O primeiro grande passo para enfrentar a segregação racial nos Estados Unidos foi dado por uma mulher negra. Em 1º dezembro de 1955, a costureira Rosa Parks se recusou a ceder seu lugar no ônibus para um branco. Há apenas 60 anos, a legislação de Montgomery, Alabama, nos Estados Unidos, obrigava os negros a dar preferência aos brancos no transporte público local. A prisão de Parks deflagrou um boicote aos ônibus, que durou um ano, até a revogação da lei. Sua atitude abriu caminho para o Movimento dos Direitos Civis, a favor da liberdade e da justiça, que teve Martin Luther King Jr. como um dos principais líderes.
A repressão racial se dá, ainda hoje, pela via da Justiça. É uma forma de institucionalizar o racismo. A máquina de encarcerar e matar negros é a chamada “guerra às drogas”. Uma das principais lideranças norte-americanas na luta pela reforma das políticas de drogas e no enfrentamento ao racismo é a ativista e advogada Deborah Peterson Small, 60 anos, graduada em Direito e Políticas Públicas pela Universidade de Harvard. Ela foi diretora para assuntos legais da New York Civil Liberties Union, dedicando-se aos direitos de pobres e presos e mais tarde dirigiu a área de políticas públicas e articulação comunitária na Drug Policy Alliance. Conheceu as entranhas do sistema que mantém presos 2,2 milhões de pessoas, a maior população carcerária do mundo, e compreendeu o mecanismo que transforma negros em suspeitos.
Com essa bagagem, Deborah fundou, há dez anos, a organização Break the Chains, que tem como missão sensibilizar lideranças e a comunidade negra para os efeitos perversos da guerra à drogas. No Brasil, a lógica é a mesma: o superencarceramento, com ajuda das políticas de drogas, mantém nas cadeias do País 515.482 pessoas. Dessas, 57% são negras e mais da metade é jovem (Infopen, 2014). Um quarto dos crimes se refere a entorpecentes. A polícia brasileira é também uma das mais letais do mundo. Segundo levantamento do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, as forças policiais mataram em 2015 o equivalente a oito pessoas por dia. A impunidade se repete no Brasil e nos Estados Unidos, onde 97% dos casos de violência policial não resultaram em condenação, de acordo com o site Mapping Police Violence, com dados de de 2015.
Brasileiros – Como a letalidade policial e a guerra às drogas contribuem para a violência contra a população negra?
Deborah Small – Em 2001, fui à África do Sul para a Conferência Mundial contra o Racismo, em Durban. Ali percebi as dimensões internacionais do problema. Vi que a guerra às drogas estava devastando pobres e negros, com altos níveis de letalidade policial. Também compreendi que as condições da população negra no mundo são muito similares: relações guiadas pelo racismo, pela colonização e exploração econômica. Em relação às políticas de drogas, temos enorme quantidade de dinheiro e de polícia focada em combater o tráfico de drogas, que é um “crime consensual”. As negociações sobre drogas são feitas por partes que concordam. Uma pessoa quer algo e a outra fornece. A finalidade dessa política é transformar essas partes em criminosas, permitindo que a polícia possa agir com violência até o ponto de matar.
O Brasil está passando, neste momento, por uma instabilidade política. Se o governo de Michel Temer se mantiver, o que a senhora acha que vai acontecer com as políticas afirmativas voltadas para a população negra?
Vão piorar. Isso está muito claro. O fato de Temer ter montado uma equipe ministerial sem negros e sem mulheres, ter feito cortes em muitos programas sociais iniciados no governo anterior, de a repressão policial estar aumentando e de o número de mortes estar crescendo, aponta para isso. Fiquei chocada ao saber que a letalidade policial é a segunda causa de morte no Brasil. Os números nos Estados Unidos não chegam nem perto do que está acontecendo aqui. Não se vê clamor da sociedade brasileira por isso (segundo o Fórum de Segurança Pública, a polícia matou, em 2014, 3.009 pessoas, o equivalente a um homicídio a cada três horas. A média de mortes causadas por policiais nos Estados Unidos, por ano, é de cerca de 360).
Por que as pessoas no Brasil não se sensibilizam com as mortes de jovens negros?
Em parte porque os próprios negros no Brasil foram obrigados a acreditar que os seus jovens são os inimigos, os traficantes e, por isso, mereceriam o que está acontecendo. O mais problemático não é a maneira como os não negros brasileiros se sentem acerca da letalidade policial contra os jovens negros. Mas como a população negra brasileira se sente em relação a isso. Há tantas comunidades negras que foram convencidas a pensar em seus próprios jovens como “o perigo”… Dessa forma, o único jeito que encontram para se proteger é deixando que a polícia entre nas comunidades e os mate. É o que está acontecendo. A polícia “pacificadora” é direcionada apenas às comunidades negras. Quem eles estão “pacificando”? Os jovens negros. Nessas comunidades, o fato de as pessoas se sentirem ok com isso é estranho para mim.
“O Brasil nunca será um País de primeira classe enquanto considerar natural tratar os negros como cidadãos de segunda classe”
Como abordar o racismo e a violência policial com as crianças negras?
O triste de viver num país racista é que suas crianças negras não chegam a ser elas mesmas por muito tempo. Meu neto agora tem 4 anos e meio. Ele não sabe que é negro. Ainda não sabe o que isso significa. Ele sabe que sua cor é marrom. Para ele, é só o que ele é, assim como outras crianças são de outras cores. A cor da pele, nesse momento da vida, não tem significado. Ele não vê limitações, não tem conversas sobre isso com outras crianças. O triste é que em algum momento, no futuro próximo, isso vai mudar. Ele vai perceber as coisas que eu percebi: que as pessoas reagem ao fato de ele ser negro e como isso aparece em diferentes espaços públicos. Assim que ele ficar um pouco mais velho, seu pai e eu teremos que falar com ele sobre violência. Terá de aprender que determinadas atitudes das pessoas serão tomadas pelo fato de acharem que ele é um ladrão. Terá que viver com a suposição de que, em qualquer lugar que ele for, suspeitas de crime e caos irão segui-lo. E que isso não tem nada a ver com quem ele é, ou como ele age, ou o que ele veste. As pessoas não prestarão atenção nesses detalhes.
Como isso se expressa?
Eu moro na Bay Area, Califórnia, um lugar supostamente liberal. Mas continuo assistindo a pessoas brancas segurarem firmes suas bolsas quando me cruzam na rua. É inconsciente. Elas nem notam que fazem isso porque vivem dentro de uma realidade na qual a negritude está ligada à criminalidade. Nessa situação, a população negra é involuntariamente responsável. Assim que vêem um negro, reagem automaticamente, entram em modo de autoproteção. Não importa como você aparenta, quantos anos tem. Porque essa é uma resposta programada. Isso é o que o racismo faz: você reage à simples presença de pessoas negras. Por exemplo, se eu vou a um caixa eletrônico e tem uma pessoa branca usando a máquina antes de mim, vou contar a distância que preciso manter dela para que não se sinta ameaçada por mim. Já percebi que os brancos não fazem isso. Nós, negros, passamos a vida, constantemente, fazendo esse tipo de calibragem.
Como é ser negro e viver em áreas de concentração de brancos no seu país?
É difícil. Você vai precisar se acostumar com o fato de que ser detido pela polícia é um componente da sua vida. Porque essa é a maneira com que a sociedade se estruturou. Isso tem menos a ver com crime e violência e mais a ver com o jeito com que nossos países lidam com a subjugação. É assim: não temos mais escravidão, mas continuamos tratando as pessoas como escravos, continuamos perseguindo, apreendendo, acorrentando, restringindo seus movimentos, explorando suas forças de trabalho.
A senhora sentiu isso no Brasil também?
Absolutamente. O tempo todo. Aqui no Brasil esse comportamento é ainda mais pronunciado. É um país que não está acostumado a ver negros frequentando espaços como hotéis e restaurantes, por exemplo. Te olham como se perguntassem: o que você está fazendo aqui? Acho curioso em certa medida. Porque é o oposto do que os brasileiros dizem de si mesmos. E é triste também. Com tudo isso que o Brasil está fazendo, com os Jogos Olímpicos, nunca será um país de primeira classe enquanto achar natural tratar os negros como cidadãos de segunda classe. Porque o mundo está cheio de pessoas negras. Eles não vão tolerar isso, não visitarão o Brasil e dirão a todos que não venham.
“É uma forma de autogenocídio. Um grupo de negros matando outro grupo de negros. Porque se convenceram de que são inimigos”
É uma situação extremamente cruel…
É cruel mas está no espaço da negação. Funciona como a dependência: as pessoas cometem racismo porque têm necessidade. Provavelmente pensam que não é um bom comportamento, mas não têm a habilidade de não fazer porque toda a sua identidade está associada a esse comportamento.
Sobre identidade, nos Estados Unidos basta uma gota de sangue negro para que a pessoa seja considerada negra. No Brasil, a identidade se dá pela autodeclaração de cor. Como isso se reflete?
Nos Estados Unidos a distinção é entre negros e brancos. No Brasil é entre negros e não negros. Ou seja, as pessoas podem escolher quem elas são dentro do espectro negro. Querem ser pardas? Querem ser morenas? Você tem várias categorias. Todas relacionadas a ser negro. É um desafio porque não é necessariamente como você se percebe na sociedade. Eu vi muito isso em Salvador. Você vê muita gente que não se identifica como negra, mas é tratada como negra pela sociedade. Por isso considero o movimento de empoderamento negro na Bahia tão interessante. Se eu fosse governante, trabalharia para que essa energia chegasse à polícia, o que poderá acontecer um dia.
O que aconteceria se esse movimento chegasse à polícia?
O que vocês têm aqui é muito interessante: uma forma de autogenocídio. Um grupo de negros matando outro grupo de negros. Porque se convenceram de que são inimigos. São todos negros. A sociedade não dá a mínima para nenhum dos lados. Não se importa com os policiais negros que são mortos nem com os traficantes assassinados pela polícia. Pode ser que os policiais percebam isso eventualmente e comecem a se solidarizar, uma solidariedade racial. Seria um desenvolvimento incrível.
Como a guerra às drogas opera nesse contexto?
É uma cortina de fumaça. Eles sabem que não se trata de drogas. A polícia sabe melhor do que qualquer um que existem drogas em vários lugares onde a polícia não é enviada. Até que ponto o governo brasileiro e a sociedade esperam que os policiais continuem arriscando suas vidas e sendo mortos em nome de uma guerra que ninguém acredita que pode ganhar? Em algum momento, vão se dar conta de que estão sendo explorados também. As pessoas só reconhecem a violência quando acontece com elas. Se isso acontecer, a sociedade vai se tornar mais violenta. Mas a violência já está presente.
O policial que matou Michael Brown em Ferguson, Missouri, em 2014, não foi condenado. O que isso significa?
Acho que os brasileiros deveriam se preocupar (porque não reagem). O que levou à morte de Michael Brown foi uma série de acontecimentos: a polícia vem trabalhando nessa comunidade há anos. As pessoas têm sido constantemente abordadas e agredidas. Sempre o mesmo grupo de pessoas tem sido alvo da polícia. Quando o policial mandou que Michael Brown saísse da rua e ele disse “não”, foi um ato contra todo esse comportamento. Ele matou Brown e deixou seu corpo estendido na calçada por quatro horas, sem cobrir nem nada. Acaba de balear uma pessoa e não chama socorro médico. São sinais de falta de respeito. A população reagiu. É por isso que “Vidas Negras Importam” (referindo-se ao movimento Black Lives Matter, que surgiu em 2013 com a absolvição do policial que matou o adolescente negro Trayvon Martin). Os policiais que matam os negros continuam impunes.
Qual é o limite para esse sofrimento?
Nós temos uma alta tolerância para o sofrimento porque fomos condicionados. Mas não somos inquebráveis. Quando as pessoas chegam ao ponto de perceberem que o limite foi atingido, normalmente as coisas não acabam muito bem. Neste País (o Brasil), há muito sangue de jovens negros sendo derramado. O fato de provocar pouca comoção significa que você não se importa com essa juventude, nem com o bairro de onde ela vem, nem com sua comunidade. Não estamos dizendo que as vidas negras importam mais que outras vidas. Estamos falando que as vidas negras importam tanto quanto qualquer vida.
Qual é o papel das pessoas brancas no enfrentamento ao racismo?
Existe esse mito de que o racismo só machuca negros. Mas agride os brancos também, direta e indiretamente. O racismo dá um falso senso de quem são. Faz com que acreditem que são mais espertos do que são, mais poderosos do que são, que merecem mais do que merecem de fato. Não estou dizendo que não tenham essas características. Mas o elemento do racismo confere uma falsa percepção sobre si mesmo. Porque você está se comparando com gente com quem nunca teve que competir. Por exemplo, na universidade há sempre aquela conversa que muitos brancos têm com os estudantes negros de que “você deve se sentir sortuda por ter tido a oportunidade de estar aqui”. E eu sempre disse: “Não, não me sinto sortuda. Porque muitos de vocês não estariam aqui se seus pais tivessem de competir com os meus. Alguns de nós somos melhores. E vocês não teriam os privilégios que têm”. O que é difícil com o racismo é que essas pessoas não discutem as injustiças e privilégios que sempre tiveram. É por isso que vocês (no Brasil) brigam porque 10% de vagas foram destinadas aos negros nas universidades, mesmo a população negra sendo 50% dos brasileiros. Sério? Deveriam estar gratos em vez de contestar o acesso dos negros ao ensino superior. É tão absurdo. Esse é o problema do racismo. Parece que as cotas são um favor. E que os negros deveriam ser gratos. A obsessão dos brasileiros é tratar os negros como objetos de música e dança, mas não intelectualmente.
O presidente Barack Obama conseguiu mudar esse pensamento nos Estados Unidos?
Uma das coisas mais importantes que Obama fez foi ter destruído a ideia da inferioridade intelectual dos negros. Enfrentar o racismo é lutar contra privilégios, contra a noção de supremacia branca. Trata-se de entender do que você vai abrir mão para ter o mundo que deseja. Todos nós teremos que abrir mão de algo com o que nos importamos para ter um mundo melhor.
“O racismo leva à morte prematura. não se trata apenas de discriminação. nós morremos mais cedo”
Como a senhora vê o crescimento de Donald Trump e a possibilidade de suceder um presidente negro?
Vejo Trump como o equivalente político a um lap dancer (dançarinos de boate que recebem dinheiro ao se insinuar para a plateia). Naqueles minutos de dança, em que a plateia oferece dinheiro ao dançarino, ele faz com que as pessoas infelizes se sintam bem, nem mesmo importantes, mas se sintam bem sobre si mesmas. Mesmo que saibam que ele não está interessado nelas, vão continuar o exaltando para manter aquele sentimento bom, de que podem ser vencedoras, que podem ser poderosas, que o “mundo ficará em ordem”. Mas não é possível manter esse sentimento para sempre. A dança acaba. O dançarino troca de pessoa.
A senhora acha que Donald Trump tem chances de ganhar?
Ele tem uma grande chance de ganhar. Mas Obama tem mais popularidade do que Hillary ou Trump. Deveríamos parar com essa obsessão de proteger a classe média. Em pleno século XXI é como se houvesse só dois tipos de pessoas: as que trabalham por dinheiro e aquelas cujo dinheiro trabalha para elas. Se você trabalha por dinheiro, não importa se você ganha muito ou pouco, quando a sua fonte de rendimento acabar você estará arrasado. Se você tem dinheiro suficiente e o dinheiro trabalha para você, tudo na nossa sociedade e na economia está configurado para que você mantenha esse dinheiro, para que ele cresça e você continue tendo dinheiro. A grande maioria de nós pertence à parcela que trabalha por dinheiro. Mas a classe média não se enxerga dessa maneira, não se solidariza.
Qual a sua opinião sobre o programa de justiça criminal de Hillary Clinton? Ela trata da questão racial?
É engraçado. Por conta do Black Lives Matter e do Bernie Sanders, ela se saiu forte nessa área de justiça criminal. Mas ela tem uma questão: muito do que está errado neste momento sobre o sistema de justiça criminal está baseado em políticas promovidas por seu marido (Bill Clinton foi presidente dos Estados Unidos entre 1993 e 2001). Está sendo interessante vê-la falar sobre promoção de uma reforma na Justiça sem criticar o marido. Mas estou muito confiante de que, se for eleita, fará muito mais para mover essa agenda. Francamente, acho que ela poderá fazer mais do que o próprio Obama. De alguma maneira ela terá mais liberdade.
“Veja o que está acontecendo com a mulher branca que comandava o brasil. Se ela fosse um homem, ainda estaria na Presidência”
Por quê?
Porque Obama não poderia fazer políticas que beneficiassem especificamente a população negra. Ele seria acusado de favoritismo. O fato de presidentes brancos não fazerem nada para a população negra é perfeitamente aceitável. Mas, você sabe, não está certo ter um presidente negro comprometido em fazer algo para melhorar as vidas negras. Então, tudo o que ele fez teve que se caracterizar por impactar na sociedade como um todo. Ainda assim, a medida mais importante do governo Obama, que foi a reforma na Saúde, beneficia diretamente grande parte dos pobres e negros. É o que os brancos mais detestam e estão constantemente falando em acabar, o “Obama Care”. Essa é a realidade da política americana: parte da percepção sobre a razão de os brancos se identificarem como brancos é que suas vidas deveriam ser melhores do que as vidas negras. Então, quando ele propõe políticas para preencher esse buraco, isso é visto como uma perda, algo que estaria sendo tirado dos brancos.
As mulheres negras, pelo que já tiveram que lutar e suportar, são das pessoas mais fortes do mundo. No Brasil, são chefes de família e grandes lideranças intelectuais, como Sueli Carneiro e Luiza Bairros. Mas as mulheres negras continuam na base da pirâmide. Por que isso acontece?
O Brasil é um país misógino. Veja o que está acontecendo com a mulher branca que comandava o País. Se ela fosse um homem, ainda estaria na Presidência. O que está acontecendo com Dilma Rousseff é uma ação clássica de misoginia. Não estou dizendo que seja apenas misoginia, mas é uma grande parte. Este País não trata realmente de empoderar as mulheres, a não ser como objeto sexual e serviçal, o que acontece com todas as brasileiras, independentemente de cor. Quando se pensa na mulher brasileira, vem logo à cabeça a imagem de uma bunda na praia. Essa é a imagem que tem sido cultivada e promovida dentro e fora do País. Gera muita misoginia, que leva à violência contra a mulher e a práticas direcionadas a diminuir o poder da mulher. Se os negros estão na base da pirâmide, então, mais embaixo estão as mulheres negras. Mas eu diria que quem está bem abaixo são os indígenas, que continuam sendo exterminados e ninguém presta atenção a isso. Nem mesmo se fala sobre isso. Pelo menos se fala das pessoas negras. Os indígenas são totalmente invisíveis. É ridículo.
O movimento negro no Brasil é um dos mais importantes do País, um dos mais antigos. Mesmo com conquistas essenciais e sendo um movimento social tão potente, por que não avançamos mais?
Creio que as políticas conquistadas até agora não vão nem continuar. Porque o Temer vai se livrar delas. Tudo no Brasil que está comprometido com equidade racial ou social está ameaçado com esse governo. Vamos encarar: este País foi construído sobre a exploração das fontes físicas, materiais e humanas.
O que é o racismo para você?
O racismo é como uma morte prematura. Essa frase é da minha amiga Ruth Gilmore, professora de Geografia (docente do doutorado na City University of New York – CUNY). O racismo é uma série de práticas e políticas que um grupo de pessoas faz para impor a outro grupo de pessoas, e o resultado é a morte prematura. O racismo leva à morte prematura. Não é um exagero dizer que o que está acontecendo no Brasil é uma forma de genocídio. Não se trata apenas de discriminação. É como nos Estados Unidos. Todas essas práticas do racismo americano fazem com que os negros morram mais cedo. Nós morremos mais cedo.
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