Autora, coautora ou organizadora de cerca de 45 livros, muitos deles sucesso de público e crítica, a historiadora Mary del Priore emplacou sua primeira incursão na ficção histórica entre os finalistas do prêmio APCA – Associação Paulista de Críticos de Arte –, na categoria romance. Beije-e Onde o Sol Não Alcança (Planeta) mistura personagens reais e ficção ao revelar o triângulo amoroso formado pelo Conde Haritoff, sua mulher, Nicota Breves, e a ex-escrava Regina Angelorum. Entre os demais finalistas estão A Imensidão Íntima dos Carneiros, de Marcelo Maluf (Reformatório), O Senhor Agora Vai Mudar de Corpo, de Raimundo Carrero (Record), e Pssica, de Edyr Augusto Proença (Boitempo). Os vencedores serão anunciados dia 3 de dezembro.
Mary del Priore está na próxima edição de Brasileiros. Ela deu uma longa e saborosa entrevista para o caderno de Literatura, da qual separamos um trecho:
Brasileiros – Como foi essa passagem de historiadora para romancista?
Mary Del Priore – Primeiro eu redescobri um fato velhíssimo, a historia e a literatura já andaram de mãos dadas há muito tempo. Se você pegar as academias do século 17, 18, um historiador pode ser um poeta, pode ser um ficcionista, um teólogo…. não havia essa separação que vai ser criada com a institucionalização da carreira de historiador. Por outro lado, você não pode entender a revolução industrial inglesa sem ler Dickens. Você não consegue entender o que foi a vida do minerador francês sem ler Germinal, do Émile Zola. E se você quer saber tudo sobre a belle époque francesa, leia Proust. Quer conhecer o que foi o sul dos EUA? Leia Faulkner. Literatura e história sempre tiveram muito juntas. Muito por conta da camisa de força das universidades, da teoria esmagadora, do marxismo, isso tudo começou a se divorciar, a linguagem começou a ficar cada vez menos, menos bonita, com narrativas cada vez mais secas, muito em cima de gráficos, de tentativas de provar a verdade, como se a gente pudesse exibir uma fotografia 3×4 e dizer: é assim. A verdade é construída pelo olhar de cada historiador. Eu me lembro sempre daquela definição dos irmãos Goncourt de que a historia é o romance que poderia ter acontecido e o romance é a historia que aconteceu. Ou seja, o romance tem um fecho, a gente sabe exatamente o que aconteceu, e a historia está em aberto, porque ela admite várias interpretações.
Leia a entrevista completa no caderno Literatura!Brasileiros de dezembro, que traz também Pier Paolo Pasolini, cujos poemas estão sendo lançados em coletânea inédita, e dicas de livros, com destaque para as Novelas Exemplares, de Cervantes, e o clássico moderno Doutor Fausto, de Thomas Mann.
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