Muito além do modernismo

"Rest" (anos 1970), de Raul Eitelberg – artista que, na opinião da curadora, Rosângela Rennó, é uma das boas surpresas da mostra . Foto: Reprodução/Eduardo Ortega
“Rest” (anos 1970), de Raul Eitelberg – artista que, na opinião da curadora, Rosângela Rennó, é uma das boas surpresas da mostra . Foto: Reprodução/Eduardo Ortega


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a história da fotografia brasileira o Foto Cine Clube Bandeirante tem lugar cativo como espaço de evoluções técnicas e estéticas nascidas a partir de cursos pioneiros e da troca de experiências entre amadores e profissionais. Ícones, como José Yalenti (1895-1967), Geraldo de Barros (1923-1988), Eduardo Salvatore (1914-2016), Thomaz Farkas (1924-2011) e German Lorca (1922) fizeram do Bandeirante um laboratório de proposições de vanguarda que elevou a fotografia do País ao status de manifestação artística mundialmente reconhecida.

Arquitetura e geometria em registro de German Lorca feito em conjunto residencial no bairro da Mooca, em SP (1951). Foto: Reprodução/Eduardo Ortega
Arquitetura e geometria em registro de German Lorca feito em conjunto residencial no bairro da Mooca, em SP (1951). Foto: Reprodução/Eduardo Ortega

Em cartaz até 20 de março no Museu de Arte de São Paulo, a mostra Foto Cineclube Bandeirante – Do Acervo à Rede  expõe 279 trabalhos de 85 artistas e amplia a compreensão da importância do espaço paulistano. Sediado hoje no chamado Baixo Centro da rua Augusta, o Foto Clube Bandeirante foi fundado há 76 anos na noite de 28 de abril de 1939, em cerimônia realizada no Edifício Martinelli, um dos cartões-postais do centro da capital paulista. Naquela noite, Antônio Gomes de Oliveira e Lourival Gomes Cordeiro, sócios da Photo-Dominadora, uma loja de equipamentos e insumos fotográficos instalada na rua São Bento – próxima à sede do Martinelli – , reuniram 50 clientes para assinarem o estatuto de fundação do Foto Clube Bandeirante.

Abstrações de Eduardo Salvatore ( sem data). Foto: Reprodução/Eduardo Ortega
Abstrações de Eduardo Salvatore ( sem data). Foto: Reprodução/Eduardo Ortega

Então dedicado apenas à fotografia, o espaço teve como primeira sede três salas do 22° andar do Martinelli mantidas com a colaboração dos sócios. Dias após a fundação, a primeira atividade realizada pelo Bandeirante foi uma excursão à Guararema, no Vale do Paraíba. A visita ao município, conhecido como Cidade das Orquídeas, motivou a criação de um concurso para eleição dos melhores registros da viagem. Desafios como esse inspiraram, em 1942, a criação do primeiro Salão Paulista de Arte Fotográfica, que contou com a participação de competidores de todo o País e também apresentou uma mostra não competitiva, intitulada Boa Vizinhança, dedicada ao trabalho de profissionais estrangeiros – gentileza retribuída com o início das participações de brasileiros em salões internacionais. Em 1945, foi criado um departamento de cinema e o espaço, rebatizado de Foto Cine Clube Bandeirante, também passou a oferecer, nas duas áreas, os primeiros cursos técnicos e profissionalizantes.

Fachada interior do Edifício São Borja, de Thomaz Farkas (RJ, 1945), é uma das fotos que têm o verso exposto para que  o visitante da mostra conheça. Foto: Reprodução/Eduardo Orega
Fachada interior do Edifício São Borja, de Thomaz Farkas (RJ, 1945), é uma das fotos que têm o verso exposto para que
o visitante da mostra conheça. Foto: Reprodução/Eduardo Orega

Com a reputação consolidada de ponta de lança da fotografia em vertentes estéticas das artes visuais, como o modernismo e o abstracionismo geométrico, o Bandeirante foi reverenciado na 8ª Bienal de São Paulo, em 1965, com uma sala especial repleta de trabalhos de seus sócios.

Por meio dos selos e carimbos, dá para saber os salões nacionais e internacionais em que as fotos foram expostas. Foto: Reprodução/Eduardo Ortega
Por meio dos selos e carimbos, dá para saber os salões nacionais e internacionais em que as fotos foram expostas. Foto: Reprodução/Eduardo Ortega

Em videorreportagem da ARTE!Brasileiros (veja em: brasileiros.com.br/zaiJ0), a curadora da exposição no Masp, Rosângela Rennó, detalhou particularidades da coletiva. “A exposição é feita de vários elementos. As fotografias estão dispostas sem molduras e também exibimos os versos de algumas imagens. Um dado importante, porque são fotos que contêm seus ‘passaportes’ no próprio corpo. São selos e carimbos de todos os salões brasileiros ou internacionais onde foram mostradas entre as décadas de 1940 e 1980. É uma exposição didática. Muita gente conhece o Bandeirante por sua fatia modernista, mas há bastante coisa diferente para ser vista.”         


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