A missão era cobrir a maconha na Califórnia. Explico: uma equipe da Rede Record foi ao aprazível Estado americano verificar a quantas anda a indústria e o comércio da planta. Eu estava nessa.
É coisa de evocar o chavão: “Deus dá nozes para quem não tem dentes”. Isso porque nunca gostei de fumo. Quando tinha 15 anos, provei da erva e me dei muito mal.
Os outros membros da equipe, o grande repórter Vinícius Dônola e o “Vittorio Storaro paraense” – o índio
Thompson Lee, cinegrafista que usa a câmara como lança certeira – também são caretas desde criancinhas.
Pois foi com tal armada brancaleônica que a televisão brasileira invadiu as plantações de Indicas e Sativas. Fomos também às lojinhas que vendem o item legalmente – pelo menos no Estado, já que o governo federal continua achando a coisa toda ilegal. O comércio da tramonha é permitido em alguns Estados americanos como forma de terapia para diversos males. O sujeito acorda amuado, com certo banzo, vai a um médico, declara-se deprimido, e por vinte doletas compra uma carteirinha de maconheiro oficial. Está com lumbago, escorbuto, fogo selvagem, certos tipo de calo: leva identificação de fumeta liberado.
Aí, é só passar em um “dispensário” – o que no Brasil é chamado de “boca de fumo” – e comprar uma pacoteira. Um grama custa US$ 18 e uma onça (não o bicho, mas a medida de 28,349 g) sai por US$ 320.
A primeira parada da equipe careta foi a casa do empreendedor que está lançando no mercado o refrigerante Canna Cola. Clay Butler desenhou umas garrafas muito maneiras para acomodar suas sodas e se tornou sensação mundial. Os produtos são, além da Canna Cola, a Doc Weed (em tradução aproximada, Doutor Erva), com gosto de tubaína; Sour Diesel, sabor soda limonada; Orange Kush, tipo Fanta; e Grape Ape, suco de uva. Eu trouxe uma garrafa (vazia) para casa.
As pessoas que veem Butler não têm dúvida de que ele gosta de um fuminho. “Se eu fico parado numa esquina, logo, logo vem alguém me perguntar se eu tenho baseados para vender.” Porém, esse vegetariano, pai de família, jura que nunca pitou da erva do diabo. E mais, em toda sua vida de 40 e tantos anos, só tomou duas cervejinhas. Pode?
Depois dessa visita, fomos tentar cortar o mal pela raiz. Ou seja, seguimos para a suposta “capital da maconha” nos Estados Unidos: Mendocino. Diziam que lá as plantações se estendiam a perder de vista. Não vimos uma única planta. O carinha do “dispensário”, numa paranoia de dar dó, nos dispensou dizendo ter medo que os “federais” fechassem seu negócio. Outra pessoa nos explicou: mais do que os agentes de Washington, a rapaziada tem mesmo medo das gangues mexicanas. Estas vão roubar os estoques de lojas e plantações.
Felizmente, conseguimos um tour pela faculdade da maconha, a Oaksterdam University, em Oakland, a “Niterói” de San Francisco. Trata-se de um estabelecimento de ensino com currículo letivo sobre cultivo, administração, aspectos legais, comércio e o diabo sobre o fumo. Vimos o plantio nas estufas da casa. Falamos com alunos aplicados, que incrivelmente prestam atenção e não faltam às aulas. Na minha época, os maconheiros iam para a escola só para comer merenda. Seus corpos estavam presentes – às vezes -, mas as mentes estavam nas nuvens (de fumaça de Indica). Os tempos, como se vê, mudaram muito.
De minha parte, notei grande oportunidade para ganhar dinheiro fácil em Oakland. Vou abrir um McDonalds ao lado da faculdade do fumo. Não tem nada por perto para acabar com a larica dos alunos.
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