Caros, não dá para não se emocionar com a jornada e morte de José Alencar, nosso ex-vice-presidente, falecido há dois dias. Muitos se impressionam com a coragem dele perante a morte, fato certo para todos, principalmente para aqueles cujo organismo tenha sido dominado pela doença, diagnosticada há vários anos. Como se porta alguém que espera o fim de tudo nas próximas horas, ou dias? Nem todos, na vida, acompanharam alguém nessa posição, e nem todos os condenados chegaram ao ponto final com a lucidez e resignação de Alencar. Há quase dois anos, quando a Brasileiros o entrevistou, em seu quarto, no Hospital Sírio Libanês, em São Paulo, duvidava-se que ele sobrevivesse ao fechamento da edição, o que não aconteceu, ele sobreviveu àquele número, como a vários outros. Falava, mantinha o bom humor, comentava a vida a seu redor, dava opiniões corajosas, contrárias ao próprio governo de que participou, era seu perfil, assim ele funcionava. Olhou a economia como empresário, brigou contra os juros altos, deu corda a uma das correntes da economia brasileira, nunca perdeu o sorriso, ou o bom humor mineiro.
Era milionário. Por que meter-se em um vespeiro como a política brasileira? Foi quase natural, chegou a dizer. Para mineiro, então, nem se fala. E política é sala que só tem porta de entrada, nunca de saída. No final da vida, o Brasil tomou conhecimento do fato de que ele teria tido uma filha fora do casamento, coisa que o próprio nunca negou, embora tenha sido ferozmente combatido pelos filhos. Eu jamais o julgaria por isso, é vida pessoal, e fato dignamente enfrentado por ele.
Não sei o que pensava sobre homossexualidade, não encontrei nenhuma declaração dele sobre o tema, embora saiba que, sendo católico, tenderia às posições mais conservadoras, e detestaria se expor falando sobre isso. Eu respeito, nem todos, na geração dele, conseguem transitar no nosso terreno. Não quero dizer que nos combatesse, pois se manifestou em favor de direitos civis em várias situações. Era, acima de tudo, um homem digno, e de princípios maiores. Nunca entrou em nossa trincheira, mas atirou na mesma direção, o que nos bastava. Em um Brasil que aceita Bolsonaros, foi exemplo valioso. Voltando à pergunta inicial, como se porta um homem face à própria morte, digo o seguinte: em uma entrevista à televisão, meses atrás, ele disse que: “Se Deus quisesse a minha morte, não precisaria criar um câncer”, certamente poderia seguir caminho mais curto. Já sobre a morte? Para morrer bem, há que se viver bem, esse o princípio tibetano do viver e morrer. Ele viveu de forma linda, e morreu, sofrimento à parte, de maneira corajosa e honrada. Entrou para minha galeria de grandes homens, e leva meu abraço, gesto de homem, homossexual e honrado. Saudações do Cavalcanti.
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