Depois do livro As Veias Abertas da América Latina, da trilogia Memória do Fogo, das crônicas de Espelhos e de outros títulos publicados no Brasil, o escritor e jornalista uruguaio Eduardo Galeano acaba de lançar Os Filhos dos Dias. Inspirado na sabedoria maia, ele criou uma espécie de calendário, em que para cada dia existe uma história. São 366 textos, inclusive o dedicado a 29 de fevereiro, dia de anos bissextos, que tratam de assuntos ocorridos pelo mundo de maneira intensa e, ao mesmo tempo, sensível. Ou seja, eles transcendem fronteiras e abraçam a diversidade de povos e culturas.
Escrito e reescrito 11 vezes, o livro foi concebido depois de Galeano ter escutado em uma comunidade maia, na Guatemala, a seguinte frase: “Somos os filhos dos dias”. Ele acrescenta: “Os cientistas dizem que os humanos são feitos de átomos, mas a mim um passarinho contou que somos feitos de histórias”. Com formato de diário coletivo, Os Filhos dos Dias traz episódios marcantes, como a morte da espiã Mata Hari, ocorrida em 3 de agosto de 1917, e o primeiro filme exibido pelos irmãos Lumière, em 19 de março de 1895. Mas há histórias de personagens anônimos e casos pouco conhecidos – leia nesta página o que Galeano selecionou para o dia 1 de setembro.
Perseguido pela ditadura uruguaia instalada no país nos anos 1970, Galeano acabou se exilando na Argentina e, mais tarde, na Espanha. Começou a trabalhar como jornalista ainda na adolescência, aos 14 anos, quando publicou sua primeira charge política no jornal El Sol. Ele sonhou em ser desenhista ou jogador de futebol, suas vocações, como define, não realizadas. “Jogador porque fui o melhor nas noites, enquanto sonhava, e o pior durante os dias, na dura realidade; pintor e desenhista porque o talento não dá, mas reivindico meu direito a sentir prazer desenhando meus livros”, diz. Sim, é Galeano quem ilustra as páginas de seu novo livro.
Os Filhos dos Dias é literatura mansa, que toma fôlego e embriaga a mente com dores e delícias. A obra tem a gênese de livros anteriores do autor, que parece ter bebido ainda mais da fonte mais cara a ele: a humanidade tal como ela é. “Quero ajudar a recuperar o brilho do arco-íris humano, que é mais belo que o arco-íris do céu, e nisso ando há muito tempo e cada vez mais entusiasmado por tal desafio”, diz o uruguaio.
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