Janeiro de 1941. Como tantos outros imigrantes que vieram reconstruir sua história no Brasil, a iugoslava e católica Anna Illich, e o judeu austríaco Paul Mautner chegaram ao País fugindo do holocausto nazista. No dia 17 desse mesmo mês, a jovem Anna deu a luz ao menino Jorge Henrique Mautner. Duas décadas mais tarde, o segundo filho do casal se tornaria célebre no país tropical, como Jorge Mautner. Um dos grandes ícones dos anos 1960, talento precoce – ganhou um Prêmio Jabuti aos 21 anos pelo livro Deus da Chuva e da Morte – e um dos nomes mais influentes de sua geração. Mautner é poeta, escritor, compositor, cantor, violinista, filósofo e dirigiu em Londres, em 1971, o filme O Demiurgo (classificado por ninguém menos que Glauber Rocha como o mais importante documento sobre o exílio!).
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Mautner completou 70 anos na última segunda-feira (17) e a efeméride foi marcada por uma celebração antológica. Um show no Circo Voador – o mítico palco sob os arcos da Lapa – reuniu a fina flor da MPB. Estavam lá, para celebrar suas sete décadas, os amigos Caetano Veloso, Jards Macalé e Gilberto Gil, acompanhados da Orquestra Imperial, sob o comando do guitarrista Nelson Jacobina – grande parceiro de Mautner, que assinou com ele o clássico Maracatu Atômico, um dos pontos altos da festa, conduzido com excelência por Mautner e Gil, que entrou no palco eufórico, gritando “Viva Mautner sete ponto zero!” e soltando agudos impressionantes. A grande baixa da noite foi a ausência de um quarto e nobre convidado, o grande cantor e compositor Luiz Melodia, que não compareceu, alegando problemas familiares.
A Brasileiros acompanha os bastidores da filmagem de diversas cenas que irão compor o próximo show de Jards Macalé, e revela que a noite teve outro momento antológico, registrado na intimidade do camarim pelos diretores Gregório Gananian e Xiko França. Rompido com Caetano há mais de três décadas – e distante de Gil por um longo período -, segundo relataram os diretores, Macalé reencontrou os baianos e deixou revelar evidências de que uma grande reconciliação teve início nessa noite. Minutos mais tarde, quando entrou em cena, Caetano afirmou estar muito emocionado, e que seria difícil, mas que iria cantar. Fez dueto com Mautner em O Vampiro e pôs fogo no Circo com uma sensível interpretação de Todo Errado, a bela canção que abre o álbum Eu Não Peço Desculpas, lançado por ambos em 2002. Minutos antes, Macalé saiu do palco, deixando a plateia extasiada com uma interpretação visceral de Vapor Barato, escrita a quatro mãos por ele e pelo grande poeta Waly Salomão.
Nos vários discursos da noite – em que agradeceu a Jesus Cristo e aos orixás, lembrou o Sermão da Montanha, lamentou a tragédia na Região Serrana do Rio e exaltou a força da mulher -, Mautner insistiu na importância do amor como regente da vida de todos os seres, e afirmou que só por meio dele chegaremos à plenitude humana e à paz. Lições antigas, que parecem ter regido essa grande noite dos 70 anos de Mautner. Salve, Jorge!
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