Muito além de Shankar

A atriz Maitê Proença certa vez disse que Lima Duarte gostava de contar histórias para não precisar falar de sua vida pessoal. A verdade é que muitos dos “causos” contados pelo ator têm ligação com a sua própria vida, como a história de sua infância ao lado de seus pais e avós no interior de Minas Gerais, a vinda para São Paulo, em 1946, após uma dura briga com o seu pai, Antonio Venâncio, que o mandou embora na boleia do caminhão de um amigo. Nesta entrevista que deu com exclusividade à Brasileiros, Lima fala de sua carreira no rádio, cinema, televisão e teatro, o trabalho na novela Caminho das Índias, como o personagem Shankar, e seu deslumbramento pela cultura do povo indiano. Conta um pouco mais de sua vida pessoal, de sua família, relacionamentos, a paixão por literatura, e menciona a polêmica entrevista que deu para o jornal Folha de São Paulo em 2006, que quase lhe fez pedir demissão da Rede Globo. Lima ainda fala de política, de quando quase aceitou ser candidato a vice-presidente na chapa do Mário Covas – nas eleições para presidente da República de 1990 -, e revela a sua convivência por mais de dois anos com Assis Chateaubriand no período em que o empresário ficou impossibilitado de falar, por causa de um AVC.

Brasileiros – Quem é esse verdadeiro homem brasileiro que você diz representar nesses mais de 60 anos de carreira?
Lima Duarte – Ao longo da minha existência, convivi com esse homem simples brasileiro, com essa gente… Quando me tornei ator, procurei incorporá-lo nas minhas interpretações, pois acho que somos essencialmente gente da terra, assim como os personagens do escritor João Guimarães Rosa. Essa gente é minha partitura principal, minha matriz de criação.

Brasileiros – Você sempre usou sua memória afetiva para criar seus personagens. Fale um pouco sobre isso.
[nggallery id=15363]

L.D. – A minha base familiar foi muito forte e importante para mim. Essas lembranças vêm me assombrando todos esses anos. Estou com quase 80 anos (o ator faz aniversário em 29 de março) e tenho a impressão de que várias passagens da minha infância aconteceram ontem. Minha mãe, que se chamava América, era atriz de circo e muitas vezes me levava para assistir suas apresentações, inclusive eu participava como ator e seu ajudante em várias dessas apresentações. Tenho uma recordação muito linda e nítida dela no circo. Ela estava uma noite se apresentando e começou um barulho grande vindo da rua. Ela me chamou num canto e me mandou sair para saber o que estava acontecendo. Quando voltei, disse que o povo lá fora estava falando que a guerra tinha acabado (era o fim da Segunda Guerra Mundial, setembro 1945). Ela olhou para a plateia e disse com entusiasmo que a guerra havia acabado e começou a cantar o Hino Nacional Brasileiro. Na minha memória afetiva, a guerra acabou quando minha mãe cantou o hino naquela noite no circo. Em 1948, eu morava em uma pensão em São Paulo, quando meu pai apareceu – nessa época, ele e minha mãe moravam no interior de São Paulo e eu tentava a sorte nesta cidade grande e louca. Eu tinha 18 anos quando meu pai bateu na porta do quarto com um embrulho na mão e disse: “Veste este terno que eu lhe comprei, que vamos para Santos conhecer o mar”. Nem eu nem meu pai conhecíamos o mar. Descemos a Serra e, quando chegamos na praia, vi o mar pelo olhar deslumbrado do meu pai. Então, fui alugar um calção para entrar na água, e meu pai não quis tirar o terno – ficou sentado na calçada só observando a imensidão do mar. Mas ele me pediu que fosse pegar um pouco da água salgada do mar, num copo, e eu fui. Quando voltei, ele cheirou a água do copo, colocou um pouco na língua e fez uma careta de satisfação. Disse que realmente a água era salgada, e começamos a rir. Então, o que eu busco com meus personagens é a lembrança da minha mãe cantando o Hino Nacional naquela noite e do olhar do meu pai diante do mar.

Brasileiros – Você tinha dito, em uma entrevista, que havia cansado de fazer novela. Por que aceitou fazer Caminho das Índias, de Glória Perez?
L.D. – Quando disse que não queria mais fazer novelas naquela ocasião (em uma entrevista dada ao jornal Folha de São Paulo em março de 2006), eu realmente estava cansado de fazer quase sempre a mesma coisa, pois as novelas vêm se repetindo muito nos últimos anos. Mas não sei fazer outra coisa que não representar e, por não querer me aposentar, ainda tenho de continuar a fazer novelas ou qualquer outro trabalho na televisão. Em relação ao meu personagem, Shankar, de Caminho das Índias, foi uma grata surpresa para mim, pois, por causa dele, conheci a Índia e fiquei espantado e maravilhado com aquela cultura milenar. A Índia é ao mesmo tempo surpreendente, interessante e assustadora. Lá há um pouco de tudo, como uma infinidade de religiões que você passa a aceitar. Então, o personagem me deu a possibilidade de conhecer e aprender uma cultura rica e loucamente deslumbrante. Na Índia, o todo tempo você tem contato com o outro, que para mim é a base de todo conhecimento humano.

Brasileiros – Na entrevista à Folha de São Paulo, você fez críticas à Rede Globo, ao Bispo Edir Macedo, Silvio Santos, ao Lula… É verdade que você teve de se retratar para continuar na Globo?
L.D. – Primeiramente, gostaria de explicar que me retratei na Globo e com meus colegas de trabalho, não para continuar na emissora. Fiz isso porque a entrevista que dei para a Folha de São Paulo foi mal editada e eles descontextualizaram o que falei. Foi por isso que me retratei, pois assumo o que digo. Quando a matéria saiu e começou a repercussão na mídia, fui falar com minha filha e preparar a minha carta de demissão, pois o clima ficou insustentável. Só dei aquela entrevista ao jornal para poder divulgar três filmes meus que iriam estrear nos cinemas. Quem iria fazer a entrevista era Inácio Araújo, um conhecido meu, e um dos principais críticos de cinema do País. Só que ele não foi me entrevistar sozinho, levou uma jornalista, a Laura Mattos, que acompanhou minha conversa com Inácio. Antes mesmo que a entrevista começasse, ela anotou toda a conversa que eu tive com Inácio informalmente, como se naquele momento fosse a entrevista propriamente dita. Então, eles colocaram da maneira que quiseram. Se tivessem colocado da maneira que eu falei, essa entrevista não seria daquela forma e não iria repercutir negativamente, como repercutiu. Essa jornalista inclusive tem nome de vilã de novela das oito (risos). Não é de hoje que a imprensa manipula a informação e isso muitas vezes é para atender aos interesses desses grupos, desses jornais.

Brasileiros – Quais são seus planos para depois de a novela terminar?
L.D. – Tenho de viajar para Portugal para fazer uma participação no novo filme de Paulo Rocha, cineasta português com o qual já trabalhei em 1998, quando fiz o filme O Rio do Ouro. Talvez eu aproveite minha ida a Portugal para visitar novamente a Índia, conhecer mais um pouco o país.

Brasileiros – Você fez uma infinidade de personagens, no rádio, televisão, teatro e cinema. Tem algum personagem muito especial?
L.D. – Adorei fazê-los todos, seja Zeca Diabo, Salviano Lisboa, Carijó, Sargento Getúlio, Dr. Athos Brasil, Sinhozinho Malta, Murilo Pontes, o faroleiro José, padre Antônio Vieira, Osias, Osíris… São tantos que até me esqueço dos nomes. Poderia citar mais uma dúzia de personagens, mas o que mais me deu prazer em fazer foi Sassá Mutema, que representa a síntese do homem simples brasileiro, que para mim é a essencialidade da alma da nossa gente. Um homem que vem do nada e passa para o entendimento, mas que infelizmente perde sua essência pela influência dos homens corruptos. Fiz esse personagem com muito zelo, mas houve muita interferência na história da novela e na construção do personagem, muito em função da eleição presidencial de 1990, disputada entre Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Collor de Mello. Tiveram de mudar a história, pois a trajetória do Sassá Mutema estava sendo comparada com a de Lula. O que é irônico em tudo isso foi que, com medo de eleger Lula, colocaram a faixa de presidente no Fernando Collor. Essas são nossas contradições, esses são nossos erros, essas são nossas mazelas.

Brasileiros – Tem algum personagem na televisão que você gostaria de fazer?
L.D. – Há muito tempo almejo fazer um trabalho com a atriz Laura Cardoso, que seria chamado Os Anormais (inspirado na série da TV Globo Os Normais, protagonizada por Luiz Fernando Guimarães e Fernanda Torres), em que faríamos dois catadores de lixo que têm um filho com síndrome de Down. Eles vão catando lixo e coletando histórias de vida que se encontram numa cidade grande. Além disso, pegam revistas e jornais velhos e comentam sobre as notícias do Brasil, país que teima em não valorizar sua gente e sua história. Eu fico imaginando até quando os políticos corruptos, essa famigerada miséria de políticos ladrões, vão afrontar e desrespeitar essa nação, esse povo. Por isso, acho que só a educação e a cultura é que podem nos salvar dessa praga de políticos interessados em encher seus bolsos, de seus familiares e de seus comparsas. Tudo isso me enoja e me entristece demais. Acho que vou ser sempre grato à minha filha Mônica (do primeiro casamento do ator com a atriz Marisa Sanches) que me aconselhou a não aceitar o convite para ser político. Ela disse que eles iriam destruir minha história.

Brasileiros – É verdade que você iria ser candidato a vice-presidente na chapa do Mário Covas nas eleições presidenciais de 1990?
L.D. – Só não fui porque minha filha Mônica me demoveu da ideia. Hoje, fico imaginando se o Mário Covas tivesse ganhado como estaria o Brasil atualmente. Na época, fazia a novela O Salvador da Pátria e estava com a popularidade em alta, mais alta do que o nosso presidente hoje (risos). Eu, que sou partidário do PSDB, fui convidado para uma reunião com alguns membros do partido, Mário Covas, José Serra entre outros. Quem me pegou no aeroporto e serviu de motorista foi o Fernando Henrique Cardoso. Imagina, o futuro presidente do país como meu motorista (risos)? Fomos até uma chácara e ficou decidido que eu entraria na chapa do Covas como vice e faríamos comícios por todo o Brasil, inclusive foi cogitado contratar Chitãozinho e Xororó para cantar no palanque em alguns desses comícios. Acho que teríamos embaralhado a sucessão presidencial e, quem sabe, até possibilidade de vencermos. Quando voltei dessa reunião, fui procurar minha filha Mônica, que me aconselhou a desistir da ideia. Então, fiquei somente na intenção de ter sido o vice-presidente do Mário Covas, que eu admirava muito, mas fiquei do lado da minha essencialidade, que é a arte de representar minha gente, de ser ator.

Brasileiros – Você teve muitos êxitos na carreira de ator de novela, teatro, rádio e cinema e também como diretor e apresentador do programa Som Brasil. Mas teve um tremendo fracasso que quase lhe custou a saída da Rede Globo, que foi a direção da novela O Bofe, de 1972, de Bráulio Pedroso. Por favor, comente sobre isso.
L.D. – Eu tinha feito muito sucesso na TV Tupi como diretor em duas novelas, O Direito de Nascer, em 1964, e Beto Rockfeller, em 1968. A primeira novela tinha personagens amoráveis e foi realizada conscientemente para alcançar as emoções mais puras do telespectador. A segunda, como todos sabem, foi um divisor de águas na teledramaturgia brasileira, pois Beto Rockfeller conseguiu mostrar personagens críveis, sem maneirismos e impostações, que era usual nas novelas daquela época. As novelas da época geralmente eram adaptações de folhetins mexicanos e de outros países. Com essa novela (Beto Rockfeller), conseguimos mostrar personagens que tinham a nossa cara, nossa maneira de falar e pensar. Então, fui para a Globo para continuar com esse trabalho de diretor, só que no meio do caminho tinha não somente uma pedra, como diria o nosso poeta maior, Carlos Drummond de Andrade, mais várias. A novela O Bofe, que tinha estética e temática bastante avançadas para época, foi um tremendo fracasso. O título da novela já era uma provocação, e fazia alusão à relação amorosa do personagem principal, que era homossexual, com um jovem, o bofe do título. Sendo eu o diretor da novela, o fracasso caiu mais nas minhas costas e na do autor da novela, Bráulio Pedroso. Fiquei encostado e marginalizado na emissora. Lembro-me de que as pessoas passavam por mim nos corredores e faziam comentários maldosos, me apontando como um fracassado, um pé frio. Foi aí que surgiu a oportunidade de trabalhar como ator na novela O Bem Amado, do Dias Gomes, que seria a primeira novela “colorida” da Globo. O Daniel Filho me fez o convite, juntamente com o Boni (José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, que foi durante muito tempo diretor artístico da emissora). Eu iria fazer um personagem que participaria dos seis primeiros capítulos da novela, tempo em que acabaria o meu contrato com a Globo e eu seria dispensado. O personagem era o Zeca Diabo, um temido matador, devoto do Padre Cícero, que ele chama “Padim Ciço” e temente a sua santa “maizinha”. Eu estudei a psicologia do personagem e pedi permissão à direção da novela para compor o vestuário e os trejeitos do personagem. Lembro-me de que fui até o Brás (bairro central de São Paulo) procurar algumas roupas para o Zeca Diabo. Foi muito engraçado o primeiro dia da minha gravação. Cheguei montado num cavalo, apeei-o em frente a um boteco e entrei, com todos me olhando, e cheguei num balcão e pedi uma cachaça ao atendente, com aquela voz meio afeminado. Todos riram, pensando que o Zeca Diabo era viado. Não deu outra, e o personagem ganhou a simpatia do público e eu fiquei na novela e na Globo até hoje (risos).

Brasileiros – Você foi a “voz” do Assis Chateaubriand quando ele teve um AVC (acidente vascular cerebral), que o deixou sem locomoção e com dificuldades de falar. Como foi isso?
L.D. – Trabalhava na TV Tupi, que pertencia à rede de empresas de Assis Chateaubriand, quando ele teve o AVC. Ele já conhecia o meu trabalho e gostava dele, inclusive da minha voz. Lembro que fui na casa dele, no Jardins, bairro nobre em São Paulo, e fui apresentado a ele. Ele estava na cama e me olhou com aqueles olhos vivos. Ele grunhiu algumas coisas, que entendi em parte. Ficou acertado que eu iria redigir e falar para Chateaubriand. E assim foi durante dois anos e poucos meses, até a morte dele. Com o agravamento de sua saúde, muitas das coisas que ele dizia eu não entendia e inventava, e ele passou a gostar do que eu inventava. Mas no início, ficava bastante chateado quando ele dizia uma coisa e eu entendia outra. Era muito doloroso ver um homem como ele, que tinha uma energia tão grande, prostrado em uma cama, preso num corpo imóvel. Muitas vezes, olhava para os olhos dele e me parecia que eles iam saltar para fora, tamanha era a força daquele homem. Foi uma experiência muito rica e prazerosa conviver com ele durante esse tempo. O velho Chatô, um dos homens mais poderosos e inteligentes desse País, foi um dos mais belos aprendizados da minha vida. Tinha carinho e respeito muito grandes por ele.

Brasileiros – Uma vez Fernando Morais, que escreveu a biografia sobre Assis Chateaubriand, disse que te procurou durante mais de um ano para entrevistá-lo sobre sua convivência com Chatô, mas que você nunca retornou seus telefonemas. Daí ele desistiu de entrevistá-lo e fez o livro sem seu depoimento. Por que você não quis falar com ele?
L.D. – Minha convivência com Assis Chateaubriand foi uma coisa muito minha, muito íntima, muito pessoal. Não queria dividir aquilo com ninguém. Eu não dei a entrevista porque achei que aquelas histórias não teriam nenhuma relevância para a biografia do Assis Chateaubriand. Achava a vida dele tão fantástica, tão rica, tão humana, que nenhuma biografia conseguiria mostrar a alma daquele ser humano contraditório. Foi por isso. Não conhecia o escritor Fernando Morais e não tinha nada contra ele.

Brasileiros – Como foi fazer as vozes de personagens de desenho animado, como o gato Manda-Chuva, o jacaré Wally Gator e cachorro Dum-Dum, da Tartaruga Touché?
L.D. – Foi muito divertido, sempre gostei desses personagens, que alimentaram muito a criança que sempre preservei dentro de mim. Quando meus netos eram pequenos, eu assistia aos desenhos com eles e dizia que a voz daqueles personagens era minha, eles não acreditavam. Eu lembro que quando via esses desenhos com minha netinha Laura, filha da Júlia, eu falava para ela: “Olha, a voz do gato Manda-Chuva é do seu avô”. Ela me olhava e dizia: “Você não é tão bom assim” (risos).

Brasileiros – Qual desses personagens infantis você gostou mais de fazer?
L.D. – Apesar de o gato Manda-Chuva ter sido o mais conhecido e adorado, sempre gostei de fazer o cachorro Dum-Dum. Eu o achava bem amoroso e muito fiel à Tartaruga Touché. Havia algo de muito humano nesse cachorro, com sua simplicidade e fidelidade com os outros e com o mundo a sua volta. Adorava fazer a voz dele (imita a voz do cachorro): “O Touché, não fui eu que fiz isso, não” (risos). O gato Manda-Chuva era um espertalhão que vivia passando o Guarda Belo para trás, por isso muitos gostavam dele, de sua esperteza, de sua ironia. Mas o cachorro Dum-Dum era mais gostoso de fazer, mais terno, um cachorro mais humano do que muita gente por aí (risos).

Brasileiros – Você foi casado cinco vezes e há muitos anos vive sozinho em um sítio no interior de São Paulo. Não nasceu para viver a dois ou foi mera contingência da vida?
L.D. – Sempre fui muito louco, muito delirante, para viver ao lado de alguém. Amei várias mulheres e acho que fui amado por elas, mas nasci para viver comigo, com meus personagens, com minhas lembranças. Mas, se tive realmente um verdadeiro amor, esse aconteceu quando eu já era um homem maduro. Amei loucamente uma atriz e acho que ela, da maneira dela, me amou também. Esse sentimento, esse louco amor, já foi suficiente para mim. Tem gente que vive a vida inteira sem nunca ter conhecido o sentimento de amor, por isso, sou feliz por ter amado essa mulher. As outras, as amei de outra forma, mas não foi um amor tão intenso, tão loucamente maravilhoso. Mas não nasci para viver ao lado de ninguém, sou um amante de mim mesmo. Quando era mais jovem e bonito (risos), tive muitas mulheres, fazia sucesso entre elas (risos), sabia agradá-las e amá-las direitinho e, por isso, tinha sorte com elas. Mas o tempo foi passado e minhas idiossincrasias foram aumentando, por isso penso que hoje ficou insuportável para elas viverem ao meu lado.

Brasileiros – Você disse certa vez que nunca foi um pai clássico e nem um avô clássico – é pai de quatro filhos, Mônica, Júlia, Pedro, Débora Duarte; e tem seis netos, Paloma Duarte, Daniela Gracindo, Beto, Fábio, Karina e Laura. Agora, como bisavô (de Júlia, Clara e Maria Luiza) poderíamos dizer que também não é um bisavô clássico?
L.D. – Nunca fui um pai presente, nem um avô presente; acho que com minha neta Laura, filha da Júlia, fui mais presente. Em relação aos meus bisnetos, acho que pequei da mesma forma. Eu sou muito delirante e tive uma infância muito rica com meus pais e meus avós. Não me esqueço da relação do meu pai com a mãe dele, que era bugra. Eles ficavam pelos cantos conversando e ninguém podia chegar perto. Eles se reuniam no quintal debaixo de uma árvore e minha avó repartia uma laranja com ele e, juntos, ficavam conversando num linguajar que só eles entendiam. O meu avô era muito engraçado. Ele, que não sabia ler, pedia que eu lesse os jornais da época, que falava sobre os episódios da Segunda Guerra Mundial. Eu ia lendo as notícias e, quando tinha alguma notícia que não gostava, ele dava um cascudo na minha cabeça. Com o tempo, aprendi a contar só aquilo que ele gostava, passei a inventar uma guerra própria só para ele (risos). Essa vivência com meus pais e meus avós foi tão intensa, tão rica, tão deslumbrante, tão terna, tão engraçada, tão estranha, que fiquei assim, com o pensamento perdido nela… Esqueci de ser esse pai, esse avô e esse bisavô presente. Mas amo muito, todos os meus, mas do meu jeito.

Brasileiros – Neste ano, você completa 60 anos de carreira no cinema. De certa forma, sua carreira na telona ficou numa espécie de A Terceira Margem do Rio, como diria Guimarães Rosa, ou seja, desconhecida do grande público e pouco estudada e comentada pela crítica. Você tem algum ressentimento por isso?
L.D. – Já fiquei muito ressentido, mas hoje não. Sei que o cinema nacional ainda é pouco visto por nós e sempre me considerei um ator de televisão, veículo que tenho, acho, um certo domínio, pois estou nele desde que ele foi fundado em 18 de setembro de 1950 e de onde nunca saí. Mas tenho grande admiração pelo cinema, tenho lembranças muitos bonitas de filmes que assisti na infância e na juventude e adoro a sétima arte. Fiz alguns filmes que acreditei que valiam a pena, muitos não foram do jeito que pensei, mas não me arrependo de tê-los feito. Todos comentam do meu personagem no filme Sargento Getúlio, de Hermano Penna, que, segundo a crítica, consagrou minha carreira no cinema. Mas tenho outros trabalhos que me orgulham muito de tê-los feito, como Guerra Conjugal, O Jogo da Vida, A Queda, Corpo em Delito (meu melhor trabalho no cinema), A Ostra e o Vento, Eu Tu Eles… Além dos filmes que fiz em Portugal, em especial os dois realizados com Manoel de Oliveira, o cineasta mais velho em atividade no cinema – ele tem mais de 100 anos -, que foram Palavra e Utopia e Espelho Mágico. Não posso deixar de citar os dois filmes que fiz com Ugo Giorgetti, que foram Boleiros 1 e 2. Me diverti muito fazendo o personagem do técnico. O que me aborrece são as pessoas, os jornalistas principalmente, desconhecerem meu trabalho no cinema e só falar dos meus personagens na televisão. Se não respeitam meu trabalho, pela qualidade, pelo menos deveriam respeitá-lo pela quantidade, pois são mais de 30 filmes, e eu nunca deixei de fazer televisão, que quase toma o tempo integral da minha carreira. Gostaria de ter feito mais cinema, mas a televisão, as novelas, melhor dizendo, me impediram de trabalhar em filmes. Mas são contingências da profissão e não tenho do que reclamar, pois bem ou mal eu fiz os filmes que quis fazer.

Brasileiros – Tem algum filme que você não fez, mas que gostaria de ter feito?
L.D. – Eu gostaria de ter feito o papel de Matraga no filme A Hora e a Vez de Augusto Matraga, de Roberto Santos, por gostar muito do escritor Guimarães Rosa, mas não acho um grande filme. Acho que poderia ter feito o papel do Zé do Burro no filme O Pagador de Promessas, de Anselmo Duarte, mesmo reconhecendo o grande trabalho que o ator Leonardo Villar fez nesse filme, em que ele estava mais à vontade do que no papel de Augusto Matraga, que ele fez também. Eu ia fazer o papel que coube ao ator Átila Iorio no filme Os Fuzis, de Ruy Guerra, mas não pude fazer. Nunca pude sair da televisão e das emissoras que trabalhei, Tupi e Globo, porque eles sempre me acharam bom nesse ofício de ator de televisão.

Brasileiros – Você é bastante crítico de alguns filmes que fez, principalmente os adaptados de livros ou textos literários. Por que essa exigência?
L.D. – Eu sou um apaixonado pela literatura, pelos escritores, pela palavra. Penso que essa paixão muitas vezes interferiu na minha análise sobre os filmes que fiz. Mas quando o filme não foi bom, no meu entendimento, mesmo não sendo adaptado da literatura, também critiquei, pois acho que fazer um trabalho de ator não é meramente decorar um texto e fazer seu papel. Eu gostei muito de ter feito Guerra Conjugal, adaptado do escritor Dalton Trevisan. Ele é um profundo conhecedor da alma humana, assim como todo grande escritor, que filtra o que escuta e transforma em grande literatura. Dalton Trevisan é um especialista na dor de viver, da miséria do cotidiano, das almas desencontradas, da sexualidade. Foi assim também com o filme O Jogo da Vida, com base no livro Malagueta, Perus e Bacanaço, do escritor João Antônio, que trouxe a vida operária de São Paulo para a literatura brasileira. Mas sei que Sargento Getúlio, com base no livro homônimo do escritor João Ubaldo Ribeiro, foi o meu filme melhor adaptado de um livro. No entanto, é um filme muito pobre, com recursos técnicos muito precários, o que de certa forma comprometeu um pouco o resultado final. Entre os filmes adaptados de livros que fiz, o mais infeliz, e que poderia ter sido um grande filme, foi Os Sete Gatinhos, com base na peça homônima de Nelson Rodrigues, que para mim é uma de suas melhores peças, se não a melhor. Mas o diretor Neville D’Almeida pecou muito na forma como retratou a história, na maneira de dirigir os atores. Um dia, estávamos no set quando apareceu o artista plástico Hélio Oiticica, que era um grande artista, mas que desconhecia completamente o ofício de dirigir um filme. Daí, o Neville disse que diante daquele grande artista ele não poderia criar nada, não poderia dirigir. Deixou a função para o Oiticica, que subiu numa espécie de grua e falou: “Eu não quero fazer sucesso na Suécia, quero fazer sucesso na Nicarágua. Ação!”. Ficamos, eu e as atrizes, perdidos, não sabíamos o que fazer. Eu disse: “Vamos andando para aquele lado, depois voltamos e andamos para o outro”, e assim foi feito. Pode parecer engraçado, mas isso me deixou muito insatisfeito, por saber que estava atrapalhando o resultado do filme.

Brasileiros – Há mais de duas décadas que você não faz teatro. Mas o que poucos sabem é que você fez dez anos de Teatro de Arena e, no início da sua carreira, participou do teleteatro no TV de Vanguarda, na TV Tupi Difusora, entre a década de 1950 e início da década de 1960. Conte-nos um pouco sobre essas experiências.
L.D. – Fiz por mais de uma década teleteatro no TV de Vanguarda exibido pela TV Tupi Difusora, onde fizemos quase todo o repertório do teatro mundial. Foi uma experiência muito gratificante e que me ensinou muito sobre os grandes clássicos do nosso teatro mundial. Lembro de ter feito o primeiro Hamlet da televisão brasileira (na TV Tupi, de Assis Chateaubriand), na peça de Shakes-peare, e também fui vítima da primeira crítica, feita pelo “príncipe dos poetas”, Guilherme de Almeida, que escrevia para o jornal O Estado de São Paulo. Ele escreveu: “O Hamlet do Assis Chateaubriand estava patético, mas não ridículo” (risos). Nesses anos todos, eu procuro ser patético, mas nunca ridículo.

Brasileiros – E como foi a experiência de uma década no Teatro de Arena?
L.D. – Lembro que o Chico de Assis, o Augusto Boal e Gianfrancesco Guarnieri estavam querendo fazer uma revolução cultural no teatro brasileiro, trazendo para seu palco o homem tipicamente brasileiro. Foi assim que, em 1961, eles foram à TV Tupi, onde eu trabalhava, e me convidaram para participar da peça O Testamento do Cangaceiro, de Chico de Assis. Queriam que eu representasse esse homem brasileiro. Essa foi a grandeza do Teatro de Arena, pois naquele momento as peças encenadas nos teatros, Teatro Brasileiro de Comédia (TBC) principalmente, eram baseadas em textos estrangeiros. Fiquei no Arena até seu fechamento, em 1971, quando estávamos em turnê pela Europa e Estados Unidos, e ficamos sabendo que o governo militar decretou o fechamento do Arena e a prisão de Augusto Boal. Devo ao Arena todo meu entendimento de compor um personagem, de entender sua psicologia, essa coisa que Constantin Stanislavski nos ensinou: pessoa, personagem, personalidade, ou seja, a psicologia e o papel social do ator.

ENCONTRO COM O AUTOR
Conheci o Lima Duarte em outubro de 2001, quando morava na rua Oscar Freire, onde ele tem um apartamento até hoje. Na ocasião, estava com um projeto de fazer um filme sobre o Cemitério da Consolação, localizado no centro de São Paulo, sobre as personalidades que estão enterradas lá, como Marquesa de Santos, Mário e Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral, Monteiro Lobato, e os ex-presidentes da República, Washington Luiz e Campos Sales. Está lá também um senador do Império chamado Eusébio Mattoso, que tinha escrito a lei que proibia o tráfego de navios negreiros, em 1850. Então, eu subia a Oscar Freire com o projeto na mão quando avistei o ator entrando em seu prédio. Fui abordá-lo no portão e falei do projeto. No primeiro momento, achou muito estranho aquela conversa, mas me escutou educadamente. Lima perguntou se eu não podia deixar algum material com ele, eu deixei uns rascunhos do roteiro do filme. Ele perguntou que papel eu estava pensando em oferecê-lo, e eu disse que era do Eusébio Mattoso, que ele já tinha ouvido falar. Fiquei de procurá-lo na semana seguinte e, para minha surpresa, quando o encontrei novamente, o ator me recebeu entusiasmado com o filme e com o seu personagem, inclusive já veio discutindo sobre Eusébio Mattoso, a história do cemitério e as outras personalidades enterradas lá. Depois desse encontro, fui desenvolvendo o roteiro do filme, que infelizmente, por vários motivos, ficou só no papel. O ator quando me encontrava perguntava sobre o filme e eu dizia que estava pesquisando, que era muito difícil fazer um longa-metragem no Brasil. Daí Lima rebatia: “Se demorar mais ainda eu vou aparecer, não como ator, mas como mais um daqueles ilustres moradores de lá, ou seja, mortinho da silva”.
*Depoimento do jornalista Amilton Pinheiro, autor desta matéria e curador da Mostra Lima Duarte: Profissão Ator, que comemora os 60 anos de sua carreira.

Brasileiros – Você é apaixonado pela literatura, principalmente pelo escritor João Guimarães Rosa. Qual a importância da palavra para o seu ofício de ator?
L.D. – Pode até ser um sacrilégio o que eu vou dizer agora, mas literatura para mim é antes de tudo entretenimento da alma. Quando leio, entretenho minha alma que passa a morar noutros lugares, noutros seres. Vou contar uma história para ilustrar o quanto a palavra foi e é importante para mim. Eu morava em Ribeirão Preto e, na época, era um meninote, trabalhava entregando vasos sanitários nas casas. Um dia, estava indo entregar um desses vasos sanitários e fazia um calor danado. Eu tirei o vaso da minha cabeça e fui me encostar numa sombra e sentei um pouco sobre o vaso e fiquei naquela sombrinha gostosa. Depois de uns instantes, olhei para cima e vi um prédio com um letreiro grande “Biblioteca”. Deixei a privada do lado, fui entrando e perguntei para uma senhora, que me pareceu ser funcionária, o que era aquilo. Ela me respondeu que era o lugar onde havia livros e onde as pessoas iam para fazer pesquisar, estudar e ler. Quando entrei, vi que havia umas pessoas sentadas e fiquei olhando meio deslumbrado com tudo aquilo. Vi que outra senhora, que devia ser outra funcionária, me encarava feio e, para disfarçar e descansar um pouco, me sentei numa cadeira em torno de uma mesa grande e em cima da mesa tinha um livro. Eu o peguei e fingi que estava lendo; olhava a senhora que me observava e também a privada que havia deixado do lado de fora, pela janela ao lado da mesa. Depois de uns segundos, fiquei mais calmo e comecei a ler o livro. Fui lendo, lendo, lendo e encantado com a leitura que esqueci até da senhora que me encarava e do vaso sanitário do lado de fora do prédio. O livro era Grandes Esperanças, do escritor inglês Charles Dickens, o meu livro preferido, muito em função da maravilha da descoberta da leitura e do prazer de me entreter com uma história. O personagem do Pipi entrou na minha alma para sempre e sempre que posso leio novamente Grandes Esperanças. Às vezes, me perguntou por que ao longo de todos esses anos eu fui lendo esse livro, e penso que o li para encontrar aquela privada ou aquela senhora que me olhou desconfiada ou simplesmente para voltar a me encantar com a descoberta do prazer de ler. Uma visão bem proustiana (Marcel Proust, que escreveu o grande Em Busca do Tempo Perdido) da busca de algo que ficou perdido em nossa memória. Eu li tanto Grandes Esperanças que até decorei trechos em inglês. Fico louco com isso, deliro com a palavra, com o prazer de conhecer os vocábulos e ir descobrindo o mundo em volta. Isso me encanta ainda hoje. Meu livro é Grandes Esperanças e meu escritor é Charles Dickens.

Brasileiros – Mas você é um grande conhecedor e admirador da obra do escritor João Guimarães Rosa, dos Sermões do Padre Antônio Vieira, de Dalton Trevisan, de João Antônio, de Carlos Drummond de Andrade, de Shakespea-re, de Fernando Pessoa, de Erasmo, entre tantos outros…
L.D. – O livro Grande Sertão: Veredas de Guimarães Rosa é minha bíblia, meu livro de cabeceira, e todas as noites eu o abro em algum lugar e leio um trecho. A vida de alguma forma está colocada lá: nossos medos, nossos assombros com o mundo, a paixão, o desejo, o tormento das dores da vida, do amor. Sou um apaixonado e delirante da palavra. Adoro literatura, e gosto de todos esses autores que você citou e mais uma centena. Quando fiz o filme Palavra e Utopia de Manoel de Oliveira, onde faria o papel do Padre Antônio Vieira, fui ler sobre sua vida e seus Sermões. Lembro-me de que eu saía toda manhã pelos arredores do meu sítio no interior de São Paulo lendo em voz alta os Sermões de Vieira e as pessoas olhavam para mim espantadas e falavam baixinho: “O Zeca Diabo está doido” (risos). Foi assim com Dalton Trevisan, foi assim com João Antônio e com outros escritores. Tem um sermão, do 4º Domingo, do Vieira, que diz o seguinte: “A mim a imagem dos meus pecados me comove muito mais que essa imagem do Cristo crucificado. Diante dessa imagem do Cristo crucificado, sou levado a ensoberbecer-me por ver o preço pelo qual Deus me comprou, diante da imagem dos meus pecados é que eu me apequeno por ver o preço pelo qual eu me vendi. Por ver que Deus me compra com todo o seu sangue, eu sou levado a pensar que eu sou muito, que eu valho muito. Mas quando noto que eu me vendo pelos nadas do mundo, aí eu vejo que sou nada. Eu valho nada”. Isso é muito bonito, muito profundo, muito humano.

UM HAITI MEIO BRASILEIRO
No cinema
Quase no Céu(1949), de Oduvaldo Vianna
Guerra Conjugal(1975), de Joaquim Pedro de Andrade
O Crime do Zé Bigorna(1977), de Anselmo Duarte
O Jogo da Vida(1977), de Maurice Capovilla
A Queda(1978), de Ruy Guerra e Nelson Xavier
Sargento Getúlio(1983), de Hermano Penna
Corpo em Delito (1990), de Nuno César Abreu
A Ostra e o Vento(1997), de Walter Lima Júnior
Boleiros – Era Uma Vez o Futebol 1(1998) e 2 (2006), de Ugo Giorgetti
Palavra e Utopia (2000), de Manoel de Oliveira, o terceiro filme que o ator fez em Portugal
Eu Tu Eles (2000), de Andrucha Waddington
Espelho Mágico(2005), de Manoel de Oliveira, o quarto filme que o ator fez em Portugal e o segundo que ele trabalhou com Manoel de Oliveira
Depois Daquele Baile(2006), de Roberto Bomtempo

Ainda inéditos
Topografia de Um Desnudo(2009), de Teresa Aguiar
Família Vende Tudo(2009),de Alain Fresnot

Na televisão
Novelas(TV Tupi e TV Globo)
Sua Vida Me Pertence(1951)
O Direito de Nascer (1964)
Beto Rockfeller (como ator e diretor, 1968)
O Bem-amado (1973)
Os Ossos do Barão(1973)
Pecado Capital (1975)
Roque Santeiro(1985)
O Salvador da Pátria (1989)
Rainha da Sucata(1990)
Pedra Sobre Pedra(1992)
A Próxima Vítima (1995)
Sabor da Paixão(2002)
Belíssima(2005-2006)
Desejo Proibido(2007)
Caminho das Índias(2008-2009)

Minisséries
O Tempo e o Vento (1985)
Agosto(1993)
O Auto da Compadecida(1999)

Seriado
O Bem-amado(década de 1980)

Outras participações na TV
Teleteatro no TV de Vanguarda(TV Tupi) e participações em programas como Brava Gente, Você Decide, Caso Especial, Sítio do Pica-Pau Amarelo, Globo de Ouro eSom Brasil.

No teatro
Teatro de Arena (1961-1971): O Testamento do Cangaceiro; Arena Conta Zumbi; Arena conta Tiradentes; Tartufo
Fora do Arena: Bonifácio Bulhões e Sertão Ser Tão


Comments

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.