Modelos do Brasil que queremos

De uma pequena empresa paraense, criadora de uma caneta capaz de reconhecer textos escritos e facilitar a vida de deficientes visuais, até a gigante da aviação mundial que leva jatos made in Brazil a circular por todos os continentes, a edição 2012 do Prêmio Finep de Inovação mostrou que tamanho e setor de atuação não são limites para quem está disposto a se diferenciar no mercado. “As empresas brasileiras despertaram para a inovação”, afirmou o presidente da Finep, Glauco Arbix. Como indício desse movimento, o economista citou o recorde de inscrições na disputa: cerca de 650 empresas, um aumento de 50% em relação a 2011. Os vencedores, nas dez categorias, dividiram um total de R$ 9 milhões em premiações que variaram de R$ 100 mil a R$ 600 mil.

Nesta edição, os prêmios foram pagos, pela primeira vez, em dinheiro – antes, os vencedores recebiam financiamentos não reembolsáveis, mas condicionados à apresentação de um projeto de ciência, tecnologia e inovação. A mudança foi possível por conta do apoio dos Correios, do Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI) e da Organização Mundial de Propriedade Intelectual (WIPO, na sigla em inglês).

Outros números da agência apontam para o interesse das empresas por recursos para investir em inovação. Segundo Arbix, a contratação de crédito da Finep aumentou 40% em 2012, e metade das empresas que receberam aportes nunca haviam solicitado esse tipo de financiamento antes. “Esse é um dado extremamente dinâmico e animador para nós, que trabalhamos com ciência e tecnologia. As empresas brasileiras estão despertando, percebendo que inovação é chave e representa uma tendência poderosa, capaz de conectar o nosso País com o futuro”, comemora o presidente da agência.

“Não digo que é uma onda, mas há um número crescente de empresas que incorporaram a inovação a sua estratégia”, acrescentou Arbix, lembrando que, até pouco tempo, as companhias brasileiras abandonavam a inovação ao primeiro sinal de crise, “como se tecnologia fosse uma espécie de luxo”. “A gente precisa afastar velhos pensamentos conservadores que, muitas vezes, pesam sobre nossas empresas e, infelizmente, atingem planejadores e gestores públicos.”

A presidenta Dilma Rousseff, que participou da premiação ao lado de Arbix e do ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, Marco Antonio Raupp, destacou que o esforço empreendido pelas empresas brasileiras é fundamental para o crescimento. “Inovar também é aumentar a competitividade da nossa economia, é garantir as condições para que cresçamos de forma sustentável, de forma a nos posicionar para nos tornarmos uma nação do tamanho que podemos”, declarou, antes de apontar a educação e a inovação como as duas condições fundamentais para o Brasil “mudar o patamar de desenvolvimento”.

Entre os vencedores, Dilma fez referência à “bioquímica renovável” da Braskem, companhia da área química e petroquímica que desenvolveu o plástico verde – primeira resina industrial feita com insumos renováveis – e, com isso, venceu a categoria Inovação Sustentável, e a fabricante de aviões Embraer, campeã na recém-criada categoria Grande Empresa. A presidenta comentou o sucesso da manauara Pentop, que criou uma caneta capaz de reconhecer caracteres impressos e fazer a leitura de textos para deficientes visuais, o que lhe garantiu o prêmio de Tecnologia Assistiva. O aparelho criado por Marcos Aurélio Corrêa Machado, o Inventor Inovador do ano, capaz de auxiliar laboratórios nas análises clínicas, e o sistema desenvolvido pelo Instituto de Desenvolvimento Sustentável de Mamirauá – ganhador na categoria Tecnologia Social – para captar e distribuir água a populações ribeirinhas com o uso de energia solar também foram citados.

“Essas experiências são a prova de que a associação do conhecimento com ciência e tecnologia gera inovação na cadeia produtiva e produtos mais sofisticados”, concluiu a presidenta. “São exemplos de que nós podemos ter, de fato, um País com padrão de inovação que torne nossas empresas referência internacional.”

De acordo com Dilma, a falta de estímulo à inovação está entre as barreiras ao crescimento do País, e os esforços realizados para desatar mais esse nó terá peso na recuperação da economia esperada a partir de 2013. “Eu estou certa de que, por tudo o que nós fizemos em 2012, o Brasil vai ter um crescimento sistemático nos próximos anos, sistemático e sustentável. Nós estamos tratando dos principais gargalos do País, depois de ter feito um processo que tirou milhões da pobreza. A ponte está dada pela educação, e a educação é a base da produção, em grande escala, de tecnologia e de inovação”, afirmou Dilma. “Este País tem de crescer, e precisa dos empresários, dos inovadores.”

Os vencedores do Prêmio Finep percorreram um longo caminho até a etapa nacional. Antes, tiveram de vencer a disputa em suas respectivas regiões. As primeiras colocadas passaram por um júri que fez a avaliação presencial, que consiste em uma apresentação de 10 minutos de cada concorrente. “Temos 180 nomes no cadastro de jurados, e eles realmente colocam os candidatos na parede na etapa final”, conta o coordenador nacional da premiação, Carlos Ganem. “Quem se apresenta fica nervoso, e também emociona o júri, que sabe estar diante do desfecho de um movimento vultoso, marcado no tempo por acertos e fracassos.”

O coordenador explica que as companhias e entidades que querem concorrer ao Prêmio Finep têm de comprovar pelo menos três anos de atuação. “As pesquisas mostram que, apesar da taxa de mortalidade ainda alta das organizações brasileiras, quem passa dessa idade tem grande chance de se perpetuar”, explica.

As empresas participantes são divididas pelo porte, conforme os critérios adotados pelo BNDES: até R$ 16 milhões em faturamento, micro e pequenas, deste valor até R$ 90 milhões, média, e, a partir daí, grande. A categoria Tecnologia Assistiva foi criada a partir da constatação de que, apesar da preocupação em atingir o novo público da classe média emergente, os empreendedores têm deixado de lado um mercado de mais de 13 milhões de brasileiros que são portadores de algum tipo de deficiência. Outra categoria considerada especial, Inovação Sustentável, surgiu a partir das discussões da Rio+20, a conferência internacional de sustentabilidade realizada em 2012. “Muita tecnologia foi desenvolvida por grupos brasileiros e mostrada apenas durante o evento, o que não é o bastante para dar visibilidade a essas iniciativas, tão demandadas em todo o mundo”, avalia Ganem.

O Prêmio é capaz de reconhecer esforços realizados em áreas específicas dos grandes centros de conhecimento, ao destacar, na categoria Instituto de Ciência e Tecnologia, não as universidades, por exemplo, mas os laboratórios criados no interior de departamentos – sempre sem fins lucrativos. Na área de Tecnologia Social, um critério fundamental para a escolha do vencedor é a possibilidade de replicar a ação em outras localidades, para que os benefícios obtidos não fiquem restritos a uma só comunidade ou população.

A região Norte, conforme assinalou Dilma Rousseff, se destacou nessa
edição do Prêmio Finep. Dos seis finalistas locais, quatro foram vencedores. Além do Instituto de Desenvolvimento Sustentável de Mamirauá e da Pentop, a Amazon Dreams foi a campeã da categoria Pequena Empresa, com sua tecnologia capaz de utilizar a química fina na obtenção de compostos antioxidantes e óleos naturais a partir de espécies nativas do bioma amazônico. E o adolescente Miguel das Mercês dos Santos recebeu o prêmio Jovem Inovador, na categoria que destacou a melhor foto sobre o tema energia renovável.

As empresas do Norte receberam, de 2007 a 2012, cerca de R$ 360 milhões em financiamentos concedidos pela Finep. Embora tenha conquistado quatro dos 12 prêmios de primeiro lugar concedidos na etapa nacional, o número de inscritos foi o menor entre as regiões: apenas 39, enquanto Sudeste e Sul disputaram com quase 200 candidatos, cada uma. O Nordeste registrou 81 inscrições.

Segundo o presidente da Finep, os finalistas do Prêmio souberam utilizar um tripé formado por tecnologia, talento e tolerância. Tecnologia para assumir uma posição de liderança em suas áreas de atuação, talento na base de seus quadros de colaboradores e tolerância ao novo e à diversidade. “Sem as pessoas certas, estimuladas, não haverá empresa inovadora. Sem o povo bem educado, qualificado, nosso País arrisca perder todos os avanços conseguidos”, disse Arbix, antes de anunciar que o foco da agência, em 2013, estará em sua participação em um “superprograma de investimento e apoio à inovação, um programa do tamanho do Brasil”. “Há pouco mais de dez anos o Brasil aceitou o desafio da inovação, e hoje este desafio está colocado pela presidenta Dilma Rousseff em um patamar superior. Nós temos certeza de que os resultados serão ainda maiores do que estamos vendo hoje.”

O ministro Raupp acrescentou que há diversos movimentos em curso que devem reforçar o apoio do setor público à inovação. E citou os primeiros resultados do programa Ciência sem Fronteiras, que em 2012 concedeu 22 mil bolsas para estudantes brasileiros interessados em estudar no exterior. A meta, para 2013, é patrocinar a formação internacional de mais 40 mil jovens. Em paralelo, de acordo com o ministro, está em formatação um sistema que deverá facilitar a contratação desses bolsistas pelas empresas, que já estariam manifestando interesse em absorver essa mão de obra altamente qualificada.

“A importância da inovação está escancarada na política industrial do governo Dilma, o Plano Brasil Maior”, afirmou Raupp. “São esforços equivalentes aos despendidos em outras áreas da economia, como a redução dos juros ou o controle da inflação.” O ministro lembrou que, até 2002, os instrumentos de apoio à inovação eram, praticamente, o crédito da Finep e os incentivos da Lei de Informática.

Hoje, prosseguiu o ministro, outras portas estariam abertas com a entrada do BNDES nesse mercado, além da possibilidade de agentes públicos assumirem participação em empresas ou posições em fundos de capital de risco. A chamada Lei do Bem e a política de criação de incubadoras e parques tecnológicos também foram citadas. Embora continue a enxergar a criação de um marco legal para a inovação como “um gargalo de difícil passagem”, Raupp disse ter a expectativa de uma notícia boa neste ano: a não aplicação de contingenciamentos aos recursos do Fundo Nacional de Ciência e Tecnologia.

Entre as diretrizes de 2013, Raupp destacou o propósito de alinhar todas as instituições ligadas ao Ministério às diretrizes do desenvolvimento. “A inovação vai nos unir, na administração pública, no setor privado e nos institutos de ciência e tecnologia”, concluiu.


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