Ex-guerrilheiro tupamaro, presidente mais pobre do mundo (anda de fusca e doa 90% do salário), chefe de um governo responsável pela descriminalização do aborto e autor de discursos contundentes contra o modelo econômico dos países ricos, o uruguaio José (Pepe) Mujica não cansa de surpreender o mundo a cada nova decisão ou declaração.
Aos 77 anos, presidente de um pacato país de 3,3 milhões de habitantes, o governante assumiu este ano uma posição de vanguarda na América Latina ao propor que o Estado uruguaio regule a produção, a distribuição e a venda de maconha no país.
O projeto de lei foi apresentado na terça-feira, dia 13, à bancada governista da Câmara de Deputados, e deve ser apresentado nesta quinta-feira, dia 15, à oposição. Além da regulamentação, a lei também admite que indivíduos cultivem a maconha para o consumo próprio.
Em uma recente entrevista divulgada pela BBC, Mujica disse que a “maconha merece mais respeito”, e que o que está ocorrendo no México “balançou sua alma” – se referindo à violência desatada no país por cartéis do narcotráfico. “O que me assusta é o narcotráfico, não a droga”, disse. “E pela via repressiva é uma guerra perdida: estão perdendo em todos os lugares.”.
Reação conservadora
Mujica admite que sua proposta gera resistências na sociedade uruguaia. “O Uruguai é um país pacato, de velhos. É um país cuja maioria somos velhos e de tendência conservadora”, diz. Segundo ele, muita gente ainda pensa em maconha “como se fosse uma coisa do diabo”.
“É um exagero. Na realidade, a maconha foi usada no descobrimento da América. A maconha era usada para fazer as velas e para fazer a estopa para tapar buracos nos barcos. Ela acompanhou toda a epopeia no Novo Mundo. Merece que a tratemos com mais respeito.”
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