Antigamente se dizia de um jornal sensacionalista: se espremer, sai sangue. Notícias Populares, lembram? “Violada em pleno auditório!” Era só o Sérgio Ricardo que tinha jogado seu violão na plateia, mas teria graça dizer literalmente? “Cachorro fez mal à moça.” Era só uma mordida, nada mais. Pois hoje quem espreme sangue são os telejornais. Ninguém escapa. Nem a Globo, cujo jornalismo já foi mais sóbrio um dia.
Experimente ligar a televisão, como eu ligo, às seis da manhã, na maior cidade do país. Em São Paulo, às seis da manhã, as emissoras brasileiras se dividem entre as charlatanices evangélicas e os telejornais que vertem sangue. Será que só tem crime no Brasil? Será que é só isso que o telespectador que vê TV às seis da manhã quer ver?
Qualquer TV do espectro internacional só dá notícia de crime quando é uma coisa fora do comum. Aqui, qualquer assalto é matéria. Qualquer assassinato dá várias matérias por dia.
Imaginem como vai ser agora, com essa história do menino que matou a família e foi à escola. Claro, essa sim é uma história fora do comum. Garoto de 13 anos mata os pais policiais e a tia, no dia seguinte vai normalmente à escola, mas na volta se mata. Não aguenta o tranco.
Mas vai ser um exagero de cobertura. Todo dia vão falar só nisso. Passou o papa, agora é o menino que matou a família e foi à escola. Por que esse exagero de programa policial na TV? Não é só de manhã. Às seis da tarde vem aquela dupla insólita José Datena e Marcelo Rezende cada um na sua trincheira. Fazendo um esforço terrível pra ver quem é o mais assustador. É uma desgraça atrás da outra.
Depois vem o Jornal Nacional. O tom dos locutores é de filme de terror. O Bonner dá medo. Lá vem matéria policial. O primeiro bloco é só polícia. Isso na Globo, Volta, Boni! O que eles querem com isso? Acham que assim estão combatendo a violência? Ou estão combatendo a concorrência porque o povão quer é isso mesmo, quer ver sangue? Se é assim, em vez de “que país é esse” vamos gritar: “que povão é esse?”
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