A Universidade de São Paulo é um patrimônio da história do Brasil. Criada em 1934, viveu uma fase de euforia quando teve em seu quadro de professores os franceses, hoje mitológicos, Roger Bastide e Claude Lévi-Strauss. Padeceu, de 1937 a 1945, sob o Estado Novo de Getulio Vargas. O interventor em São Paulo, o também mitológico, Adhemar de Barros ameaçou fechar a Faculdade de Filosofia, em 1938.
Com o golpe militar de 64, a USP amargou uma convivência com a repressão facilitada por reitorias mais que coniventes. O reitor de 1963 a 1969 foi Luís Antônio da Gama e Silva que, em 1967, deixou o cargo a seu vice para ser ministro da Justiça de Costa e Silva, o segundo general-presidente. Gama e Silva, conhecido como Gaminha, foi o autor, redator e locutor do AI-5, o ato que, em 13 de março de 1968, acabou com os resquícios de democracia existentes e explicitou, sem um pingo de vergonha, por que uma ditadura é uma ditadura.
O reitor seguinte, Miguel Reale, apesar de ter participado da elaboração da Emenda Constitucional no 1, que em 1969 consolidou o regime militar, não chegava, para sorte de seu currículo, aos pés de um Gaminha. Mesmo assim, foi em sua gestão que o estudante de Geologia Alexandre Vannucchi Leme foi preso dentro da Cidade Universitária e levado ao DOI-CODI, onde foi torturado e morto, em março de 1973. Apesar disso, Reale era conhecido como homem de diálogo.
A manifestação retratada aqui nestas páginas foi a primeira de 1977, ano que iniciou a derrubada do regime militar. Apesar de merecerem respeito, esses estudantes eram então chamados, por uma opinião pública raivosa, comunistas e baderneiros.
E é a mesma opinião pública irada, raivosa que trata os estudantes da USP de hoje – de maconheiros, mimados e filhinhos de papai.
Apesar dos tempos serem outros, hoje como antes, a USP não é caso de polícia. Os estudantes de hoje também merecem respeito. A USP é caso de diálogo. E isso tem de partir da reitoria.
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