Meio Ambiente e Energia no Brasil: os desafios

Imagem aérea do Rio Solimões, na Amazônia
Imagem aérea do Rio Solimões, na Amazônia

Dos 178 países que estão na pesquisa de 2014 do Environmental Performance Index (EPI), o Brasil está no 77º lugar entre os que lidam melhor com o meio ambiente. A posição é ruim não só se comparada a países ricos, como Suíça (1º) ou Alemanha (6º), mas também a países com realidades socioeconômicas mais próximas, como Chile (29º) ou Egito (50º). No índice Clima e Energia, que trata de emissão de CO², intensidade de carbono e acesso a eletricidade, o País está em 57º lugar, atrás de países como Espanha (4º) e Noruega (10º), mas melhor do que o México (63º), a França (66º) e a Austrália (71º). A Brasileiros ouviu a opinião de especialistas sobre quais as diretrizes que devem guiar as políticas do País nestas áreas nos próximos anos, independentemente de quem for eleito.  Leia abaixo:

Beto Ricardo
Beto Ricardo

“A agenda socioambiental não pode mais ser tratada como um acessório compensatório das demais políticas. Precisa deixar de ser uma ‘área’ e passar a integrar o centro da estratégia de país. Por exemplo, as negociações sobre a mudança do clima deverão determinar providências que afetarão todas as economias do mundo e exigirão do Brasil uma revisão profunda da sua estratégia de desenvolvimento e de inserção no mundo contemporâneo. Não se trata mais de uma agenda setorial, embora abarque um vasto conjunto de políticas e demande diversas ações que podem ser consideradas setoriais, tais como: desenvolver programas de escala para produção de energias limpas, revigorar programas de incentivo aos biocombustíveis, melhorar a qualidade socioambiental dos projetos de infraestrutura, descarbonizar a agricultura, rever prioridades das políticas de mobilidade urbana, regularizar a situação fundiária, concluir a demarcação de terras indígenas e consolidar as áreas protegidas, zerar o déficit em saneamento básico, reduzir o desmatamento a níveis inferiores aos da nossa capacidade de restaurar florestas, recuperar os mananciais, estabelecer metas de redução das emissões de gases estufa e mecanismos de compensação entre os diversos segmentos da economia, investir pesado em ciência, tecnologia e inovação apropriadas às necessidades do País, viabilizar a economia florestal sustentável, multiplicar a capacidade do País em reciclar o lixo, fomentar a diversidade cultural associada à diversidade biológica, de biomas, de paisagens, e assim por diante.”

Beto Ricardo e Márcio Santilli são fundadores do Instituto Socioambiental (ISA).

Calyton Lino
Clayton Lino

“Nós temos uma enorme riqueza ambiental, mas isso ainda não se transformou em eixo de políticas públicas no Brasil. Somos campeões mundiais em biodiversidade e poderíamos ser campeões em biotecnologia. Ou seja, um país onde a biodiversidade é uma das principais fontes de renda, para fármacos, cosméticos, produtos alimentícios etc. Mas nosso modelo de desenvolvimento não é esse. Temos uma agricultura de megalatifúndios, uma pecuária com uma das piores eficácias do mundo e nossos índices de desmatamento são enormes. Precisamos ter uma visão do território como um bem escasso. Você pega países pequenos como Japão e Holanda, eles tem essa noção do valor do território. Não basta dizer que precisamos controlar o desmatamento, por exemplo. Há desmatamento porque tudo leva a isso, com um código florestal que desestimula quem conserva, por exemplo. É um bom negócio conservar hoje no Brasil? Não. Pode ser? Pode. Em muitos países é um excelente negócio. Além disso, é uma vergonha termos tão poucos parques ecológicos implantados. O Brasil deveria ser um dos principais destinos de turismo de natureza do mundo. Mas a pequena Costa Rica, por exemplo, tem muito mais ecoturismo do que o Brasil inteiro. É um desperdício do nosso potencial.”

Clayton Lino é presidente da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica

José Goldemberg
José Goldemberg

“Até uns dez anos, o problema da eletricidade no Brasil era pouco discutido, porque havia usinas hidrelétricas que supriam as necessidades do País. Mas começaram a surgir problemas, primeiro em 2001, no governo FHC, e agora de novo. A origem do problema é que desde 1990, aproximadamente, as usinas hidrelétricas foram sendo construídas com reservatórios cada vez menores. Dizem que é por causa da resistência dos ambientalistas, mas isso é uma simplificação do problema. Uma usina, para funcionar bem, precisa ter um reservatório para guardar água para os anos em que não chove regularmente. Mas as pessoas foram deixando passar, porque a situação era mais confortável, e aí tivemos os problemas. Em 2001 o governo resolveu a questão apelando para a população para que consumisse menos. A partir de lá, o governo encarou o problema introduzindo usinas térmicas no sistema. E isso é um péssimo caminho, porque elas são três ou quatro vezes mais caras. Então temos um problema estrutural sério, que é sobre como produzir a eletricidade que precisamos. E a resposta que os técnicos dão é que precisamos diversificar o sistema. Abandonar as hidrelétricas e começar a fazer mais usinas térmicas não é uma solução, porque elas usam recursos muito caros e criam uma situação como a que nós vemos agora: em vez de ter um apagão elétrico, nós temos um apagão financeiro. Existe a opção das usinas eólicas, que é muito característica do Norte do país. E no Sul há uma opção que foi abandonada, que é a energia de biomassa, gerada a partir de madeira ou bagaço de cana. Seria preciso que o governo abrisse essas possibilidades, e isso não tem acontecido. E se investir em hidrelétricas, tem que ser com reservatórios que deem conta das variações climáticas. O novo governo, qualquer que seja, vai ter que ver que substituir o apagão elétrico pelo apagão financeiro não vai funcionar.”

José Goldemberg é físico, professor emérito e ex-reitor da USP (1986-1990), foi secretário de Ciência e Tecnologia do Brasil (1990-1991) e Secretário do Meio Ambiente do Estado de São Paulo (2002-2006). 

 


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