Marcos da Memória discute ditadura, jornalismo e arte no Brasil

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Foto: Luiza Sigulem

O encontro Marcos da Memória, nesta terça-feira (18), organizado pela parceria entre a Brasileiros e o Paço das Artes, discutiu a relação entre jornalismo e arte na recomposição da memória e as marcas deixadas pela ditadura militar, que completou 50 anos em 2014.

O evento teve a participação da repórter especial da revista, Luiza Villaméa, ao lado de Anna Ferrari e Celso Sim, criadores do projeto Penetrável Genet – Experiência Araçá, ocupação artística que propôs um percurso pelo cemitério do Araçá, em São Paulo, até o Ossário Geral, onde estavam, desde 1990, restos mortais de 1.046 pessoas – algumas delas vítimas do terrorismo de Estado.

O jornalista Alípio Freire, ex-preso político e diretor do documentário 1964 – Um Golpe Contra o Brasil, será o mediador da conversa. O encontro fez parte da exposição Operação Condor, do fotógrafo português João Pina, em cartaz no Paço das Artes de 23 de setembro a 7 de dezembro. 

Luiza Villaméa abriu a mesa falando sobre a importância da preservação da memória. “Somos o que lembramos e também o que esquecemos. A academia, a arte e o jornalismo têm um papel fundamental para que a gente preserve e discuta o nosso passado”. A repórter da Brasileiros também falou sobre matérias especiais que a revista publicou neste tema, uma abordando a Operação Condor e outra contando como a ditadura militar afetou a vida de crianças e adolescentes no Brasil, filhos de presos políticos – essa última vencedora dos prêmios Herzog e Esso em 2013.

Anna Ferrari, vinda de uma família de exilados políticos da Argentina, falou sobre como a ditadura militar ainda é um assunto mal discutido no Brasil. “Como é possível que ainda não falemos sobre o que aconteceu? A gente não sabe de nada. Na Argentina, a ditadura é assunto todos os dias. Eu, pela minha história, sinto a necessidade de falar sobre isso e a arte foi a forma que eu encontrei”. A cineasta também falou sobre a vandalização de sua obra no Cemitério de Araçá. “O assunto incomoda tanto, é tão atual, que destruíram a nossa obra e violaram os ossos”.

Para Celso Sim, ao falar em desaparecidos políticos, o tema não pode se restringir às vítimas da ditadura militar. “Morrem 50 mil pessoas por ano no Brasil. Todo desaparecido é político quando são vítimas de violência de Estado”.

Sobre o papel do governo ao tratar da memória da ditadura, Alípio Freire ressaltou a importância da atuação de Paulo Vannuchi, ex-ministro de Direitos Humanos, e Paulo Abraão, Secretário de Justiça e presidente da Comissão de Anistia, na descentralização do debate. “Eles fizeram com que o assunto saísse de Brasília e se espalhasse pelo país”.


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