Moacir Claudino Pinto foi campeão do Mundo em 1958, lembram-se? Era reserva do maestro Didi. Teve uma vida de folhetim até chegar ao Flamengo. Bem-sucedido, chegou à Seleção Brasileira. A novela que parecia se encaminhar para um final feliz ganhou recentemente lances dramáticos. Moacir mora em Guayaquil, no Equador, ao lado da esposa, Marta, e três filhos. Aos 74 anos, enfrenta um câncer. Amigos no Brasil se mobilizam para um tratamento à altura do ídolo que ele foi e sempre será.
Apesar das adversidades, Moacir, vive com a dignidade das pessoas honradas, não cobra nada de ninguém. Nem mesmo dos dirigentes do futebol, que um dia o incensaram e agora o ignoram. “Em 2006, recebi convites para assistir ao Mundial e pensei que a CBF é que havia mandado. Qual não foi minha surpresa ao saber que eram os alemães, os anfitriões, que nos homenageavam.”
Destro nas artes da bola, parecia destinado a ser gauche na vida. No bairro do Ipiranga, São Paulo, onde nasceu em 1936, Aos seis anos, o episódio marcante: “Meu pai me deu um dinheiro e mandou jogar no bicho. Fui jogar uma peladinha e deixei o dinheiro embaixo de uma pedra, eram seis da tarde. Depois, fui procurar o dinheiro, mas o campo era cheio de pedras e eu não encontrei”. Voltou para casa tremendo de medo. Não sem razão. O pai, ferroviário, era muito rigoroso. “Meu pai me deu uma tremenda surra. Aí, me trancou com as galinhas, Uma noite terrivelmente fria.”
Fugiu. Primeiro drible na sorte adversa, precoce determinação de tomar conta de si mesmo. Foi parar na delegacia. Um dia, dois, três e nada da família aparecer. Nem o pai, nem a mãe, nenhum dos oito irmãos. Acabou em um orfanato, em Osasco, Grande São Paulo, onde ficou por 11 longos e solitários anos. Mas tinha tratos com a bola e o diretor do colégio, amigo do legendário Gilberto Cardoso, presidente do Flamengo, o recomendou. “Fui para o Rio treinar no juvenil, Fui aprovado e passei a morar na concentração, O Flamengo foi minha casa e minha família”, recorda. “Quando eu já estava jogando no time titular, fomos fazer um jogo contra o Corinthians em São Paulo. No hotel, minha mãe e meus irmãos me procuraram. Perguntei para minha mãe: ‘Por que não me buscou na delegacia, por quê?’. Ajudei no início, mas depois fui para o Exterior e nunca mais vi ninguém.”
Depois da Copa de 58, Moacir ficou no Flamengo até 1960, quando foi para o River Plate, na Argentina. De 1962 a 1964, Peñarol, do Uruguai. Dali, foi para o Barcelona de Guayaquil, no Equador, onde jogou seis anos. Próxima escala, Peru, no Carlos Mannucci, de Trujillo. Aposentou as chuteiras em 1974, aos 38 anos de idade. Tornou-se técnico e foi morar no Equador.
Se o abandono marcou fundo, ele iria contracenar, a contragosto, um episódio semelhante. Só em 2008, no Rio, após 35 anos de distância, ele reencontraria o filho do primeiro casamento. “Demos um abração, correram lágrimas. Chorei muito, muita emoção.” Moacir casou-se em 1958. Já com o filho, segue com a esposa para a Argentina, depois para o Uruguai, O casal se separou. Se viu por um curto período e perdeu o contato “Mas ao contrário do que aconteceu comigo, eu não abandonei meu garoto.”
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