Eu tinha tudo para não me tornar palmeirense. Quando cheguei ao Brasil, aos nove anos, o primeiro estádio a que me levaram foi o da Portuguesa. Em campo, Portuguesa e Palmeiras.
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Havia também aquele mito de que judeu, e principalmente russo, tinha que ser corintiano. Tanto que meu pai e meu irmão mais velho são corintianos até hoje.
Não sei se o mito nasceu porque o Corinthians foi fundado no bairro do Bom Retiro, que já foi dos judeus, hoje é dos coreanos ou porque as cores, branco e preto, são as mesmas do talit, o xale sagrado dos judeus religiosos.
Mas a minha opção futebolística não teve nada a ver com o Bom Retiro nem com religião. É que eu gostava do guaraná Antarctica e como o estádio do Palmeiras ficava no Parque Antarctica, para mim ali era a casa do guaraná.
Com 14 anos me mudei para uma rua que fica a menos de um quilômetro do Parque Antarctica.
Nos tempos da ditadura, torcer ou ir a estádio era impensável, para mim e para o meu grupo de amigos que faziam a escola de cinema. Passei muito tempo torcendo de longe, escondido, sem explosões de emoção – o que importava mesmo era derrubar a ditadura e não o Corinthians. Intelectuais não torciam, era coisa para a massa, não para nós.
Só voltei a apregoar minha condição de palmeirense quando conheci o Belluzzo, na redação da IstoÉ. Se ele, que era um grande economista, podia ser palmeirense e dizer isso em público sem comprometer a sua competência profissional, eu também podia.
Nunca contei isso a ele, porque naqueles tempos a gente falava mais sobre Plano Cruzado. Agora que ele é o presidente do Palmeiras, e o Palmeiras faz 95 anos hoje, resolvi contar.
Obrigado, Belluzzo. Por me fazer perder a vergonha de ser igual a todos os brasileiros, mesmo tendo nascido na Ucrânia.
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