O bom humor tomou conta do início da Flip nas duas mesas da manhã desta quinta-feira (2). A primeira delas, Novos traços, reuniu cinco jovens amigos de outras rodas: os quadrinhistas Rafael Grampá, Rafael Coutinho (ou “o filho do Laerte”) e os irmãos gêmeos Rafael Moon e Gabriel Bá, além do escritor e designer Joca Reiner Terron na mediação. Em um clima de descontração, a leitura que os quadrinhistas fizeram de suas histórias foram marcadas por muitos “pof”, “zoom”, “wowwwwwww” e muitas outras onomatopeias que divertiram a plateia. Os quadrinhistas em cena representam a nova geração que está alçando a produção brasileira de quadrinhos a novos voos, entre eles o reconhecimento no mercado internacional e a aquisição de prêmios, como o Eisner, de importância sumária no mundo dos quadrinhos, com o qual Bá, Moon e Grampá foram laureados em 2007 com a coletânea 5. [nggallery id=14633] LEIA TAMBÉM:
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O último poemaDeixando um pouco de lado a questão “quadrinho é literatura?”, que rodeou a Flip quando saiu sua programação, a conversa se focou nas trajetórias dos quadrinhistas: como tudo começou e os projetos atuais. Porém, um ponto em comum entre escritores e quadrinhistas não pôde deixar de ser comentado: quando Grampá foi convidado pelos gêmeos para desenhar com eles, ouviu a seguinte máxima: “Ganhar dinheiro pra quê? Vem fazer quadrinhos!”, o que tirou risadas do público.Mas a diversão foi garantida mesmo pelo veterano Domingos Oliveira, dramaturgo e cineasta de obra extensa que foi o centro das atenções na mesa 2, homônima a um de seus filmes, Separações. O mediador Paulo Roberto Pires e Rodrigo Lacerda, o outro convidado do debate, bem que tentaram, mas Domingos e seus insights tragicômicos foram tão brilhantes que a conversa tomou o rumo que ele queria: em vez de falar do fim do amor (tema que alimenta a maioria das artes), falou-se do amor, assunto que Domingos domina muito bem, obrigado.O cineasta começou lendo um texto que havia escrito especialmente para a mesa, de tom completamente autobiográfico: “Mesmo após fazer um filme sobre separações, me casar e me separar cinco vezes, eu não sei o que é isso”. Domingos, cujos óculos escorregavam do nariz a todo instante, fez indagações (as quais ele não encontrou respostas plausíveis) sobre o tema, citou Dostoiévski e a liberdade, comparou o amor com a morte e falou de seu novo filme, Inseparáveis – continuação de Separações (2002).Seu discurso encantou ao falar o que todo mundo sabe e ninguém sabe explicar – o que fez com que todos os presentes no auditório e no telão se identificassem, desde os mais jovens estudantes até os mais velhos intelectuais. Afinal, como diria o apaixonado escritor Caio Fernando Abreu (1948-1996), “o bicho homem não faz outra coisa a não ser pensar no amor. Até as relações de produção, a luta de classes, a ecologia, o jogo pelo poder: tudo, questão de amor” – o que Domingos, com sua voz arrastada, confirmou nesta manhã de maneira muito espirituosa.
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