As declarações do engenheiro Ricardo Barros, ministro da Saúde incumbido de secar as verbas do setor e promover a privatização do atendimento, mostram o quanto ele está determinado a cumprir seu “script”.
A última frase ministerial de impacto se refere à grave crise financeira e assistencial enfrentada pelo Hospital São Paulo, complexo hospitalar da rede pública que realiza cerca de 2.600 exames e 90 mil consultas por mês. Na tentativa de justificar o congelamento do repasse de verbas federais ao hospital, Barros disse que a instituição “já recebe verba suficiente” e que o problema é de gestão. Como um pai bravo que manda os filhos gerenciarem melhor a mesada.
Em nota divulgada no final da tarde da quarta, 26, o Cremesp (Conselho Regional de Medicina de São Paulo), criticou o posicionamento do ministro. Segundo a entidade, Barros parece não considerar a situação econômica precária do País, o aumento do desemprego e consequente crescimento da migração de usuários de planos de saúde para o SUS, causando desequilíbrio financeiro.
As declarações sinalizam também, segundo o Cremesp, o “desconhecimento acerca da importância histórica da instituição para a formação médica e para a assistência de uma área que abrange mais de 5 milhões de habitantes, além de atender pacientes de outros estados.”
Barros tem se esquivado das responsabilidades em relação à crescente demanda sobre a rede pública. Desde 2015, aproximadamente 2,5 milhões de pessoas deixaram de pagar planos de saúde. A maioria passou a buscar atendimento no SUS, cuja base é de cerca de 150 milhões de pessoas.
Na nota, o Cremesp diz esperar que o governo federal assuma com responsabilidade seu papel institucional e, junto aos gestores municipal, estadual e federal, busque a rápida solução para o problema para que o Hospital São Paulo possa continuar prestando relevantes serviços à população. A entidade pede ainda “a atenção do governo para as demais instituições públicas de saúde, mencionadas pelo ministro, que vivem situação semelhante, como a Santa Casa de São Paulo.
Recente pesquisa feita pela entidade na capital paulista revelou um cenário de superlotação, falta de financiamento e gestores tendo de atender uma demanda aumentada com os mesmos recursos.”
Sobre o Hospital São Paulo
O Hospital São Paulo, nos seus quase 80 anos, é referência como hospital de ensino. Abriga cerca de 90 programas de residência médica e multiprofissional, atende a todas as especialidades (com vocação para procedimentos de alta complexidade) e realiza mais de 90 mil consultas, 2.600 internações, 1.600 cirurgias e cerca de 290 mil exames laboratoriais por mês.
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