Manual do perfeito midiota – 50

Você ainda acredita que está em curso um processo de recuperação da moralidade nos negócios públicos?
Você ainda acredita que está em curso um processo de recuperação da moralidade nos negócios públicos?


Você é patético, ó midiota!

Acredita que a ordem traz o progresso, e imagina que se reduzirmos a sociedade ao mínimo múltiplo comum estaremos a caminho da felicidade.

Por isso, exulta quando um juiz de província lhe dá a sensação de que a Justiça enfim, está alcançando os poderosos.

Mas o poder é leviano, e tende a se concentrar na proporção inversa à da diversidade que você tanto teme: quanto mais homogeneidade nas altas esferas do mando, mais próximos estamos da tirania.

Apanhe um livro de História e observe como todas as tiranias nasceram da amputação de divergências.

Quanto mais raso, mais homogêneo, mais consensual o sistema do poder, mais estúpido ele se torna, porque expele de suas vizinhanças a inteligência.

Acredite: a inteligência só viceja na diversidade, no desafio do pensamento divergente, na multiplicidade de escolhas.

Essa é a essência da democracia – o acordo possível entre os interesses desiguais, ou seja, o máximo divisor comum.

Como na matemática, nem sempre se alcança um máximo divisor comum, e muito frequentemente o cálculo conduz a um resultado múltiplo. Por isso se convenciona que, na democracia, é preciso fazer escolhas entre diversas possibilidades, que quase nunca são as ideais.

O contrário disso é aquele bando de celerados invadindo o parlamento para implorar por algemas para seus pulsos, sob o olhar complacente das autoridades de plantão.

Compare a cena com outro episódio, da semana anterior, em que adolescentes e jovens ocuparam escolas para exigir mais respeito com a educação, e veja como o poder sem inteligência foi intolerante com o reclamo legítimo dos estudantes e só faltou oferecer cafezinho aos trogloditas que se reuniram para exigir o fim da democracia.

De que lado você estaria, ó midiota?

Você ainda acredita que está em curso um processo de recuperação da moralidade nos negócios públicos?

Veja, então, o noticiário dando conta de que o inquilino do Planalto está negociando com seus pares do Congresso uma lei que descriminalize o “caixa 2” das campanhas eleitorais, anistiando aqueles que foram citados em delações de doadores arrependidos.

Agora observe os próximos acontecimentos: o inquilino do Planalto precisa se aliar à banda podre do Parlamento para evitar que o processo conduzido na primeira instância da Justiça Federal chegue à rampa do poder.

Mas a imprensa dominante, que conduziu o programa do impeachment, tem outros planos: criar as condições para uma eleição indireta, que colocaria no Poder Executivo alguém mais confiável.

Seria divertido, se essa aventura não tivesse assanhado os aloprados que pedem a volta da ditadura.


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