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Dois homens e uma transa
A Mostra de São Paulo há muitos anos dedica uma pequena parte do evento para a exibição de filmes sobre o mundo gay. Mas o filme americano O Dia da Transa, mesmo tratando de uma combinada noite de sexo entre dois amigos homens heterossexuais e da revelação que um deles faz para o outro, transcende a questão de um filme tipicamente gay. O filme conta a história de dois amigos que estudaram juntos na faculdade. Ben, que seria o conservador, terminou o curso, hoje trabalha numa firma e tem uma vida pacata ao lado da esposa (eles estão tentando ter um filho). Já Andrew, que não concluiu o curso, saiu viajando pelo mundo para conhecer pessoas e lugares, e seria o irresponsável. Há muitos anos eles não se viam e, um belo dia, Andrew chega de madrugada na casa de Ben, que acorda assustado. Depois de vários abraços e conversas desencontradas, Andrew se instaura na casa do amigo, meio sem a aprovação da esposa, que olha o amigo do marido desconfiada. No outro dia, Andrew conhece uma mulher e liga para Ben, chamando-o para a casa dela para participar de uma festa dionisíaca. Ben chega a tal festa meio deslocado e fica mais ainda quando vê a mulher que o amigo conheceu beijando outra mulher. Durante a festa, porém, Ben vai se soltando, depois de alguns goles e tragadas de maconha. E é entre bebedeiras e maconha na cabeça que os amigos decidem participar de uma tal de Humpfest (festival de pornografia artística, que exibe filmes caseiros de sexo explícito produzidos pelos participantes). Eles então combinam que vão transar e gravar o vídeo para o tal festival, mesmo sendo héteros. Só que antes Ben tem que contar o combinado para sua esposa. O resto da história vocês conferem ao assistir ao filme. O Dia da Transa fala sobre diversos assuntos e toca na questão do que é ser heterossexual e o que é ser homossexual (ou o que convencionalmente chamamos de hétero e homo). Portanto, fala sobre as imagens que construímos de nós mesmos e dos outros (as conversões das imagens estabelecidas pela sociedade). O título do filme se refere ao dia que eles vão transar para fazer o tal vídeo e mandar para o festival. Só que o filme derrapa ao contar essa inusitada história, pela falta de realismo com que eles começam a falar sobre um assunto tão insólito e de como eles combinam a transa, mas principalmente pela falta de reflexão da situação. O diretor Antônio Carlos Fontoura dirigiu o filme Espelho da Carne (1984) que falava, por outras vias, de uma noite de sexo entre dois amigos heterossexuais (Daniel Filho e Dênis Carvalho). Mas aqui a coisa acontece meio que por acaso e não fica nenhum incômodo de como eles chegam ao ato em si.
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Entender o amor
Poderíamos dizer que a filmografia do diretor Beto Brant se divide em dois focos: os seus primeiros filmes falavam sobre a sociologia do crime (sociopolicial) e aí encontram-se Os Matadores (1997), Ação entre Amigos (1998) e O Invasor (2002). Com os filmes Crime Delicado (2005) e Cão Sem Dono (2007), Brant coloca a lente da sua câmera para dissecar a relação de amor entre um homem e uma mulher e de como essa relação tece e desfaz o cotidiano deles. “O sexo revela tudo”, disse o diretor, em entrevista. Em seu último O Amor Segundo B. Schianberg, um casal que se conhece há pouco tempo e que vão morar juntos, vivem o paraíso e o inferno da travessia da descoberta. Apesar de saber dirigir atores e trazer belíssimas imagens construídas para narrar as histórias, o diretor não mostra vitalidade no desenrolar do enredo do filme e as situações ficam muitas vezes estéreis. Ficamos só na contemplação, sem haver entrega do espectador ao que Brant propõe, muito diferente dos seus filmes da primeira fase.
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Anos 1970, o desbunde de uma década
O documentário Dzi Croquettes, de Tatiana Issa e Raphael Álvares, fala da trupe teatral que nos anos 1970 afrontava com ironia e inteligência a ditadura militar. Tatiana Issa é filha do coreógrafo Américo Issa, que trabalhou com o grupo teatral e conheceu de perto esses “secos e molhados”. O filme revela um tempo em que ser politicamente incorreto, era a melhor forma de se expressar e transgredir. “Belos tempos, belos dias”, no marasmo do hoje convencional politicamente correto.
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Sem espaço
Há alguns anos a Mostra vem perdendo os burburinhos que antecedem a exibição de um filme muito esperado. Pouquíssimas sessões estão lotando e, mesmo quando lota, as pessoas na fila quase não falam. O que estará acontecendo? A Mostra está perdendo o fôlego?
Jorge Bodanzky (diretor)
Brasileiros – Eu sempre lhe vejo na Mostra. Você é um frequentador assíduo?
Jorge Bodanzky – Eu frequento a Mostra desde a primeira edição do evento. Tem filmes meus que passaram na Mostra e eu sou um frequentador, diria quase um fanático. Porque é uma oportunidade de ver coisas interessantes e tudo junto.
Brasileiros – A Mostra vem crescendo nesses últimos anos…
Jorge Bodanzky – O problema que ela cresceu, o que é bom, mas ficou difícil tanto para os organizadores da Mostra, como também para o frequentador, que fica perdido diante de tantos filmes.
Brasileiros – O que a Mostra representa para você?
Jorge Bodanzky – A Mostra é um reflexo de São Paulo, que é uma cidade tão pungente e tão interessante, que pode abrigar um evento como este.
Trailer de O Dia da Transa:
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