“Melhor que Paris”

Há um ano e meio, a Nespresso Magazine promoveu uma concorrência mundial para escolher a nova cara da sua revista. A vencedora foi a Editora Lagardère, dona de grifes como Elle e Paris-Match. (E cuja proprietária é a brasileira Bhety Lagardère.)

A Nespresso Magazine fez uma exigência para fechar contrato: a editora-chefe teria de ser a autora do projeto vencedor. Desde então, Sandrine Giacobetti acumula, com muito savoir-faire, o comando desta que é a maior revista customizada do mundo com o da Elle à Table, a mais importante revista de culinária da França.

Os números da revista Nespresso impressionam: são 2 milhões e 500 mil exemplares que circulam em oito idiomas e 21 países. Mas a qualidade editorial impressiona ainda mais. Sandrine concebeu uma revista em que os moradores de uma metrópole mostram ao mundo o seu pequeno mundo, é o conceito da aldeia global traduzido em papel e tinta.

Pas-de-deux
A primeira edição mostrou Paris, a segunda, Londres, a terceira vai mostrar São Paulo*. A escolha foi da Nespresso. Sandrine assina embaixo: “São Paulo é a cidade do futuro, é o que todo mundo diz na Europa”. Mas não apenas isso: “Hoje, come-se melhor em São Paulo que em Paris. Só os parisienses muito ricos e turistas comem bem, mas os restaurantes menos estrelados são lamentáveis. Não se consegue comer um sanduíche decente”.

Ao lado do fotógrafo Jean-Claude Amiel, ela realizou em São Paulo, na segunda quinzena de janeiro, um trabalho que foi uma lição de bom gosto, competência e suor. (Sem lágrimas.) Eles desembarcaram no dia 13 de janeiro pela manhã e começaram a trabalhar à tarde.

O trabalho deles é um verdadeiro pas-de-deux. Jean-Claude é um brincalhão que não brinca em serviço. Fisicamente, é uma cabeça de Van Gogh em um corpo de M. Hulot. Parece um turista, está sempre puxando uma mala de rodinhas. É lá que estão seus instrumentos de precisão. Uma fantástica Hasselblad e todas as lentes imagináveis. Na mão, carrega um tripé que começa com 10 cm e vai a quase 2 m, no qual a câmera pode ser acoplada nas mais diferentes posições. Nada mais. Nem rebatedores, nem assistentes. Nenhuma luz artificial.

Teatro no espelho
Sandrine atua também como diretora de arte. Arruma o objeto, troca o prato por outro, sempre em diálogo com Jean-Claude. Ele não bate uma foto sem mostrar para Sandrine. E, depois de bater, mostra-a à pequena equipe, inclusive ao motorista. Mas no final, é a ele que Sandrine pergunta se tal foto merece ser publicada ou não. Ele é o artista.

Estávamos no palco do Teatro Bradesco. Todos olhavam em direção à grande plateia vazia àquela hora da tarde. Menos Jean-Claude. Ele apontou a sua câmera para um pequeno e tosco espelho no qual a plateia aparecia refletida. Uma pintura. “Essa é a foto!”, aplaudiu Sandrine.

*A edição São Paulo vai circular em junho próximo. A cidade seguinte será Sydney, Austrália.

Gastronomia e boas histórias


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