Madri é uma festa. Apesar do pepino, da crise financeira e da derrota do Partido Socialista Obrero Español (PSOE), a capital espanhola está cada vez mais alegre.
A derrota de Zapatero já está sendo assimilada pelo PSOE. Os escombros de 22 de maio nas eleições municipais receberam remendos na forma da candidatura de Alfredo Pérez Rubalcaba, ministro do Interior, indicado por José Luis Rodriguez Zapatero como candidato a substituí-lo.
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O caso do pepino se transformou na crise do broto de feijão que, pela culatra, atingiu a Alemanha, de onde vieram as apressadas acusações contra os agricultores espanhóis e seus pepinos. Centro da polêmica, a bactéria E. coli não partiu da Espanha, mas foi, sim, gerada nas plantações de broto de feijão no mesmo território germânico onde causou estragos mortais.
Já a crise financeira continua a rondar insistente e ameaçadora, agora com os espetaculares conflitos gregos assombrando a vizinhança vulnerável. Mesmo assim, a capital espanhola está esplendorosa. E, principalmente nestes meses do ano, disputa com Paris a preferência dos turistas como porta de entrada da Europa. O clima é cúmplice, as noites são agradáveis e, durante o dia, o sol aquece os parques e ilumina fachadas e monumentos.
Nesse clima, a PHotoEspaña, em sua 14a edição, continua a crescer em importância, espalha arte por toda a cidade e atrai milhares de turistas aos museus e galerias. O mais importante festival internacional de fotografia e artes visuais mobilizou mais de 300 artistas em quase 60 exposições. Retrato foi o tema escolhido pelo curador Gerardo Mosquera, crítico e historiador que foi o curador do Panorama da Arte Brasileira, em 2003.
Com a pompa de um reinado, o festival foi inaugurado pela rainha Sofia da Espanha, no Real Jardim Botânico de Madri, onde ela viu De cara para o tempo, dos fotógrafos Esther Ferrer e Pere Formiguera, da Espanha; Péter Forgács, da Hungria; Kan Xuan, da China; e Lucas Samaras, da Grécia. Uma babel da fotografia.
Fotógrafos do mundo todo. Do Brasil, Claudia Jaguaribe expôs na Galeria Blanca Soto, no Festival Off, o evento paralelo, suas excelentes paisagens do Rio de Janeiro.
Imperdível também a mostra O Louvre e seus visitantes, do brasileiro Alécio de Andrade, que morou na França, onde morreu em 2003. Membro da lendária Agência Magnum, ele fotografou para a Elle e para a Newsweek.
Mais brasileiros por lá, o baiano Alvaro Villela e seus quilombolas da Chapada Diamantina, e Pedro Motta e suas caixas d’água. Ambos na exposição Peso e Leveza. Fotografia latino-americana entre o humanismo e a violência.
Mas não há só fotos nas paredes da PHotoEspaña. Incríveis os retratos de Fayum, feitos entre os séculos I e IV depois de Cristo, pinturas de rostos de egípcios que eram enterrados juntos com as múmias. São considerados os primeiros retratos conhecidos. Foram encontrados em El Fayum, perto do Cairo, em 1615.
O prêmio PHotoEspaña, o mais importante do festival, que já foi entregue para mitos como Robert Frank e Josef Koudelka, neste ano coube ao alemão Thomas Ruff, que participou da 1000 Caras/0 Caras/1 Rostro junto com a norte-americana Cindy Sherman, e a obra do mexicano Frank Montero. Cindy Sherman, recentemente famosa por ter o recorde de preço de venda de fotografia – US$ 3.89 milhões em leilão, em maio na Christie’s – com seus autorretratos, foi a 1000 Caras. O mexicano foi o 1 Rostro e Ruff – o O Caras – foi premiado pela sua proposta de despersonalização de seus retratados. Figuras anódinas em uma alusão aos registros superficiais da burocracia do dia a dia, como os documentos de identidade. Gusto es gusto. Ruff diz que: “A foto que faço de uma pessoa não tem nada a ver com ela. A imagem adquire uma realidade própria”. Prêmio à despersonalização.
*O repórter viajou a convite do Escritório de Turismo da Embaixada da Espanha, da PHotoEspaña e da Ibéria- Líneas Aéreas de España.
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