Meus caros, demorei para falar de Alexander Mcqueen pois fiquei realmente atordoado com a morte dele. Não sou um conhecedor de moda, só estudei nomes evidentes, como Chanel e Yves Saint Laurent, referências obrigatórias do século XX, mas lembro bem como fiquei deslumbrado quando vi dois robôs pintando de vermelho o vestido de uma modelo, numa das performances espetaculares que marcaram os desfiles de Mcqueen. Não sei em que ano foi aquilo, mas passei a seguir o cara. Sempre gostei dos ingleses na moda, figuras como ele, Vivienne Westwood e Stella Mccartney. Moda é cultura, é arte, pode-se entender uma época olhando as roupas, e esses são nomes de minha geração.
Mcqueen era absolutamente gay, tranquilo com isso. Eu o achava fofo, bonitinho, e adorava o exemplo de casal gay monógamo que ele e o marido, George Forsyth, davam. Muito se fala sobre a libertinagem gay, e eles eram uma referência de seriedade dentro do circo. Forsyth deu uma entrevista bárbara, criticando as centenas de “viúvas” famosíssimas, que agora se desmancham em lágrimas declarando que o amavam, não sabem como viverão sem ele, etc., só que essas pessoas não tinham nada a ver com ele, é tudo show para a mídia. Pouquíssimos o conheciam de fato, o mundo da alta costura em que vivia lembrava os livros de Brett Easton Ellis, com aquelas celebridades loucas, muitas drogas, dinheiro a rodo, e humanidade zero. Os amigos realmente íntimos o chamavam pelo primeiro nome, Lee, uma pessoa sensível, homem de poucas mas belas amizades, que foi capaz de ajudar a amiga e top model Kate Moss a sair do fundo do buraco em que caiu quando foi fotografada cheirando cocaína. A mídia quase a destruiu, Mcqueen a ajudou, foi lindo. Era desbocadíssimo, divertido, adorava o refrão I don’t give a fuck, aparentemente sabia diferenciar a figura pública da privada, tendo uma vida até que equilibrada. Seu suicídio traz a questão – por que um cara com talento inegável, sucesso mundial, milionário, chega ao ponto de não suportar a própria vida? Ele merece belas biografias para dar a resposta.
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