Poucos carros nas ruas e raras gentes nas calçadas, caminhando devagar com tempo até para conversar sem pressa com os conhecidos, nenhum barulho de obras, sirenes ou helicópteros. Nas manhãs de domingo, São Paulo parece outra cidade, uma cidadezinha de interior.
Depois de uma semana que passei entre o apartamento e o hospital, para onde tive que voltar duas vezes após a cirurgia, senti um raro prazer ao sair para a rua logo de manhã cedo. Ainda andando com dificuldade, reparei nas pessoas e nas vitrines, vi o céu muito claro de outono, senti uma nesga de sol esquentando a alma.
Apesar de morar próximo ao epicentro da monumental Parada Gay, onde eram esperadas 3,5 milhões de pessoas na avenida Paulista, me senti em Porangaba num dia de feriado nacional.
No fim da manhã, com netos e tudo, a família se reuniu no Café Santo Grão, bem em frente ao meu prédio, onde nativos e gringos elegantes disputam espaço com cachorros idem, conversam baixinho e lêem os jornalões de domingo, observando o movimento na rua como se estivessem em Paris.
Porangaba ou Paris, São Paulo, dependendo do dia e do lugar, são muitas cidades ao mesmo tempo. Pena que na correria do dia a dia a gente nem repare nisso e só se queixe das mazelas da metrópole, como se aqui não fosse um dos melhores lugares do mundo para se viver.
E o tempo neste lugar corre sempre tão depressa que não nos deixa aproveitar o que esta cidade tem de bom e de bonito. Paulistano de verdade, como sabemos, só pára por ordem médica
Uma vez, quando ainda muito jovem, escrevi um artigo no velho Estadão a que dei um título que dizia mais ou menos assim: “Amo esta cidade com todo ódio”.
Queria resumir nesta frase o sentimento de quem vive numa cidade de tantos contrastes. Sonhava em ir embora para outros mundos. Mas, depois depois de percorrer boa parte deles, hoje tenho certeza de que não gostaria de viver em nenhum outro lugar.
Não quero mais trocar nem de bairro, nem de amigos, de barbeiro, farmácia, supermercado, padaria, banca de jornal café, boteco, tudo isso que faz o pequeno universo de cada um de nós depois de uma certa idade.
Está bom assim. O que me restar de vida, se possível com boa saúde, quero passar aqui mesmo, de preferência com este gosto bom de manhã de domingo, com as mesmas pessoas, tomando o mesmo café expresso, enquanto os netos bagunçam a mesa e nem prestam atenção no que falo.
É assim mesmo. A gente percebe que está ficando velho não é quando já não consegue ouvir o que os outros falam. É quando os outros não prestam atenção no que a gente está falando.
Os mais comentados
Esta foi uma semana bem fraca aqui no Balaio porque ainda não consigo ficar muito tempo sentado diante do computador, fiquei sem assunto e dediquei mais tempo a cuidar da saúde do que ao trabalho, pelas razões que já contei aos leitores.
Com poucos posts publicados, caiu também a participação dos leitores, como se verá no levantamento que publico todos os domingos sobre os três assuntos mais comentados da semana no Balaio, na Folha e na Veja.
Balaio
Boteco do Balaio: 66
Caso S.: vexame da Justiça: 64
Site de boas notícias: 60
Folha
Greve na USP: 105
Voo AF 447: 53
Petrobras: 52
Veja
Tragédia aérea: 84
Cláudio de Moura Castro: 28
James heckman: 19
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