O embaixador da França no Brasil, <b<, acredita que o Brasil acertou ao definir um modelo de cooperação internacional e transferência de tecnologia, tanto na área da defesa quanto em outros setores, devendo fazer com que a fórmula se repita em novos acordos ou, também, com outros países que aceitem as regras. Ele destaca ainda, além dos acordos comerciais, tecnológicos e industriais, o diálogo político que Brasil e França vêm mantendo em todos esses setores e, principalmente, na educação, reforçando a integração e o aumento da importância do País no cenário internacional.
Tanto o projeto da Marinha (leia mais à página 112) quanto a ampliação da produção de helicópteros na Helibras, em Itajubá (Minas Gerais), de acordo com o embaixador, refletem essa internacionalização de tecnologias, deixando para trás um modelo antigo baseado apenas na venda e compra de produtos industrializados, com alto nível de tecnologia. Yves Saint-Geours salienta que: “Antes, o Brasil era considerado apenas um mercado para colocação de produtos. Hoje, esse panorama mudou e as empresas, especialmente francesas, consideram o País um parceiro, parte da estratégia mundial de crescimento e desenvolvimento tecnológico”.
Para Yves Saint-Geours, esse conceito de transferência completa de tecnologia – aplicado ao projeto e na construção de submarinos para a Marinha, com equipes brasileiras trabalhando na França para adquirir conhecimentos e tecnologias para os novos submarinos, inclusive os nucleares –, também se verifica na fábrica de helicópteros em Itajubá. Progressivamente, serão fabricados e nacionalizados 50 helicópteros Super Cougar, encomendados para as três Forças Armadas brasileiras, além da ampliação na produção de helicópteros de menor porte, muito utilizados no Brasil também pela aviação civil.
Essa capacidade de transferência completa da tecnologia seria o grande trunfo que o jato francês Rafale – produzido pela Rafale Internacional, um consórcio formado pela Dassault, Safran e Thales – tem a seu favor na concorrência, fornecendo 36 aviões supersônicos de combate para a Força Aérea Brasileira. O embaixador francês salienta que o Rafale é o único dos três finalistas, produzido com equipamentos de um único país. “Não há qualquer impedimento para a transferência de toda a tecnologia para o Brasil, pois ela é toda francesa, o que não acontece com os concorrentes sueco e americano”, garante.
A proposta francesa, segundo Yves Saint-Geours, vai além da simples fabricação e fornecimento dos caças – o valor total do projeto fica em torno de US$ 30 bilhões – com a Rafale Internacional planejando criar no Brasil um polo de educação universitária de excelência profissional, visando as tecnologias do futuro. “O Consórcio Rafale já iniciou contatos e parcerias com as principais instituições de ensino do Brasil, como ITA, UFRJ, USP, UnB, UFMG, UFABC, buscando um trabalho em longo prazo, com a formação de recursos humanos fundamentais”, afirma o embaixador. Ele diz, também, que, com os projetos já existentes e em andamento, o Brasil aprendeu a “fazer junto, a exercer uma parceria eficiente e conseguir aplicar a transferência de tecnologia incluída nesses acordos e contratos”. O embaixador ressalta que a cooperação tecnológica é a grande ferramenta para acelerar o desenvolvimento e as descobertas científicas.
Embora os acordos entre Brasil e França na área de defesa chamem a atenção, de acordo com o embaixador a cooperação e, principalmente, os investimentos franceses no Brasil em outros setores merecem destaque. “Os investimentos no Brasil chegam hoje a US$ 30 bilhões e devem continuar crescendo. Na verdade, demonstrando a importância que a França dá ao Brasil, nossos investimentos aqui representam a soma do total investido nos demais integrantes do BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). Isso mostra que estamos apostando com vigor no Brasil.” Entre os investimentos franceses, o embaixador destaca a compra do Laboratório Medley, de São Paulo, um dos líderes na produção de genéricos, pelo gigante multinacional Sanofis-Aventis, buscando ampliar a pesquisa e a produção de medicamentos no Brasil. “Existe também uma cooperação intensa entre os centros de pesquisa brasileiros do Butantã e da Fiocruz com o Instituto Pasteur, na França, dentro da busca de se conseguir a integração entre pesquisa, produção e comercialização de medicamentos, com efeitos positivos para todos.” Outro investimento é o da Alstom, fabricante de turbinas para hidrelétricas e de turbinas para produção de energia eólica. “Serão duas unidades diferentes, uma em São Paulo e outra na Bahia, ambas incluindo centros de pesquisa e tecnologia.”
O embaixador elogiou o novo programa brasileiro Ciência sem Fronteiras, lançado pelo governo federal com o objetivo de levar cem mil estudantes brasileiros para aperfeiçoamento em universidades no exterior. “É um novo diferencial, com novas diretrizes, que, certamente, vai gerar conhecimento e progresso para o Brasil.” Yves Saint-Geours lembra que hoje estudam na França apenas três mil universitários brasileiros, número que espera, com a nova política, ver elevado para 30 mil. Ele enfoca as bolsas para Engenharia que serão concedidas aos estudantes, a parceria com as empresas – do Brasil e do exterior – e, especialmente, a possibilidade de internacionalização do sistema universitário brasileiro. “O Brasil tem pouca tradição em receber estudantes estrangeiros. Acho que esse programa, além de levar os jovens brasileiros para estudar nos grandes centros de ensino do mundo, vai trazer para cá muitos estudantes franceses e dos demais países, interessados em conhecer um dos países mais importantes de hoje. Será um duplo efeito benéfico, abrindo as capacidades interculturais, com troca de informações e, especialmente, o aprendizado das duas línguas”, garante o embaixador.
Ele lembra que, hoje, a rede de escolas Aliança Francesa no Brasil (que somam 40 unidades) recebem 40 mil estudantes brasileiros por ano, que buscam aprender a língua, número que deverá crescer com os programas de incentivo ao ensino lançados pelo Brasil.
O embaixador considera ainda que a parceria comercial entre Brasil e França é essencial para os países. “O Brasil é um bom parceiro e os números, tanto das importações e exportações, quanto dos investimentos na produção mostram isso.” Ele destacou ainda que os dois grupos empresariais franceses fabricantes de automóveis atuando no Brasil – Renault/Nissan e PSA (que controla a Peugeot e a Citroën) – já anunciaram aumentos em investimentos e na produção, com lançamentos de carros. “Eles mostram que não se pode viver pela perspectiva do sobe e desce das bolsas, mas sim pensando no longo prazo.”
Yves Saint-Geours chama a atenção para os acordos entre grandes empresas francesas, como EADS, Safran, Thales, Dassault e DCNS, para citar apenas o setor de defesa e alta tecnologia, com o sistema S (SENAI, SESC, etc.) para formação de mão de obra técnica especializada e que, junto com a formação universitária, esse futuro contingente de trabalhadores especializados será a chave para que a transferência de tecnologia prevista em projetos industriais seja absorvida e utilizada da melhor maneira.
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