O brasileiro gosta?cada vez mais de viajar de navio. Na chamada temporada 2009-2010 (de outubro a maio), 720 mil pessoas – sendo 87% de brasileiros – viajaram em cruzeiros pela nossa costa. Público 38% maior que na temporada anterior. A expectativa para a próxima temporada, que começa em outubro, é a de que o número de passageiros chegue a quase 900 mil. Os dados são da Associação Brasileira de Cruzeiros Marítimos.

Com a vantagem de não ter de carregar malas, não precisar fazer reserva em hotéis nem enfrentar engarrafamentos em estradas, a viagem de navio pode ser ideal para quem quer descansar – ou não. Entre os quase 40 cruzeiros temáticos que existem no Brasil, escolhi um chamado Cruzeiro Bem-Estar, em que a proposta é justamente não ficar parado. E aprender a ter qualidade de vida.
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Embarquei em Santos (SP) no Costa Concordia, o maior navio da armadora italiana Costa Cruzeiros que estreava em águas brasileiras – o próximo está previsto para janeiro de 2011. Foram 7 dias e 4 destinos: Rio, Salvador, Ilhéus e Ilhabela (SP). O navio é enorme: 3.780 passageiros, 500 cabines com varanda e um SPA com 2.000 m² e uma formidável piscina ao centro. Sem contar os inúmeros restaurantes, cassinos e salas de ginástica.

Tão vasta quanto a embarcação era a lista de atividades físicas, que ia de alongamento “consciente” e “vivências em ioga” até o “spinning rock” (aula em bicicleta ao ritmo frenético do rock’n’roll). Além da prática, havia ainda a teoria. Palestras sobre esporte, saúde e alimentação também estavam na programação.

Uma das palestrantes mais ilustres era Marta Sobral, 45 anos, a consagrada jogadora de basquete da seleção brasileira da época de Hortência, que disputou três Olimpíadas – conquistando uma medalha de prata e uma de bronze. Desde 2005, está envolvida com um projeto social na comunidade de Heliópolis, em São Paulo. Ela contou que muitas vezes teve de tirar dinheiro do próprio bolso para ajudar crianças carentes, até que, com a Lei de Incentivo ao Esporte, conseguiu patrocínio. “Agora damos tênis, roupas, acompanhamento psicológico e alimentar para essas crianças, o que é muito importante, porque nas férias sem a merenda escolar elas perdem peso”, diz. Sua clínica de basquete era uma das mais disputadas no navio.

Outra personalidade do meio esportivo a bordo era Marcus Vinícius Freire, superintendente executivo de esportes do Comitê Olímpico Brasileiro (COB). Ele ministrou palestra sobre como o Brasil se preparou por dez anos para conseguir ser a sede da Olimpíada de 2016. A plateia assistiu à apresentação extasiada.

“O exercício ideal é aquele de que você gosta”, a frase de Mauro Guiselini, também palestrante e precursor das aulas de aeróbica no Brasil, foi inspiradora para muitas pessoas naquele navio que, como eu, tiveram oportunidade de passar por novas experiências esportivas. Rubens Horcel, comerciante santista de 40 anos, foi uma delas. Ex-adepto do tênis – lesões no joelho o tiraram das quadras -, no cruzeiro ele descobriu o kangoo jumps, atividade física praticada com uma bota com amortecedor na sola, criado para absorver 80% do impacto – o que minimiza o risco de lesões: “Costumo correr 7 km por dia e, se passo disso, acordo com dores musculares. Com o equipamento, senti como se tivesse corrido o dobro da distância, com uma diferença: no dia seguinte, acordei com 1% da dor muscular que sinto normalmente”, disse.

A consultora de empresas em estratégia e gestão, Ana Vecchi, 47 anos, também cedeu aos encantos de uma atividade nova, no caso, a ballness, exercícios com ajuda de uma grande bola. “Não conhecia essa atividade, mas vou começar a praticar na academia”, contou. Com o corpo desenhado por músculos, ela tem um currículo esportivo. Já praticou basquete, ginástica aeróbica e hipismo durante a vida. No navio, fazia cinco horas de ginástica por dia: “Embarquei nesta viagem para cuidar da saúde e relaxar”, disse.

Atualmente, os exercícios físicos mais procurados em academia são o pilates e a ioga, de acordo com os especialistas a bordo. E no navio não foi diferente. As aulas de ioga reuniam uma multidão de pessoas. A professora era Nicole Witek, representante da associação André Van Lysebeth, pioneiro da ioga no Ocidente. As de pilates, comandadas por Inélia Garcia, diretora do The Pilates Studio Brasil, também faziam muito sucesso. “É pra gente mais velha?”, perguntou Natália Oliveira, 16 anos, que se aventurou na aula pela primeira vez. No final, ela se surpreendeu: “Adorei, pretendo praticar sempre”, disse.

Não há um perfil específico de pessoa que escolhe esse tipo de viagem. Há de tudo: famílias com filhos, grupos de adolescentes e de adultos. Muitas pessoas se diziam cansadas do estresse de praias abarrotadas e estradas congestionadas e por isso buscavam o conforto de um navio.
À medida que o cruzeiro avançava Atlântico adentro, mais gente se apinhava para fazer as aulas. Gente que, como eu, a cada dia acordava mais cedo e bem disposta, louca para fazer aulas.

Experimentei todas – e o resultado foi uma injeção cavalar de disposição e bem-estar. Entrei exausta e saí revigorada, pronta para uma maratona! Apesar de ter problemas no joelho esquerdo, corri à vontade com o Kangoo Jumps sem sentir dor alguma; amei os movimentos lentos da ioga, do tai chi chuan e do alongamento e me apaixonei pela consciência corporal do pilates, que adotei como atividade física. Só não consegui me encantar mesmo com a aula de ballness, graças ao meu desequilíbrio crônico. Confesso que nos dois últimos dias exagerei na cerveja e na comida e engordei um quilinho. Mas bem-estar também é feito de pecados inocentes – e o quilinho desapareceu três dias depois.

Especial paraísos brasileiros


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