Memórias de um punk durão

Eu era o dono do mundo quando estava no palco. Os Ramones botavam pra quebrar. Era o poder da guitarra: eu andava por aí sabendo que éramos os melhores. Ninguém chegava nem perto.” Essa e outras declarações estão em Commando: a Autobiografia de Johnny Ramone, que acaba de chegar às livrarias brasileiras, mais de oito anos depois da morte do guitarrista da banda americana. Johnny podia não ser o cara mais humilde do rock, mas sem dúvida foi um dos mais honestos.

Nascido John Cummings em outubro de 1948, ele formou ao lado de Joey (vocal), Dee Dee (baixo) e Tommy (bateria) a banda que redefiniu os rumos do rock’n’roll e deu origem ao movimento punk. A história vale a pena. Em 1974, Johnny era um trabalhador comum na construção civil do Queens, em Nova York, até ser demitido. Foi quando passou a encarar a música como profissão, criando uma disciplina que permitiu à banda permanecer em atividade por mais de duas décadas seguidas – terminou em 1996.

Com capa dura, fotos inéditas e avaliações de todos os álbuns dos Ramones feitas pelo próprio Johnny, o livro segue o consagrado e polêmico estilo de seu autor: rápido e sem papas na língua. Foi considerado reacionário por sua posição abertamente republicana e chegou a alterar o título de uma canção escrita pelos colegas em que criticava o ex-presidente americano Ronald Reagan.“Não podiam falar de meu presidente favorito daquele jeito.”

Na cerimônia que introduziu os Ramones ao Hall da Fama do Rock and Roll, em 2002, Johnny foi ainda mais polêmico: “Deus abençoe o presidente Bush, Deus abençoe a América”. Apontado como autoritário pelos integrantes da banda, Johnny afirma que era necessário manter a engrenagem do grupo em constante funcionamento.

Outra grande polêmica retratada no livro é a relação entre ele e Joey, o vocalista. Diferentes em praticamente tudo – com exceção do visual e do gosto pela música –, eles se desentenderam quando Linda Ramone, então namorada de Joey, largou o vocalista para se casar com Johnny, com quem permaneceu até sua morte, em 2004, depois de cinco anos de luta contra o câncer de próstata. “Na verdade nunca me dei bem com o Joey, mas também não queria magoá-lo. Joey e eu não éramos amigos próximos, éramos sócios. Além disso, se uma garota não quer mais ficar com ele, o que ela deve fazer?”

Apesar da relação conturbada com o companheiro de banda, Johnny revela como se sentiu após a morte de Joey, também em consequência de um câncer, em 2001. “Não havia mais Ramones sem Joey. Ele era insubstituível, não importa o quanto fosse mala.” No ano seguinte, o baixista Dee Dee também morreu, vítima de overdose.

Para Johnny, o momento em que a banda mostrava sua verdadeira força era em cima dos palcos. Segundo ele, ninguém superou os ícones do punk rock nesse quesito. “Se os Ramones nunca tivessem existido e aparecessem agora, ainda iríamos pirar as pessoas”, diz ele, em um trecho do livro. “Ninguém tomou o lugar dos Ramones.”


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