Missão: proteger a Amazônia azul

Imagine uma área de oceano praticamente igual à da Amazônia. Essa imensidão de mar, formada pela faixa de 200 milhas da Zona Econômica Exclusiva (ZEE) paralela ao litoral brasileiro, com um prolongamento que segue rumo nordeste até depois da linha do Equador, graças às áreas de 200 milhas de Fernando de Noronha, Atol das Rocas e do Arquipélago de S. Pedro e S. Paulo. Some-se o círculo com 200 milhas de raio de ZEE das ilhas de Trindade e Martim Vaz. Além dessa área de mar, o Brasil ainda tem os direitos de exploração da plataforma continental – que é a continuação submersa do continente -, do talude continental – a brusca descida logo depois da plataforma – e do prolongamento da plataforma pelo fundo do mar, nas regiões abissais. Considerando ainda que quase toda a produção brasileira de petróleo vem do mar, e isso desde os anos 1970, tomar conta de todo esse espaço é tarefa difícil.. Mais ainda, com as descobertas dos gigantescos campos de petróleo na camada de pré-sal (veja infográfico na pág. 54), em águas muito profundas e quase no limite das 200 milhas, a necessidade de o Brasil ter uma Marinha bem equipada, com navios modernos e com capacidade de manter o domínio da região e de suas riquezas, se torna mais urgente.

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Para descobrir como esse trabalho da Marinha do Brasil é feito, Brasileiros embarcou, durante duas semanas, em dois navios de guerra que desempenham a missão de fiscalizar as águas brasileiras, combater a pesca ilegal, o contrabando e outras atividades ilícitas e, evidentemente, proteger as dezenas de plataformas da Petrobras e de empresas associadas em pleno oceano. As rotas seguidas pelo navio-patrulha Guaporé e pela corveta Júlio de Noronha foram semelhantes. Ambas saíram do porto de Vitória, no Espírito Santo, com a missão de patrulhamento e vigilância encerrando-se no Rio de Janeiro, sede da Esquadra. Mas as missões, além do tamanho dos dois navios, tinham diferenças. O Guaporé (e outros dez navios idênticos de que dispõe a Marinha)é uma espécie de pequeno, e muito rápido, cão de guarda que dá o primeiro alarme da chegada de um intruso. Com 46 metros de comprimento, 7,5 metros de largura, leve e capaz de navegar até a 25 milhas por hora (praticamente 50 km/h, pois a milha náutica mede 1.852 metros), tanto em mar aberto quanto em águas rasas, ele é a principal arma da Marinha para operações de patrulha naval e de inspeção naval. “Realmente, nós somos a turma do primeiro alerta e passamos a maior parte do tempo no mar, em operações reais, cumprindo missões de cinco dias navegando por dois em terra, em média” explica o comandante do Guaporé, capitão-tenente Felipe Imamura Carneiro. Durante a missão acompanhada por Brasileiros, o Guaporé percorreu o litoral capixaba fazendo a fiscalização de barcos pesqueiros. A missão também incluiu a passagem por todas as plataformas de petróleo da Bacia do Espírito Santo, desde as localizadas em águas rasas até as em águas profundas, a 50 milhas do litoral. O trabalho encerrou-se com o retorno ao Rio de Janeiro, onde o Guaporé ficaria no máximo quatro dias atracado, antes de seguir para nova atividade de patrulha entre São Paulo e o Espírito Santo. Construído para a velocidade, o navio exige muito de sua tripulação, especialmente quando enfrenta mar forte. Mas isso não parece afetar os tripulantes. A bordo, há praças servindo há mais de cinco anos, sem vontade de mudar de navio. Com 24 marinheiros, sendo cinco oficiais, o ritmo de trabalho é intenso, dia e noite. Mas ninguém se iluda com o pequeno porte do patrulha. Seu canhão de 40 mm e suas duas metralhadoras de 20 mm servem tanto para intimidar, por exemplo, pesqueiros estrangeiros e contrabandistas, quanto para capacitá-lo a realizar ataques-relâmpago até a navios maiores. Ou, no mínimo, a se defender enquanto não chega um reforço de navios maiores ou apoio aéreo, por exemplo.

Já a Júlio de Noronha, com seus 95,8 metros de comprimento e duas mil e cem toneladas, faz parte da turma mais pesada que, em um cenário de combate, serviria tanto para atuar como navio escolta de um porta-aviões, um petroleiro ou navios de transporte de tropas (todos alvos prioritários em tempos de guerra) quanto para atacar navios inimigos. Movida por dois motores diesel e uma turbina a gás, ela é capaz de atingir a velocidade máxima de 27 nós (pouco mais de 50 km/h). Seu armamento inclui mísseis Exocet, um canhão de 4,5 polegadas, lançadores triplos de torpedos e dois canhões de 40 mm, além de um helicóptero de ataque Super Lynx ou um Esquilo. Projetada no Brasil pela Diretoria de Engenharia da Marinha na década de 1980, a Júlio de Noronha tem mais três navios irmãos, além da corveta Barroso, incorporada mês passado à Marinha e que é uma versão cinco metros e meio mais comprida e mais pesada. A missão acompanhada por Brasileiros foi focada na inspeção e presença de defesa em toda a Bacia de Campos, onde, em alto mar, o Brasil já produz 1,8 milhão de barris/dia de petróleo, representando um faturamento de quase US$ 200 milhões diários. Com 1.020 dias de mar, o capitão-de-fragata Edgar Luiz Siqueira Barbosa, de 41 anos, considera que esse tempo que já passou a bordo de navios de guerra “é um bom indicador de que a Marinha está no mar, cumprindo sua missão”. Ao longo de sua carreira como oficial, ele já serviu seis meses em um navio da Marinha dos EUA, em um programa de intercâmbio durante a Guerra da Bósnia. E não tem dúvidas em afirmar que os militares brasileiros têm mais motivação do que os americanos. Na Júlio de Noronha, Edgar está bem acompanhado. Seu imediato, o também capitão-de-fragata Fábio Vieira Duarte, que foi seu calouro na Escola Naval, já chegou aos 1.040 dias de mar, marca não muito comum em oficiais de sua patente. “Quando vemos essas plataformas de petróleo gerando riquezas para o Brasil, quando se escuta sobre as novas descobertas da Petrobras no pré-sal, sabemos que a presença de navios de guerra brasileiros cresce de importância. É um sinal de que essa riqueza tem dono”, afirma o imediato Fábio. Na tripulação, há marinheiros, como o sargento Luiz Roberto Nepomuceno, especialista sinaleiro, que já completou dez anos servindo na corveta. Casado cinco vezes e pai de 13 filhos, Nepomuceno, 48 anos de idade e 29 de Marinha, sente orgulho em ver “seu navio” protegendo as plataformas de petróleo. “Em meus 800 dias de mar, esse é o melhor navio onde já servi”, garante. Durante a operação da qual fez parte a equipe de Brasileiros, a Júlio de Noronha percorreu os principais campos produtores da Bacia de Campos, como Marlim, Namorado, Enchova, Pargo e Vermelho, entre outros. Em Marlim, os repórteres pousaram com um Esquilo da Marinha na plataforma P-18, que produz cem mil barris de petróleo por dia, em águas com 900 metros de profundidade. O óleo ainda é do pós-sal, mas há pesquisas em andamento para verificar se também existe petróleo no pré-sal em Campos, como já acontece com o campo de Jubarte, no Espírito Santo.


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