Meus caros, temos de volta às telonas, no filme VIPs, ninguém menos que Wagner Moura, um de meus ícones, dessa vez vivendo um papel para lá de complexo. Chega a ser difícil dar-lhe um nome no filme, pois ele mesmo assume vários, vive um delinquente que pratica tantos e tão diferentes crimes, que demonstra fundamentalmente um talento: ser quem não é. Para um ator, principalmente o grande Moura, é uma obrigação, sempre muito bem cumprida, diga-se. Mas, viver um personagem que não sabe quem é, e que vive diferentes pessoas, acreditando ser a todas, menos a si mesmo, aí é que está a grande arte do personagem e de Moura. Marcelo, o nome oficial do personagem, a pele na qual nasceu, não suporta a sua própria insignificância, segue vestindo a de outras pessoas, e vive a vida dos outros, sempre mais glamourosa. Seu talento para isso é inacreditável, leva a própria polícia a acreditá-lo como policial, ao Exército a aceitá-lo como um dos seus, até chegar ao ápice, quando consegue se fazer passar por filho do dono da companhia aérea Gol, ganha as credenciais para frequentar o grand monde em um super evento em Recife, e é tão convincente que consegue helicóptero e jatinho emprestados, pilota ambos, e ninguém tem noção de que ele não passa de um farsante.
Até que ponto ele realmente acredita ser outra pessoa é matéria para longas deblaterações, inúteis aos olhos da lei, somente grandes advogados, muito bem intencionados e municiados, conseguiriam prová-lo inimputável com base em insanidade mental, e isso seria não apenas inútil, como perigoso. Deixá-lo à solta seria um risco para a sociedade, pois ele não se limita a divertidas invasões a grandes festas, passando-se por rico, ele se joga com tudo no crime pesado, tráfico organizado, levando e trazendo drogas entre Brasil e Paraguai. Pilotar ele até pilotava, mas seus documentos eram todos falsos, como tudo mais na sua vida era uma mentira.
Eu já me perguntei, falando de diversos atores, Moura incluído, se eles sabem quem realmente são, pergunta só respondível quando os conhecemos pessoalmente. Quando fui ouvi-lo cantando na banda Sua Mãe, indaguei-me se o então cantor brega sabia quem era – certamente sim. Sua mulher, e seus dois filhos, lindinhos, sabem quem ele é, e isso lhes basta. O filme é ótimo, diverte, o personagem vai levando a plateia de encrenca em encrenca, superando-se sempre. Vale muito a pena, diversão garantida. Abraços do Cavalcanti.
Deixe um comentário