Machismo, Olimpíada e Igreja marcarão eleições municipais no Rio

Pedro Paulo, à esquerda, é o candidato a sucessão de Eduardo Paes. Ambos são do PMDB
Pedro Paulo (esquerda), é o candidato a sucessão de Eduardo Paes (direita). Ambos são do PMDB

Muito tem se falado sobre as Eleições Municipais de São Paulo, que ocorrem no próximo ano. A metrópole carioca, no entanto, também promete ter um pleito acirrado, e justamente no ano das aguardadas Olimpíadas.

A cidade do Rio de Janeiro, diferentemente de São Paulo, costuma ser marcada por eleições imprevisíveis e cheias de surpresa. Ao contrário dos vizinhos São Paulo e Minas, os tradicionais PT e PSDB têm pouca força na região e seus candidatos raramente ultrapassam 5% dos sufrágios. Nas eleições municipais de 2008, por exemplo, as primeiras pesquisas apontavam a hoje deputada Jandira Feghali (PC do B) e o Senador Marcelo Crivella (PRB) como presenças confirmadas no segundo turno, mas acabou que o mesmo foi disputado pelo pemedebista Eduardo Paes, que venceu, e um ascendente Fernando Gabeira (PV), que chegou ao segundo turno com força impressionante. O mesmo vale para as eleições estaduais do ano passado. O ex-governador Anthony Garotinho (PR) entrava como franco favorito e o candidato de Sérgio Cabral, Luís Fernando Pezão (PMDB), amargava um quarto lugar. Pezão venceu com tranquilidade e Garotinho nem chegou ao segundo turno.

Desta vez os pré-candidatos são o Deputado Estadual Marcelo Freixo (PSOL), o Senador Romário (PSB) o Senador Marcelo Crivella (PRB), a Deputada Federal Clarissa Garotinho (PR) e o Secretário de governo Pedro Paulo (PMDB), este último envolto em polêmicas. Fiel escudeiro de Eduardo Paes, Pedro Paulo é economista e braço direito do atual prefeito desde os anos 90, quando Paes era subprefeito da Barra. Desde o início deste ano é secretário de governo da atual gestão e acompanha o prefeito em todos os eventos e inaugurações de obras (que a menos de um ano da Olimpíada 2016 se multiplicam de forma crescente). Não raro, Paes se vale deste tipo de situação para pedir votos ao correligionário, o que configura em propaganda antecipada: crime eleitoral, como mostrado em reportagem do jornal O Globo (“Paes inaugura piscinão na Tijuca e faz campanha eleitoral” – 25/10/2015).

Apesar de saber do fato, o prefeito não se intimida e diz que vai continuar com a prática até que a Justiça o impeça.

Misoginia
Recentemente, no entanto, uma bomba atingiu em cheio o pré-candidato situacionista. A denúncia de ter agredido sua ex-mulher com chutes e socos em 2010, confirmada pelo próprio (embora ele negue ter relação com o tipo de agressão que a Lei Maria da Penha prevê punição) e justificada devido a um “descontrole de ambas as partes”, vem causando rebuliço dentro do PMDB e inclusive se cogita a substituição da candidatura pela de Leonardo Picciani, o que vai contra os desejos de Eduardo Paes, que faz o possível para abafar a história.

O caso pode atrapalhar Pedro Paulo durante a eleição, que apesar de poder surfar na popularidade do amigo (Paes) e usar a Olimpíada como cartão de visita, vai ter problemas com o caso, que os adversários certamente usarão como “munição”. Não apenas isso. Diferentemente de 2012, quando Paes construiu uma imensa coligação de 17 partidos e conseguiu apoios que iam de Crivella a Jandira Feghali, desta vez a situação talvez não se repita. Tanto o senador Crivella quanto a deputada Clarissa Garotinho (filha do ex-governador de mesmo “sobrenome”) tendem a alcançar boa votação entre o eleitorado evangélico, que é forte na cidade (não à toa, até figuras mais à esquerda, como o senador Lindberg Farias (PT), aparecem ao lado de evangélicos durante as eleições, a fim de conquistar votos do segmento).

O senador Romário, que obteve votação robusta na eleição do ano passado para o Senado (mais de 60% dos votos) também vai tentar repetir a façanha. Não sem fundamento, o PMDB vem fazendo de tudo para atrair Romário e o PSB para o arco de partidos que irão a compor a coligação de Pedro Paulo. Marcelo Freixo, que atingiu 28,15% dos sufrágios, também pode tirar votos do pemedebista e puxá-lo para baixo. Junta-se a isso o fato de Pedro Paulo, não semelhante a seus concorrentes, ser praticamente desconhecido do eleitorado. A campanha milionária e os apoios importantes podem reverter o quadro. Ou não. O tempo, o dinheiro e a campanha dirão qual será o desfecho de mais um disputado pleito.

Nas eleições municipais de 2012, o PMDB teve o apoio de Romário, do PSB. Apoio não deve se repetir no próximo ano
Nas eleições municipais de 2012, o PMDB teve o apoio de Romário, do PSB. Apoio não deve se repetir no próximo ano

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