mudar de mãos naquela noite, mas os personagens não. Notei que os convivas eram todos da chamada “turma do Lula”, que o acompanha desde a fundação do PT. Ainda não existe a “turma da Dilma”. O único cristão novo ali era o secretário pessoal da presidente eleita, o jovem gaúcho Anderson Dorneles, que passou o tempo todo resolvendo com ela se a presidente eleita iria ou não à festa da vitória promovida pelo governador eleito de Brasília, Agnelo Queiroz, na Esplanada dos Ministérios. Por falta de um esquema de segurança, Dilma decidiu não ir para “não criar tumulto”. Àquela altura, mais de meia-noite, depois de seis meses de campanha rodando o País, gravando programas de rádio e televisão, participando de debates e dando entrevistas todos os dias, ela queria mais ir para casa e pegar uma boa cama. Era justo.Nessa mesma época do ano, em 2005, ouvi falar pela primeira vez da ideia de lançar o nome de Dilma Rousseff, que assumira pouco antes a chefia da Casa Civil, para ser a candidata do governo à sucessão de Lula. Já não trabalhava mais no governo, mas continuava amigo de todo mundo e, quando ia a Brasília, sempre passava pelo Palácio do Planalto para tomar um café. Convidado para almoçar com o presidente no Alvorada, no caminho comentei que achei o ambiente do gabinete dele mais tranquilo.- Claro, depois que você e teus amigos foram embora, melhorou tudo… – sacaneou-me o presidente, dando risada.Em seguida, falando sério, contou-me o segredo que guardou até 2007, quando começou a tratar da candidatura presidencial de Dilma com alguns auxiliares de confiança.

– Agora está uma beleza trabalhar, posso viajar tranquilo. Não tem mais disputas, brigas. A Dilma faz o governo funcionar, controla tudo. Olha, acho que encontrei alguém para a minha sucessão.Detalhe: Lula me falou isso em 2005 – antes, portanto de ser re-eleito no ano seguinte -, logo após a maior crise vivida pelo seu governo, com os episódios do mensalão e da quebra de sigilo do caseiro, que derrubaram, respectivamente, os ministros José Dirceu e Antonio Palocci, apontados pela imprensa na época como os principais nomes do PT para a sucessão presidencial.Os mais próximos do presidente, no entanto, sabiam que, antes da crise, o nome guardado in pectore para a sucessão era o de Antonio Palocci, condutor da política econômica que vinha dando certo, e garantia a popularidade do governo, apesar dos problemas políticos. Como costuma fazer, Lula lançou o nome de Dilma na mesa, assim como quem não quer nada – não só para saber como a ideia era recebida em seu partido, mas também como ela reagiria à possibilidade de se candidatar a presidente da República e com a qual nunca havia sonhado na vida.No início do segundo mandato, em 2007, com o lançamento do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), entregue a seu comando, e o destaque cada vez maior que lhe era dado nos grandes projetos e conquistas do governo, principalmente na área do petróleo, mesmo que ninguém, nem Lula, lhe tivesse falado nada, Dilma deveria desconfiar que algo estava acontecendo. A sua candidatura foi-se consolidando assim, naturalmente, aos poucos, e se tornou um fato consumado antes mesmo que começassem as disputas dentro do partido. Na noite de 31 de outubro de 2010, no Palácio do Alvorada, quando os dois se encontraram para o abraço no cinema, parecia que tudo aconteceu como pensado no script de Lula escrito cinco anos atrás.Já quase ao final da festa, com alguns convidados já indo embora, Lula entrou na roda em que se encontravam os presidentes de partidos aliados (José Eduardo Dutra, do PT; Michel Temer, do PMDB; Eduardo Campos; do PSB, e Renato Rabelo, do PCdoB) e, como se estivesse comentando o resultado do futebol, deu seu breve recado: Dilma teria toda liberdade para formar seu governo, sem nenhuma imposição partidária nem de ninguém, nem dele. A partir daquele momento, ela assumia o comando do processo e ele começava a passar o bastão, como o presidente que sai confirmaria com todas as letras em entrevista que Lula e Dilma deram juntos, dois dias depois, no Palácio do Planalto: “O governo da Dilma tem de ser a cara e à semelhança de Dilma”.A comemoração pela vitória no Alvorada terminaria por volta da uma hora da manhã, quando o casal anfitrião se recolheu feliz, de mãos dadas, com uma cara de missão cumprida. Começou ali a contagem regressiva para sair do belo palácio onde moraram nos últimos oito anos e voltar para seu apartamento no último andar de um prédio de classe média, em São Bernardo do Campo, onde tudo começou. O problema agora é saber o que vão fazer com os muitos bichos que ganharam de presente e povoam os jardins do Alvorada.- No dia seguinte, enquanto Lula, Marisa e um casal de amigos jogavam uma partida de baralho (o mexe-mexe de sempre) à beira da piscina, enquanto esperavam a rabada que seria servida no almoço, Dilma já estava reunida com o comando da sua campanha para definir os próximos passos. Na mesma noite, ela começou a maratona de entrevistas ao vivo nas redes de TV e, como não sobrou tempo para a Brasileiros, tivemos apenas uma rápida conversa por e-mail, em que a presidente eleita respondeu a três perguntas:Brasileiros – Já caiu a ficha, Presidente Dilma?Dilma – Está em processo acelerado de queda.Brasileiros – Depois de tudo o que se passou, qual o momento mais feliz e o mais difícil da tua campanha?Dilma – O mais feliz foi o nascimento do meu neto Gabriel. O mais difícil foi quando tive o acidente no tornozelo. Isso dificultou meu trabalho naquele período. Mas o povo me deu forças para vencer essa batalha.Brasileiros – Só aqui para nós: o Presidente Lula mais ajudou ou atrapalhou a tua campanha?Dilma – Ora, Kotscho, pare com isso! Você sabe o quanto o Lula foi importante nessa campanha. Aliás, a votação que recebi é a confirmação de que o País quer avançar nas conquistas obtidas neste governo. Minha participação no governo foi o fator mais importante para a minha vitória. Agora, quero contar com o apoio de todos os brasileiros para vencer o maior desafio da minha vida. Tenho certeza de que ao final de meu governo o presidente Lula sentirá orgulho de ter apoiado uma mulher para dar continuidade a seu trabalho.

Poder das Mulheres
Elizabeth IFilha de Henrique VIII e Ana Bolena, Elizabeth foi a quinta e última monarca da dinastia Tudor e governou a Inglaterra por 44 anos. Tomou medidas drásticas para combater o declínio do comércio inglês, como o apoio à pirataria. Seu reinado foi marcado pelo aumento da riqueza e esplendor cultural (época de William Shakespeare, John Donne e francis Bacon).

Benazir Butho

Primeira mulher a dirigir um Estado Islâmico moderno, no caso, o paquistão, Benazir Bhutto morreu assassinada em 2007, vítima de um atentado terrorista. Benazir, que havia voltado ao país após oito anos de exílio, já havia governado o paquistão por duas vezes, de 1988 a 1990 e de 1993 a 1996, sem conseguir completar os mandatos.

Cristina KirchnerAtual presidente da Argentina, foi a primeira mulher eleita pelo voto direto no país (2007). Ex-senadora e ex-primeiradama, foi casada por 35 anos com Nestor Kirchner, que morreu no último dia 27 de outubro. Como presidente, deu continuidade ao trabalho iniciado pelo marido, em 2003, de retomadado crescimento econômico, com ênfase nas relações internacionais.

Cleópatra

Rainha do Egito, subiu ao trono aos 17 anos, em 51 a.C, após a morte do pai, e só deixou o posto ao morrer, em 30 a.C. A disputa pelo poder, entre ela e os irmãos, a fez pedir ajuda a Roma. Seu poder de sedução fascinou os líderes romanos Marco Antônio e Júlio César – este a ajudou a assassinar seu irmão. Derrotada por Otávio na Batalha de Ácio, Cleópatra e seu último marido, Marco Antônio, fugiram para o Egito – que voltou às mãos de Roma -, onde cometeram suicídio.

Cristina KirchnerAtual presidente da Argentina, foi a primeira mulher eleita pelo voto direto no país (2007). Ex-senadora e ex-primeiradama, foi casada por 35 anos com Nestor Kirchner, que morreu no último dia 27 de outubro. Como presidente, deu continuidade ao trabalho iniciado pelo marido, em 2003, de retomadado crescimento econômico, com ênfase nas relações internacionais.

Margaret Thatcher

Considerada a mulher mais influente do século XX, foi a primeira a dirigir uma democracia moderna quando eleita primeiraministra do Reino unido, em 1979. Governou até 1990. ganhou o apelido de “Dama de ferro” ao comandar a nação com pulso firme. precursora do neoliberalismo, defendeu o corte de gastos públicos, privatizou empresas e desregulamentou a economia.

Ellen Johnson SirleafAtual presidente da Libéria, tornou-se a primeira mulher a comandar um país no continente africano em 2006, com 97% dos votos. formada em Economia em Harvard, participou do governo pela primeira vez como ministra das finanças, chegou a ser presa por criticar a ditadura e teve de viver no exílio. Ao retornar ao país, em 1997, trabalhou como economista do Banco Central e do Citibank.

Angela Merkel

Atual chanceler da Alemanha, reeleita em 2009. foi a primeira mulher a ocupar o cargo no país. Nasceu em Hamburgo, formou-se em física em Leipzig e participou da reunificação da Alemanha pelo partido da oposição na RDA. Na década de 1990, foi Ministra da Mulher e da Juventude e Ministra do MeioAmbiente. Em 2005, foi eleita chanceler pelo parlamento alemão.

1. El Mercurio, Santiago, Chile. 2. 24 Hours Daily, Sofia, Bulgária. 3. Clarín, Buenos Aires, Argentina. 4. El País, Madri, Espanha. 5. La Stampa, Turim, Itália. 6. The Wall Street Journal, Nova York, EUA. 7. La Vanguardia, Barcelona, Espanha. 8. Público, Lisboa, Portugal. 9. El Pais, Montevidéu, Uruguai

BALAIO DO KOTSCHO – O dia em que Lula derrotou Serra


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