Leitor querido, você teria coragem de se declarar apaixonado por outro cara, tipo suspiros e olhos nos olhos, e escrever cartas de amor e poemas para ele? Isso nos dias de hoje, lógico. Pois foi exatamente isso o que fez Michelangelo Buonarroti, há aproximadamente 500 anos. Sim, estou falando do artista que esculpiu o David, que vocês veem na foto aí ao lado. Se ele era gay? Ele nunca se casou, viveu alguns anos com uma mulher conhecida pelo apelido de “La Fornarina”, e teve um romance com uma mulher da nobreza de Florença. Mas no final da vida, já com mais de setenta anos, apaixonou-se perdidamente por um meninão, um nobre romano de nome Tommaso Cavalieri, mais de trinta anos mais jovem que ele. Digo ‘perdidamente’, pois ele, de fato, perdeu a compostura, e botou a paixão por escrito, chamava o amado, publicamente, de lindo, de adorado, e dizia que o amor pelo outro o descontrolava. Não estou falando da região da Avenida Paulista de hoje, mas de Roma há 500 anos.
Michelangelo foi um dos maiores artistas de todos os tempos. Fiz questão de botar a foto do David, pois acho que ele ainda é o homem mais bonito que já vi em toda a minha vida. Ele tem 5,17 m de altura e 506 anos de idade – não que tamanho e idade me incomodem, mas ele é de mármore. De um bloco de pedra, com suas próprias mãos, Michelangelo fez um corpo masculino perfeito, com um olhar penetrante, parece que está em puro movimento. Não posso deixar de mencionar as pernas fortes, o tórax delineado, os mamilos, a bunda (linda), as costas musculosas, um homem de arrasar!
Uma coletânea de cartas dele, escritas para figuras como o Rei da França, o Papa, duques, cardeais e, principalmente, seu amado Tommaso Cavalieri, foi organizada no livro Cartas Escolhidas, Editora Unicamp, prefácio, seleção e comentários de Maria Berbara. O livro vale como dica para aqueles que não vão viajar no feriado, ou mesmo para quem vai e quer algo de interessante para ler. E se vocês se interessarem, vejam o filme Agonia e Êxtase, com Charlton Heston como Michelangelo e Rex Harisson como o Papa Júlio II. O filme narra a troca de tapas entre o Papa e Michelangelo pela pintura do teto da Capela Sistina. O DVD é fácil de achar.
E já que você vai à livraria, ou vai pedir pela internet, sugiro mais dois outros livros e filmes. O primeiro é Confissões de uma Máscara, de Yukio Mishima, uma autobiografia na qual ele conta como foi sua vida ao se descobrir homossexual, e ser obrigado a viver escondido “sob uma máscara”, por conta dos preconceitos da sociedade japonesa no início do século XX. Vocês já ouviram falar de algo assim? Você pode pensar que, numa sociedade conservadora, ele teria quebrado a cara, mas este livro, em que ele “sai do armário” e que foi publicado em 1948, tornou-o um herói nacional. Ele era um homem muito bonito, forte, cultuava a honra dos samurais, e foi cogitado mais de uma vez para o Prêmio Nobel. Mishima, gay, é até hoje um mito no Japão. Não é um livro longo – dá para ler em dois dias. É um livro OBRIGATÓRIO para nós, gays.
Também recomendo a vocês um dos melhores livros e filmes gays dos últimos 100 anos, Querelle, escrito por Jean Genet e filmado pelo fantástico Rainer Werner Fassbinder. O livro é puro Genet, a quem considero o grande mestre da literatura gay do século XX, e traz um relato forte e bem feito do desejo sexual gay num ambiente viril. Fassbinder fez dele uma de suas obras-primas, com uma fotografia belíssima, e, francamente, perto dele, Sacha Baron Cohen, e seu filme Bruno, viram puro lixo. Só vendo para crer.
Por último, um ótimo filme de suspense, com ninguém menos que Catherine Deneuve, na pele de uma vampira linda e charmosa, e David Bowie como seu marido. A primeira cena, ao som de Bauhaus tocando Bela Lugosi’s Dead, é de arrasar! Susan Sarandon, ainda mocinha, entra depois na história, e é seduzida por “La Deneuve”, numa cena que fez do filme um cult entre lésbicas. Para todos nós o filme é bárbaro, ao som de temas da ópera Lakmé, de Delibes. É lindo, lindo, lindo. Em um depoimento dado anos depois, Sarandon, que toma um drink na cena de sedução, confessou que mulher nenhuma precisaria beber para ir para a cama com “La Deneuve“. Não percam o filme.
httpv://www.youtube.com/watch?v=Ae7Ld_8Y6tE
httpv://www.youtube.com/watch?v=22VhDXOM00g
Enfim, três livros e filmes. Meninada, depois não me digam que não tiveram o que fazer no feriado. Os livros e filmes podem ser achados na Livraria Cultura, Livraria Saraiva e americanas.com.
Beijos do Cavalcanti.
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