Os homens estão perdidos. É o que todos dizem. As mulheres transam com quem querem, a hora que querem e ainda ganham mais dinheiro que eles. Os homens estão vagando nesse limbo moderno, sem saber para onde ir e muito menos com quem ir.
Tenho um amigo paulistano ultramoderno, supercantor de rock, superartista plástico de coisas muito ultraloucas, que na semana passada me convidou para jantar e disse: “Como é que eu vou ter um filho com essa mulher? Ela já transou com muitos caras!”. Tenho outro amigo, superinternacional, viajou o mundo, experimentou drogas, pegou modelos internacionais, que me confidenciou: “Eu queria encontrar alguma mulher tipo a minha mãe, sabe?”.
A mulher se modernizou e o homem não acompanhou esse fenômeno? Pior: a mulher também não acompanhou a própria transformação e anda se sentindo tão ou mais perdida que os homens.
Adoraríamos acreditar verdadeiramente em Deus, ter transado com menos idiotas “one night stand” e preferir homens por seus valores familiares e de caráter. Mas na verdade a gente se sente sozinha pra caramba nesse mundo maluco, a gente não consegue riscar da nossa listinha aqueles imbecis que gozaram em dois minutos e foram embora sem nem dar bom dia e ainda nos atraímos por rapazes de carros 4×4 com banco de couro.
Somos sexuais, interesseiras e com poucas esperanças. Mas somos também incríveis. Largamos facilmente um rico idiota por um pobre que transe gostoso e leia Drummond. Largamos facilmente uma vida mundana por um amor que possa nos trazer filhos e casas com cerquinhas brancas. E nos benzemos todas as vezes que chegamos intactas em casa, mesmo depois de dirigir bêbadas e com muito sono.
A única verdade é que somos confusas, malucas e contraditórias. Mas queremos o amor. Isso nós queremos mesmo, não é mentira. Algumas dão pra meia cidade atrás dele e outras casam com o namoradinho do colegial, mas estamos procurando a mesma coisa. Amor, sempre o amor.
Na verdade, nós, mocinhas, estamos na lama. As que casaram com os namorados da faculdade e engravidaram antes dos 30, morrem de inveja das que viajaram o mundo e viraram diretoras de grandes empresas. As diretoras viajadas que ainda esperam ansiosas por um período mais tranquilo para engravidar não podem ver uma loja com roupinhas de bebê que precisam segurar o choro. E as que conseguiram ser as duas coisas (casaram, engravidaram e ainda viraram grandes profissionais) estão desesperadas para passar um mês em Cancun sem olhar para a cara de ninguém.
Podemos sim dar pra quem quisermos e odiamos homens machistas que nos diminuem por isso Mas lá no fundo de nossas almas falsamente libertárias mora também uma voz machista que grita em nossos ouvidos culpados: “Ninguém vai casar com você, ô piranhuda”.
Queremos rapazes sensíveis, artistas e descolados, mas esses quase nunca nos dão a impressão de um futuro promissor para nossos rebentos. Mas daí, quando aparece um bom partido, um tipinho médico boa praça, sentimos falta dele saber conversar sobre rock indie e usar tênis bacanudo da Osklen. Exigentes e solitárias…
Solidão, solidão e mais solidão Até que desencanamos de futuros promissores e rapazes altamente descolados e acabamos dando uma chance para aquele gordinho semidébil. E até esse desgraçado nos dá o cano no dia seguinte.
Se feminilidade para você for unhas sempre impecáveis, dotes culinários da vovó e energia de sobra ao final do dia para ser apenas doce e paciente, estamos sim mais masculinizadas. Mas se ser mulher para você for aguentar um trânsito maldito, um chefe escroto e uma existência complexa, estamos mais fêmeas do que nunca.
O que queremos de vocês, afinal? Filhos, cerquinhas brancas e o status de casada? Não. Queremos então um sexo frugal em uma sexta solitária, um papo furado num almoço perdido em uma quarta fria, um parceiro para uma viagem de verão e depois tchau e “bença”? Também não. Queremos apenas uma coisa: que não se assustem.
Saibam que transamos sim mais do que a mãe de vocês, mas nem por isso deixamos de ser românticas e sonhar com coisas bem tradicionais como suas avós.
Queremos que paguem a conta do jantar, mesmo sabendo que naquele mês ganhamos mais dinheiro que vocês.
Queremos que nos tratem de igual para igual, mas, principalmente, de homem para mulher. Vocês são mais homens que nós. Nós ainda somos mulheres.
E nós ainda precisamos tanto de vocês.
*Paulistana de 32 anos, é publicitária, escritora e roteirista. Autora de A mulher que não prestava e Tô com vontade de alguma coisa que eu não sei o que é, ambos da Panda Books, além do infanto-juvenil A menina que pensava demais, pela Pensamento Cultrix, entre outros. Escreve o roteiro do programa Amor & Sexo, da TV Globo.
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