Com índices de escolaridade superiores aos dos homens, as mulheres brasileiras continuam atrás quando analisados o rendimento e a inserção no mercado de trabalho, segundo a pesquisa Estatísticas de Gênero publicada nesta sexta-feira (31) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O material faz uma análise do censo realizado pela entidade em 2010.
Os dados do estudo mostram principalmente que, mesmo estando à frente em alguns índices escolares, as mulheres brasileiras ainda estão atrás dos homens na hora de conseguir um emprego ou se posicionar na carreira: além de terem menor taxa de analfabetismo, de 9,1% contra 9,8% dos homens, as mulheres chegam mais ao nível superior, com uma taxa de 15,1% de frequência na população de 18 a 24 anos, enquanto os homens somam 11,3%. Também no ensino médio, as mulheres estão mais presentes na idade escolar certa, de 15 a 17 anos, com 52,2% de frequência, contra 42,4% dos homens.
Outro indicador que aponta maior escolarização feminina é a taxa de abandono escolar precoce, que contabiliza os jovens de 18 a 24 anos que não concluíram o ensino médio nem estavam estudando. Esse percentual chega a 31,9% entre as mulheres e 41,1% para os homens. Apesar desse cenário, o rendimento mensal médio das mulheres equivalia a 68% do masculino, em 2010.
Para a coordenadora de População e Indicadores Sociais do IBGE, Bárbara Cobo, a delegação de tarefas às mulheres prejudica a igualdade no emprego e na renda. “Por motivos que vão além das políticas educacionais e de mercado de trabalho, você não vê essa maior escolarização das mulheres sendo refletida em inserção no mercado de trabalho. Um dos principais motivos é a questão da maternidade. A mulher ainda enfrenta a questão da dupla jornada e, muitas vezes, os cuidados com pessoas da família e serviços domésticos ainda estão substancialmente a cargo delas”, analisa.
Bárbara destaca que mulheres e homens têm salários parecidos no início da carreira, mas as diferenças se agravam ao longo da vida. “O desempenho dela depende da escolarização, mas também depende de políticas públicas que permitam que tenha onde deixar as crianças para trabalhar e da legislação trabalhista. Essa parte também pesa a partir do momento que as licenças maternidade e paternidade são muito diferenciadas. Em cargos de direção, você vê nitidamente a diferença de acesso entre homens e mulheres”, disse a pesquisadora.
Em números absolutos, a pesquisa mostrou rendimento médio para os homens de R$ 1.587, contra R$ 1.074 das mulheres. Em 2000, a desigualdade era ainda maior, com mulheres recebendo 65% do rendimento médio dos homens. Essa melhora, no entanto, não se deu em todas as partes do país, já que, no Norte e Nordeste, a taxa caiu de 71% e 72% para 69% e 68%k, respectivamente. Os homens do Sudeste eram o grupo com maior renda, em 2010, com R$ 1.847, enquanto as mulheres do Nordeste tinham a menor, de R$ 716.
Segundo a pesquisa, Cuiabá é a capital em que a renda feminina chega mais perto da masculina, com 80%, enquanto em Curitiba a proporção fica em 63%. Entre 2000 e 2010, apenas Porto Velho e João Pessoa tiveram aumento da desigualdade de renda, com queda de 72% para 67%, na cidade nortista, e 71% para 69% na nordestina.
Mulheres negras
Ainda de acordo com o IBGE, a taxa de analfabetismo caiu de forma mais acelerada entre as mulheres pretas e pardas entre 2000 e 2010. o indicador para ambas ainda é mais do que duas vezes maior do que o entre as mulheres brancas: no ano 2000, 12,9% das mulheres brasileiras com mais de 15 anos não sabiam ler nem escrever. O percentual caiu para 9,1% em 2010, aumentando a vantagem que já era observada em relação aos homens, que tiveram redução de 13% para 9,8%. Entre as mulheres brancas, a taxa diminuiu de 8,6% para 5,8%.
Quando analisadas as mulheres pretas, a queda se deu de forma mais intensa, de 22,2% para 14%, mas o patamar ainda permanece 8,2 pontos percentuais acima das brancas. As mulheres pardas também tiveram uma redução mais expressiva que as brancas, de 17,9% para 12,1%.
Com a queda, a taxa de analfabetismo entre as mulheres pretas passou a ser menor que a dos homens que se declararam da mesma cor (de 20,9% para 14,2%). O analfabetismo entre os homens pardos também foi menor em 2010, com redução de 18,5% para 13,2%.
Com agências de notícias
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