Mario Prata e Jesus batendo um bolão

SOROCABA(SP) – Sumido dos jornais e das revistas faz cinco anos, ele não consegue mais ficar sem escrever suas crônicas. “Não é só pelo dinheiro, que sempre ajuda, mas eu gosto disso”, desabafa meu velho amigo Mario Alberto Campos de Morais Prata, o popular Pratinha, ex-bancário, jornalista, ator, autor de novelas, dramaturgo, roteirista e escritor.

Encontrei com ele por acaso nesta segunda-feira no Spa Médico São Pedro, em Sorocaba, no interior de São Paulo, o que não deixa de ser engraçado porque ele sempre foi muito magro e deve vir aqui só para tirar um sarro dos gordos como eu, que precisamos perder peso. Anos atrás, ele até já escreveu um livro de crônicas sobre a vida num spa – “Diário de Um Magro” – e costuma voltar pelo menos uma vez por ano para descansar, embora more há nove anos de frente para o mar em Florianópolis, e rever os amigos.

Aos 64 anos, Pratinha sempre tem boas histórias para contar e, quando não tem, inventa mais uma, só para divertir os amigos. Mineiro de Uberaba, faz isso desde os 14 anos, quando começou a escrever uma coluna social num jornal de Lins, no interior paulista, onde a família foi morar.

Quem gosta de ler o que ele escreve, com seu texto sempre bem humorado, agora tem que ir às livrarias. Depois de lançar a coletânea “100 Melhores Crônicas” (na verdade, são 129), em 2008, ele passou a se dedicar à literatura policial.

No ano passado, saiu “Sete de Paus” e, em abril agora, vai para as livrarias “Os Viúvos”, ambos tendo como personagem central o pitoresco detetive Fioravante. Está levando tão a sério o novo ofício que conta já ter lido 450 livros policiais nos últimos cinco anos.

Para comemorar o meio século de carreira que completa este ano, Pratinha está escrevendo “Vida e Obra de Franco Abbiati (1960-2010)”, o pseudônimo que ele inventou na coluna social. Não se trata de uma autobiografia convencional, mas de crônicas, seu gênero predileto, contando o processo de criação nas diferentes áreas em que ganhou a vida sempre escrevendo.

Entre elas, está a história da “entrevista exclusiva” que fez para a Última Hora com Julinho da Adelaide, o personagem que Chico Buarque inventou para escapar da censura nos tempos da censura militar.

A última vez que nos encontramos aqui no Spa São Pedro foi em 2005, quando ele estava começando a escrever na novela “Bang-Bang”, para a TV Globo, trabalho que foi obrigado a abandonar no meio por sentir dores no ombro que o impediam de trabalhar. Naquele tempo, escrevia crônicas semanais para o Estadão e a revista Época. Pediu uma licença nos veículos e tinha planos de voltar depois da novela, mas está esperando até hoje.

Agora, como não tem nada para fazer nem lugar para publicar, Mario Prata escreveu esta manhã uma crônica exclusiva para os leitores do Balaio, que tenho a honra e o prazer de reproduzir abaixo, falando da invasão dos Atletas de Jesus nos campos de futebol.

JESUS ESTÁ BATENDO UM BOLÃO!!!

Mario Prata

Tem acompanhado jogos de futebol no Brasil? Se tem, há de concordar comigo: Jesus é o artilheiro isoladíssimo de todos os campeonatos regionais.

Observe as entrevistas dos craques depois dos jogos. São sinceros:

– Foi Ele! Tenho que agradecer.

Se você nunca entendeu aquele minuto de silêncio antes do juiz apitar o começo da peleja, saiba agora: é a concentração para cada um receber em seu atlético corpo o artilheiro Jesus. Mesmo Jesus já beirando os 34 anos, vale a pena e o investimento.

E não pense que é apenas no seu time que Jesus está fazendo gols. Não! O Kaká, por exemplo, nunca fez um gol na sua carreira. Desde as categorias de base no São Paulo (São Paulo foi apóstolo de Jesus, lembra?), quem tem feito os seus gols é Ele, e não ele.

E na seleção? Podemos começar com o Jorginho, reserva do Dunga. Ele já é pastor ou bispo lá da Igreja dele. E metade da seleção também vem orando, digo, jogando com Ele.

E tem algumas coisas bem interessantes com os jogadores que Jesus usa para marcar gols cá na Terra. Quando o atleta fala em nome d’Ele, usa o gerúndio, prova inequívoca que Jesus não é bom de português e nem Deus é realmente brasileiro.

Mas quando o artilheiro-corpo erra o gol quase feito, não foi Jesus quem falhou? Onde estava Jesus quando o sujeito entrou com os dois pés na cara do adversário? E quando expulsam Jesus de campo? Como fica? E quando Ele xinga o adversários com todos aqueles nomes fofos? É Jesus também? Não posso acreditar.

Mas a minha maior preocupação é que existem cada vez mais Jesus nos times. Então, daqui a poucos anos, todos os jogadores estarão jogando com a ajuda d’Ele. Como do outro lado vamos ter outros onze jesuses, o jogo vai acabar empatado, né? Assim como o campeonato nacional. Não vai ter a menor graça.

Se eu fosse juiz de futebol, eu expulsava o Jesus de campo, de cara. Dava o minuto de silêncio e mandava o Jesus mais cedo para o chuveiro. E como ele, o Kaká ou quem quer que estivesse incorporando o artilheiro.

E a gente poderia assistir ao jogo na santa paz de Deus!


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