Não houve, nos últimos dias, nenhum grande fato novo na campanha eleitoral em São Paulo, nada que justificasse mudanças bruscas nas pesquisas.
A campanha dos principais candidatos segue na mesma modorra, com o povo alheio às escaramuças, só tomando conhecimento deles em suas peripatéticas pregações da política movida a café e pastel de feira.
Por isso, surpreendeu a todos a disparada de Marta Suplicy na pesquisa Ibope divulgada na noite de sexta-feira pela TV Globo, acompanhada da queda do seu principal oponente, Geraldo Alckmin.
Marta subiu sete pontos, chegando a 41%, enquanto Alckmin caia cinco, para 26%. Com 15 pontos de diferença entre os dois primeiros colocados, pela primeira vez abre-se a possibilidade da eleição municipal de outubro ser decidida no primeiro turno em São Paulo.
Qual o mistério, se a campanha eleitoral no horário gratuito do rádio e da televisão só vai começar na próxima semana?
Até agora, Marta e Alckmin fazem campanhas rigorosamente iguais, caminhando pelos bairros, prometendo mais e melhores serviços públicos, dando aqui e ali alguma estocada no adversário. Com a disputa reduzida aos dois, já que o prefeito Gilberto Kassab, o preferido do governador José Serra, caiu mais dois pontos, para 8%, um abaixo do inamovível ex-prefeito Paulo Maluf, fiquei quebrando a cabeça de ontem para hoje tentando entender o que aconteceu.
Como aprendi a respeitar o resultado das pesquisas dos principais institutos porque sei como funcionam e conheço o rigor dos seus métodos, só encontrei uma explicação para o mistério, com nome e sobrenome: João Santana.
O marqueteiro de Marta, conhecido por “Tio Patinhas”, baiano que fala pouco e não gosta de festa, silenciosamente como de costume, em poucas semanas reforçou os pontos fortes da candidata _ empatia com a população mais carente e sua ligação com o muito bem avaliado presidente Lula _ e amenizou os pontos fracos _ sua imagem de arrogante cultivada na classe média, que não vota nela porque não vai com a cara dela.
Surpreendidos pelo Ibope, alguns colegas alckmistas e kassabistas resolveram brigar com os fatos, colocando em dúvida o resultado da pesquisa, já que também eles não encontraram um fato novo que justificasse tamanha diferença entre os dois principais candidatos.
Melhor fariam se olhassem para seu quintal e procurassem nas suas próprias hostes as razões para explicar as campanhas empacadas de Alckmin e Kassab.
À parte o racha na velha aliança PSDB-DEM (ex-PFL) em São Paulo, que já é notícia velha, meus colegas analistas demo-tucanos hão de convir que não é normal o governador José Serra, desaparecido da campanha, viajar justamente agora para um périplo de dez dias pelo Japão.
O fato de ele marcar esta viagem bem na semana em que se iniciam os programas eleitorais a campanha no rádio e na TV, sem deixar gravada qualquer participação no programa do candidato do seu partido, deixa clara sua disposição (ou falta de) participar da campanha do PSDB.
Claro que o quadro pode mudar nas próximas semanas e virar as pesquisas de cabeça para baixo, se fatos novos acontecerem, mas não será só porque a campanha estará no ar na mídia eletrônica.
Como escreveu outro dia na “Folha” o Ney Figueiredo, um estudioso de campanhas e pesquisas eleitorais, há muito que os programas dos horários políticos gratuitos deixaram de decidir eleições.
Depois que inventaram a internet e a grande rede se disseminou, chegando hoje à maior parte do eleitorado, outros fatores serão decisivos para decidir o voto em outubro.
Noticiário de jornal e horário gratuito no rádio e na TV já não fazem, sozinhos, a cabeça do brasileiro como vimos na reeleição de Lula em 2006 (campanha também comandada pelo “Tio Patinhas).
O multimídia João Santana parece ter descoberto esta novidade, colocando suas fichas em variadas possibilidades para ganhar o jogo, mas ele não conta a receita para ninguém.
Em tempo: leio neste domingo de manhã na “Folha” que na última hora o governador José Serra resolveu mudar de idéia e descer do muro. “Serra grava depoimento para campanha de Alckmin na televisão antes de viajar”.
Será que ele leu a minha coluna de sábado e achou que ficaria chato se omitir na campanha do correligionário tucano? Até o pessoal de Alckmin ficou surpreso, conforme a matéria da “Folha”: “Até sexta-feira, segundo alckimistas, o comando da campanha do ex-governador não contava com essa participação de Serra, que também gravou depoimentos para candidatos do partido em outras cidades”.
Esta é outra vantagem de escrever na internet: a gente pode sempre corrigir e atualizar os textos. É bom para quem escreve e para os leitores _ às vezes, eles próprios me alertam para corrigir informações erradas ou erros de português.
Deixe um comentário