Manu múltiplo

Em 2011, o artista gráfico paulistano Manu Maltez foi surpreendido com a boa nova de que havia ganhado o prêmio Jabuti, na categoria ilustração, por sua adaptação livre do poema O Corvo (Editora Scipione), de Edgar Alan Poe. Nada mal para quem havia passado três anos com o projeto engavetado por imposição de editoras que esperavam dele uma adaptação ortodoxa e respeitosa com a obra-prima de Poe. “Tenho uma série de desenhos e gravuras sobre urubus e essas aves necrófagas me fascinam, são muito simbólicas. Eu já tinha essa ligação com o urubu, para chegar ao corvo foi um pulo”, brinca Manu.

Mas muito além da excelência nos traços, multifacetado, Manu também exibe seu talento em outras linguagens artísticas. Em 2011, ele lançou o livro infantil Meu Tio Lobisomem – uma História Verdadeira (Editora Peirópolis) e, no ano seguinte, o que classificou como “uma fábula sobre o nascimento do timbre do contrabaixo”, O Diabo é Mais Embaixo (Editora Scipione). O livro foi lançado com a apresentação de um espetáculo classificado por ele como “conto-concerto”, uma peça musical composta de narrador, um trio de contrabaixos e outros quatro instrumentos – violino, trompete, clarinete e trombone. Na ocasião do lançamento da adaptação de O Corvo, Manu concebeu espetáculo similar, Samba Corvo, onde exibiu no palco do Sesc Belenzinho (durante a reinauguração do espaço, em 2011), a escultura de um corvo de 3 m de altura.

Manu é formado em contrabaixo acústico, o famigerado rabecão, e se apresenta em vitrines da nova música de São Paulo, como a Casa de Francisca, a rede Sesc e a Casa do Núcleo. À frente da banda Cardume, lançou dois álbuns, As Neves de Kilimanjaro (2006) e Esse Cavalo Morto no Jardim (2009). Hoje, apresenta suas composições com o amigo, violonista e violeiro, Fabio Barros, à frente do Duo Marvada Carne.

Até 25 de março, a faceta de artista plástico de Manu pode ser conferida no restaurante Jorge, em exposição intitulada As colunas do Firmamento ou Tubulações muito Suspeitas, que reúne desenhos e intervenções no espaço. Ao receber o convite da curadora Regina Kutka, ele vislumbrou a possibilidade de interferir no espaço e, por duas semanas, após o expediente do restaurante, pintou as duas colunas com imagens de pássaros e peixes. “Achei que seria mais interessante fazer algo que envolvesse o espaço e atravessei madrugadas nesse trabalho solitário. As colunas acabaram tendo uma aproximação maior com a pintura do que com os desenhos, mas há uma unidade temática que liga as duas linguagens, pois em ambas represento seres do ar e da água”, explica ele, que, bem-humorado, comparou a experiência notívaga à rotina reclusa e assombrada do escritor interpretado por Jack Nicholson em O Iluminado, de Stanley Kubrick.


Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.