Nesta segunda-feira, em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, o prefeito Fernando Haddad defendeu a ação da PM nos protestos contra o aumento da passagem de ônibus, que aconteceram na semana passada. Disse que para haver diálogo, os manifestantes precisam “renunciar à violência”, e que a PM tem que seguir protocolos. O prefeito disse também que a tarifa está sendo reajustada abaixo da inflação, e que o Movimento Passe Livre não reconhece este fato. A questão, para o movimento, é outra: o preço do transporte público interfere no direito básico do cidadão de ir e vir. Portanto, será que este não é um caso em que deve haver subsídios do Estado para que o valor se mantenha mais baixo?
A Brasileiros acompanhou a manifestação de sexta-feira. Leia o relato de como foi:
“Se a tarifa não baixar, a cidade vai parar”, gritaram, na última sexta-feira, alguns milhares de manifestantes em São Paulo. E a cidade parou. No segundo dia de protestos contra o aumento da passagem de ônibus (de R$ 3 para R$ 3,20), a capital teve novos confrontos entre a Polícia Militar e manifestantes, e registrou 226 km de congestionamento. Em gesto raro, ativistas tomaram a Marginal Pinheiros; em gesto menos raro, correram de bombas. Ao fim, conseguiram terminar o ato em clima relativamente pacífico.
A Brasileiros, com dois jornalistas, acompanhou todo o percurso do protesto, que começou no Largo da Batata às 17h e terminou, no mesmo local, por volta das 20h. Ainda de dia, o grupo que se reunia na concentração era pequeno, quase do mesmo tamanho que o grupo de jornalistas e fotógrafos – aparentemente sedentos por novos conflitos. Um dos representantes do Movimento Passe Livre ressaltava, de saída: “Não vamos dialogar. Vamos continuar as manifestações até o preço voltar a R$ 3”.
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Quando saiu, depois das 18h, o ato já reunia mais de mil pessoas, a maioria jovens, que pararam a av. Faria Lima e seguiram até a Rebouças. Estima-se que 4.000 pessoas tenham participado do protesto. Os gritos mais ouvidos eram: “Mãos para o alto, R$ 3,20 é um assalto” e “Ô motorista! Ô cobrador! Me diz aí se o seu salário aumentou”. Sobrou também para o prefeito: “Haddad, cuzão, vai pegar busão”.
A tensão começou no fim da avenida Eusébio Matoso, quando manifestantes surpreenderam e seguiram rumo a Marginal Pinheiros, parando as pistas expressa e local. Mesmo acompanhando de perto, é muito difícil dizer ao certo quem incitou a violência. O fato é que a PM estava pronta para o confronto, assim como uma minoria dos manifestantes que se mostrava bem disposta a brigar. Pelos relatos ouvidos, no entanto, quem atirou primeiro foi a polícia, para que o ato saísse da Marginal.
Os jornalistas correram junto aos manifestantes, respiraram gás e também saíram tossindo. A situação aparentemente se acalmou ainda na Marginal, mas voltou a ficar tensa nas ruas do Alto de Pinheiros, quando mais bombas estouraram e centenas de polícias barraram a passagem para algumas ruas. Quando alguns jovens começaram a jogar pedras e se prepararam para fazer barricadas, organizadores do protesto impediram, dizendo: “Vamos continuar até o fim, com calma”.
A demonstração de força da PM lembrou os desfiles de 7 de Setembro: escudos, cassetetes, armas, motos e dezenas de carros com as sirenes ligadas criaram o clima do final do protesto. Os homens do governo batiam os cassetetes nos escudos e marchavam em linha. Logo surgiram novos gritos: “Polícia para quem precisa! Polícia para quem precisa de polícia!”.
Nesta terça-feira, dia 11, o Movimento Passe Livre promete continuar as manifestações na cidade, agora na avenida Paulista. A cidade vai parar de novo; a polícia estará lá de novo, sempre muito bem armada; e resta saber se haverá diálogo entre as partes, ou ainda se o movimento pode ter força para reverter uma decisão de prefeito e governador. Em Porto Alegre, neste ano, o reajuste da passagem foi suspenso, após uma ação cautelar de vereadores. Mas será que os vereadores de São Paulo estão dispostos a se meter neste vespeiro?
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