Para iniciar as comemorações do centenário de Tomie Ohtake (nascida em Quioto em novembro de 1913 e naturalizada brasileira), o instituto que leva seu nome, em São Paulo, não optou por realizar uma exposição individual da patrona, mas sim por montar uma grande mostra com obras de Tomie e de diversos outros artistas de diferentes gerações.
A explicação, segundo Agnaldo Farias (que divide a curadoria com Paulo Miyada) é muito natural para quem conhece a artista mais de perto. “A Tomie é uma pessoa que sempre acompanhou os outros artistas, sempre quis saber deles. Ela ama os colegas. Então nós achamos que a melhor homenagem, nesse primeiro momento, não seria fazer uma individual”, diz ele.
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Foi em tom de homenagem, portanto, que a mostra “Tomie Ohtake – Correspondênciais” foi aberta nesta quarta-feira, dia 6, com obras de nomes tão variados como Mira Schendel, Oscar Niemeyer, Alfredo Volpi, Chiara Banfi, Nuno Ramos, Cildo Meireles, Paulo Pasta, Waltercio Caldas, Jac Leirner, Fabio Miguez e Daniel Steegman, entre outros.
Com a proposta de estabelecer relações de aproximação e contraposição entre a produção destes artistas e a de Tomie, a curadoria não se preocupou em traçar um discurso linear e racional, como explica Farias. Pelo contrário, a escolha dos artistas partiu, por vezes, de intuições e associações livres. “Porque muito do que acontece em nossas vidas vem de encontros fortuitos, de afetividade, de leituras subliminares e até mesmo inconscientes”, diz.
E o curador prossegue: “Então buscamos artistas que pudessem enriquecer a discussão, tendo proximidades óbvias ou apenas sutis com a obra da Tomie. Vários deles ficaram surpreendidos. Alguns nem entenderam a relação, mas todos aceitaram, porque a ideia é de uma grande celebração”.
Outros participantes
O artista paulista Paulo Pasta, com um quadro na mostra, parece ser um dos que não enxergam relação tão direta entre seu trabalho e o de Tomie, e até por isso elogia a exposição. “A obra de arte é aberta a múltiplas possibilidades, ela nunca para de produzir novos sentidos. E acho que a função de uma curadoria talvez seja essa, descobrir novas funções e ligações”, diz Pasta.
Também com uma obra exposta, o artista pernambucano Manoel Veiga estabelece um vínculo mais claro entre o seu trabalho e o de Tomie, ao menos no que se refere a uma das fases da obra da homenageada. “Eu acho que ela tem uma conexão com a natureza que talvez seja para mim o vínculo mais próximo entre nós. Mas os diálogos podem se dar de várias maneiras, em vários níveis, e essa é a graça da exposição.”
Mas se a presença (na exposição) de artistas com obras tão diversas poderia explicitar uma pluralidade da obra da própria Tomie, não é isso o que afirma o curador. “Existem artistas que vão abrindo vários territórios, e outros que vão em profundidade. Eu acho que a Tomie é uma pessoa que vai em profundidade. Mas, indo em profundidade, você termina sendo universal”, diz Farias. E ele conclui: “Então o trabalho dela não tem tanta diversidade, mas a maneira como ela tira o diverso do detalhe, da repetição, isso que é o extraordinário”.
Serviço: Instituto Tomie Ohtake; de terça a domingo, das 11h às 20h, grátis; até 24/3
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