Manifestação lembra os 50 anos do comício da Central do Brasil

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Cartazes na manifestação no Rio. Foto: Fernando Frazão/ ABr

Exatos 50 anos depois do comício da Central do Brasil, feito pelo ex-presidente João Goulart (Jango), no dia 13 de março de 1964, duas semanas antes do golpe militar que colocaria o país sob uma ditadura de 21 anos, militantes de partidos de esquerda, sindicatos e organizações estudantis fizeram manifestação nesta quinta para lembrar a data em que Jango anunciou as reformas de base que enviaria, em seguida, ao Congresso. Reformas que previam mudanças profundas no país, a começar pela reforma agrária, com desapropriação de latifúndios com mais de 500 hectares, e a encampação de refinarias de petróleo privadas.

Entre os participantes, o filho de Jango, João Vicente Goulart, que na época tinha 7 anos de idade. “Nós encontramos o Brasil nas mesmas condições, 50 anos depois, precisando reformar o Estado para que possamos avançar nas áreas social, econômica e política. É uma satisfação estar aqui com os sindicatos, partidos políticos e organizações estudantis. Tenho esperança de que, após 50 anos, as novas gerações possam, inspiradas nas raízes de nossa história, avançar e modificar o modelo social, econômico e político do país”, disse ele.

Presente à manifestação, o advogado Marcelo Cerqueira lembrou que também esteve no comício da Central do Brasil, ao lado de Jango, quando era vice-presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE). “O Brasil perdeu uma oportunidade enorme, que era fazer as reformas de Jango. Depois, o golpe militar, com apoio americano e da direita brasileira, levou à retirada de Jango, um grande brasileiro, que se sacrificou pelo país. Perdemos a chance de sermos desenvolvidos. Perdemos 21 anos”, disse Cerqueira, que atualmente faz parte da Comissão Estadual da Verdade do Rio de Janeiro.

Manifestantes carregam faixa no ato no Rio
Manifestantes carregam faixa no ato no Rio. Foto: Fernando Frazão/ABr

O líder do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), João Pedro Stédile, também participou da manifestação, que foi antecedida por um seminário, na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), intitulado 50 Anos do Comício da Central: o Brasil Que Perdemos com o Golpe Militar.

Stédile disse que “o Brasil perdeu várias oportunidades históricas de fazer uma reforma agrária verdadeira. O período em que chegamos mais próximo dessa possibilidade foi no governo João Goulart, quando assessorado por Celso Furtado, apresentou uma proposta fantástica, que teria mudado o Brasil, que era desapropriar todas as propriedades acima de 500 hectares, ao longo de 10 quilômetros de cada lado das rodovias federais, das ferrovias, dos lagos e açudes. Isso teria desenvolvido o país, criado um enorme mercado interno e nos tirado da crise. O Brasil seria hoje uma grande potência”.

As reformas de base de Jango previam as reformas bancária, fiscal, urbana, administrativa, agrária e universitária. Sustentava também a necessidade de estender o direito de voto aos analfabetos e às patentes subalternas das Forças Armadas, como marinheiros e sargentos. Previa, ainda, intervenção mais ampla do Estado na vida econômica do país e maior controle dos investimentos estrangeiros, mediante regulamentação das remessas para o exterior pelas multinacionais. Os partidos de direita e setores conservadores da sociedade argumentaram que Jango queria implantar o comunismo no país, e o depuseram no dia 1º de abril de 1964.


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