Memórias do Fausto

No começo da semana recebi um email do jornalista gaúcho José Antonio Silva, colaborador da Brasileiros, que se encerrava de forma melancólica “…e o velho Fausto Wolff do Pasquim dançou…” Imediatamente fui atingido por um fragmento de memória do tamanho de um Everest. Conheci o Zé na revista Contigo no início dos anos 1980. A ditadura afinal havia acabado nos deixando livres para exercer o que queríamos na vida jornalística: escrever como n’O Pasquim, a fonte de juventude que alimentou a minha geração (*).

O humor de nossa equipe e o faro do editor Paulo Stein, que colocou na capa aberrações como o travesti Roberta Close e Menudo transformando-os em fenômenos, quadriplicou a tiragem da revista. Nós e os cariocas da Casseta Popular e do Planeta Diário sentíamos que mudaríamos o mundo emulando a turma d’O Pasquim, Ivan Lessa, Millôr Fernandes, Jaguar, Henfil, Paulo Francis, Luiz Carlos Maciel, Ziraldo, Newton Carlos, Fortuna… e Fausto Wolff, claro. O Faustão primal, afinal era alto, continuou escrevendo e seus livros continuaram a nos levar ao delírio devido o humor e acuidade com que construía crônicas e mais crônicas. Chegou ao cúmulo de desafiar Sherazade com seu A Milésima Segunda Noite (Bertrand Brasil).

Segundo Jaguar, “Wolff escrevia melhor que Bukowski e bebia mais também”. Quando um colega nosso da Contigo, Walterson Sardenberg Sobrinho, conheceu o conterrâneo do Zé (Faustin von Wolffenbüttel nasceu em Santo Ângelo em 1940) a inveja foi de cortar os pulsos. O Berg tinha ido a Congonhas do Campo escrever sobre Profetas ou Conjurados, livro da pesquisadora Isolde Hans Venturelli que defendia que as estátuas de Aleijadinho na verdade representavam os Inconfidentes. Em um cair da tarde mineiro, nosso colega viu o Faustão, de copo em punho, declarar a plenos pulmões que o livro era uma farsa. Na verdade aqueles barbudinhos em pedra sabão eram conquistas amorosas do escultor e homossexual que havia passado para história conhecido erroneamente como Aleijadinho. Nosso lobão jurava que seu verdadeiro apelido era “aleijadéééérrimo”.

Inveja não mata, derrame sim.


Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.