O Brasil se firma como potência mundial em mais uma área. Desta vez, trata-se do concorrido e exigente mercado da arte. Na última edição da Art Basel Miami, uma das maiores feiras do gênero no mundo, realizada em dezembro, a arte nacional roubou a cena, e os galeristas brasileiros tiveram motivos de sobra para comemorar. “Foi espetacular. Digo não só financeiramente, mas também pelo fato de as obras terem sido vendidas para boas coleções. Para nós, o mais importante é isso. Significa que os colecionadores creem no artista e em sua carreira, além da visibilidade que a obra ganha dentro dessas coleções”, afirma Akio Aoki, diretor internacional da Galeria Vermelho, em São Paulo. A galeria de Eduardo Brandão e Eliana Finkelstein participou da feira com os artistas brasileiros Daniel Senise, Dora Longo Bahia, Rosângela Rennó, Jonathas de Andrade, Cinthia Marcelle, André Komatsu, Marcelo Cidade, Chiara Banfi, Marilá Dardot e Fabio Morais, além do argentino Nicolás Robbio.

Luciana Brito, galerista de São Paulo, concorda. “O saldo da feira foi muito bom pra gente.” Ela levou nomes nacionais e estrangeiros a Miami. “Hoje, há um grande interesse pela arte brasileira lá fora. Houve uma descoberta da nossa produção, principalmente, contemporânea”, afirma.
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Também presente na feira, Eduardo Leme, proprietário da Galeria Leme (SP), notou que, nessa edição do evento, as obras dos artistas brasileiros sobressaíram em relação às de outras nacionalidades: “As galerias estavam superbem representadas, com obras de artistas nacionais de primeira grandeza”.

O mercado de arte contemporânea, principalmente no que se refere a artistas nacionais, vem crescendo em progressão geométrica.” A constatação é de André Millan, proprietário da Galeria Millan, no bairro da Vila Madalena, em São Paulo. André levou à Art Basel um time formado exclusivamente por brasileiros, entre eles Tunga, Mira Schendel e Ana Maria Maiolino. Em sua opinião, essa ascensão se deve à inventividade e originalidade do produto nacional. “A arte contemporânea brasileira atrai o público, o mercado e colecionadores no exterior porque traz algo de novo. Ela está firmada no mercado internacional hoje, ao contrário da arte moderna nacional, que não acrescentou nada à história da arte moderna”, afirma.

Segundo ele, essa fase áurea da arte brasileira começou a partir das décadas de 1950 e 1960, quando nomes como Hélio Oiticica, Lygia Clark e Sérgio Camargo reverteram esse quadro. “Três, quatro, cinco gerações de artistas que beberam dessa nascente vêm desenvolvendo um trabalho que realmente, de fato, é inovador. Quem deu oxigênio a essa edição da feira foram os brasileiros”, conclui.

O contexto político e econômico do País também pode ajudar a explicar essa boa fase além das fronteiras. Akio ressalta que a economia sempre reflete a movimentação da arte. “E na região dos Brics, essa movimentação está crescente e importante. Não sei se o Brasil é a maior, mas certamente é uma grande potência do mercado. Não podemos nos esquecer do mercado de arte russa, chinesa e indiana, que é gigantesco”, completa, referindo-se à afirmação feita por Marc Spiegler, diretor da Art Basel, de que o mercado brasileiro de arte seria a maior potência da atualidade.

Leme faz eco ao discurso de Akio. Ele lembra que, enquanto os Estados Unidos e a Europa tentam se recuperar da crise que assolou as respectivas economias em 2008, o Brasil passa por um crescimento acelerado: “Todo mundo começa a olhar para cá, para o país que está em evidência”.

Antevendo essa tendência, a revista ARTE!Brasileiros preparou uma edição internacional, bilíngue, lançada durante a Art Basel Miami – mais precisamente na galeria de Alejandra Von Hartz, que valoriza a arte latino-americana.

Buena onda
Não é apenas a arte brasileira que está em foco, os colecionadores do País também vêm ganhando destaque. André Millan percebeu essa mudança em números: “Vendi de 60% a 70% das obras a brasileiros e de 30% a 40% para estrangeiros. Normalmente, o que acontece, ou o que acontecia até então, é que nós vendíamos de 80% a 90% para coleções estrangeiras e de 10% a 20% para coleções nacionais. Faço feira de arte há 15 anos e é a primeira vez que isso acontece”. Segundo ele, nas edições anteriores, os russos, os europeus e os norte-americanos consumiam a torto e a direito. “Houve uma retração desse público”, diz.

Akio relembra que, no ano da crise mundial, poucos colecionadores americanos – da Califórnia e de Nova York – vieram prestigiar a feira em Miami. Ele afirma que as vendas, na época, foram concretizadas por consumidores da América Latina: “Em 2009 foi melhor, com um retorno gradual de colecionadores e alguns museus norte-americanos”. Em 2010, os colecionadores dos Estados Unidos estavam de volta, mas com uma diferença. Segundo Akio, com uma nova mentalidade de consumo: “Hoje, eles pensam mais antes de comprar. Negociam, olham currículos. Enfim, estudam mais para adquirir uma obra”. Mas os latino-americanos se mantêm firmes.

A onda latino-americana parece estar mesmo tomando força. Luciana Brito chama a atenção para a grande quantidade de galerias brasileiras que estavam presentes na Art Basel Miami de 2010 e de como outras feiras internacionais pretendem dedicar espaço às obras produzidas pelo continente. “A ARCO, de Madri, está fazendo uma seção especial focada na arte latino-americana. A Armory, em Nova York, que acontece em março, também vai ter um espaço dedicado à arte da América Latina. Isso quer dizer que existe uma atenção muito especial para essa produção e, lógico, que o Brasil é a maior presença”, diz.

Para dimensionar essa importância, Akio cita a curadora da Tate Gallery, de Londres, Tanya Barson. “Como ela disse: ‘Um quarto de todas as obras da coleção da Tate com artistas nascidos depois de 1985 são da América Latina, mais do que artistas da América do Norte. O comitê de aquisição da América Latina, para Tate, é um dos maiores do mundo, com mais de 40 membros. No início, pensamos que queríamos ter uma visão mais ampla da arte contemporânea, e a América Latina fez sentido por causa do histórico’.” A declaração de Tanya foi dada à The Art Newspaper durante a Frieze Art Fair, em Londres, em outubro de 2010.

ARTE!BRASILEIROS AGORA EM EDIÇÃO INTERNACIONAL
A revista ARTE!Brasileiros, publicação bimestral que circula junto à revista Brasileiros, ganhou uma versão internacional bilíngue (inglês e espanhol). O lançamento aconteceu durante a Art Basel Miami(EUA), em 4 de dezembro de 2010, em uma das galerias mais importantes da cidade, a Alejandra von Hartz, localizada no Art District.Na ocasião, a galeria abrigava exposições da artista argentina construtivista Marta Chilindrón e do brasileiro Henrique Oliveira, autor da obra A Origem do Terceiro Mundo(2010), exposta com enorme sucesso na 29a Bienal de São Paulo, capa da edição nacional, e da instalação Artifical Painting(2010), cujo detalhe ilustra a capa da versão internacional.

Prestigiaram o lançamento da revista a prefeita de Miami, Matti Herrera Bower, e, representando o Consulado Brasileiro em Miami, o cônsul-geral adjunto Luís Fernando Abbott Galvão. Além de Dan e Kathryn Mikesell, do The Fountainhead Residency, de Miami; do curador Luis Pérez-Oramas, do MoMA de Nova York; e de Rina Carvajal, integrante do grupo de curadores internacionais da 29a Bienal de São Paulo. Também compareceram Tami Katz-Freiman, curadora do Haifa Museum of Art; David Dadone e Petra Sertic, ele diretor executivo e ela curadora associada do Boulder Museum of Contemporary Art; Reuben e Joan Baron, curadores internacionais; e Oscar Roldán-Alzate, curador do Museu de Arte Moderna de Medellin.

O colecionador Emilio Calleja e o artista e produtor Othón Castañeda, ambos integrantes da Feira Arteamericas de Miami, estiveram presentes e convidaram a publicação para participar da próxima edição da feira que ocorre em março.

Em Miami para a feira, João Camargo e Augusto Lívio Malzoni, dois expressivos colecionadores de São Paulo, passaram por lá. Além de artistas como Márcia Grostein, que há décadas vive em Nova York, Laura Vinci e Artur Lescher, radicados em São Paulo.

A iniciativa é inédita. No mercado editorial brasileiro, apenas revistas de bordo dispõem de versões bilíngues. O objetivo é levar o panorama da arte brasileira, sua diversidade, a enorme produção da arte contemporânea, as tendências do mercado, a agenda de eventos, as exposições, as feiras e os artistas para algumas cidades-chave do mundo onde o Brasil tem se tornado alvo de curiosidade e de admiração. Buenos Aires, Caracas, Miami, Nova York, Londres, Lisboa, Madri, Roma, Milão, Paris, Berlim, Basileia, Tóquio e Xangai serão os próximos destinos da edição internacional, com circulação de 25 mil exemplares.

A equipe de colaboradores da ARTE!Brasileirosinclui nomes como Leonor Amarante, curadora de bienais e editora da revista; Fábio Magalhães, museólogo e crítico de arte; Rodrigo Naves, crítico, historiador e professor; Adélia Borges, crítica de arte; Tereza de Arruda, curadora e crítica de arte; Rubens Fernandes Jr., jornalista, crítico e curador; Raul Córdula, artista plástico e professor de História da Arte; Jacques Leenhard, filósofo e diretor de estudos da École des Hautes Études en Sciences Sociales de Paris; Marcelo Araújo, diretor da Pinacoteca do Estado; Nirlando Beirão, jornalista; Silas Martí, jornalista especializado em artes visuais; Ana Maria Ciccacio, jornalista; Cauê Alves, museólogo e crítico de arte; Francisco Alambert, historiador e crítico de arte; Marco Aurélio Jafet, administrador de arte com título de MFA pela Columbia University (NY); Ana Cândida Vespucci, jornalista; e artistas plásticos, como James Prades, Alex Flemming, Laura Vinci, entre outros.


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