Você é patético, ó midiota!
Acredita que a ordem traz o progresso, e imagina que se reduzirmos a sociedade ao mínimo múltiplo comum estaremos a caminho da felicidade.
Por isso, exulta quando um juiz de província lhe dá a sensação de que a Justiça enfim, está alcançando os poderosos.
Mas o poder é leviano, e tende a se concentrar na proporção inversa à da diversidade que você tanto teme: quanto mais homogeneidade nas altas esferas do mando, mais próximos estamos da tirania.
Apanhe um livro de História e observe como todas as tiranias nasceram da amputação de divergências.
Quanto mais raso, mais homogêneo, mais consensual o sistema do poder, mais estúpido ele se torna, porque expele de suas vizinhanças a inteligência.
Acredite: a inteligência só viceja na diversidade, no desafio do pensamento divergente, na multiplicidade de escolhas.
Essa é a essência da democracia – o acordo possível entre os interesses desiguais, ou seja, o máximo divisor comum.
Como na matemática, nem sempre se alcança um máximo divisor comum, e muito frequentemente o cálculo conduz a um resultado múltiplo. Por isso se convenciona que, na democracia, é preciso fazer escolhas entre diversas possibilidades, que quase nunca são as ideais.
O contrário disso é aquele bando de celerados invadindo o parlamento para implorar por algemas para seus pulsos, sob o olhar complacente das autoridades de plantão.
Compare a cena com outro episódio, da semana anterior, em que adolescentes e jovens ocuparam escolas para exigir mais respeito com a educação, e veja como o poder sem inteligência foi intolerante com o reclamo legítimo dos estudantes e só faltou oferecer cafezinho aos trogloditas que se reuniram para exigir o fim da democracia.
De que lado você estaria, ó midiota?
Você ainda acredita que está em curso um processo de recuperação da moralidade nos negócios públicos?
Veja, então, o noticiário dando conta de que o inquilino do Planalto está negociando com seus pares do Congresso uma lei que descriminalize o “caixa 2” das campanhas eleitorais, anistiando aqueles que foram citados em delações de doadores arrependidos.
Agora observe os próximos acontecimentos: o inquilino do Planalto precisa se aliar à banda podre do Parlamento para evitar que o processo conduzido na primeira instância da Justiça Federal chegue à rampa do poder.
Mas a imprensa dominante, que conduziu o programa do impeachment, tem outros planos: criar as condições para uma eleição indireta, que colocaria no Poder Executivo alguém mais confiável.
Seria divertido, se essa aventura não tivesse assanhado os aloprados que pedem a volta da ditadura.
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