Mulheres em luta

O universo feminino é a temática central dos dois longas de ficção estrangeiros vencedores da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo deste ano, encerrada na noite de quinta-feira (3), em evento na Cinemateca Brasileira. Logo após o anúncio dos ganhadores, foi exibido o novo filme do diretor David Fincher, A Rede Social, que fala sobre os criadores do Facebook. A estreia do longa está programada para o dia 3 de dezembro, no Brasil. [nggallery id=14138] Presidido pelo cineasta Alan Parker, o júri premiou os filmes de ficção Quando Partimos, da diretora austríaca Feo Aladag, que saiu com o troféu Bandeira Paulista, e Beyond, da diretora e atriz sueca Pernilla August, que recebeu o prêmio especial. Os críticos decidiram escolher os filmes mais longos da seleção da Mostra deste ano. Longos, não somente por serem longas-metragens, mas pelo tempo de duração (Quando Partimos tem 119 minutos e Beyond, 94 minutos).O grande vencedor da crítica foi o filme português Mistérios de Lisboa, de Rauol Ruiz, que já comentamos em matéria anterior, com duração de 266 minutos. O filme Carlos, de Oliver Assayas, que recebeu o prêmio especial da crítica, tem duração de 330 minutos e refaz a trajetória do lendário Chacal, um dos terroristas mais procurados do mundo, nos anos 1960 e 1970. Apesar de longos, os dois filmes são fáceis de serem assistidos, muito em função da direção fluida e segura dos diretores.A votação do público causou certa surpresa, pois o melhor filme nacional escolhido foi o singelo e lírico Meninos de Kichute, de Luca Amberg, que retrata as aventuras e desventuras de um menino que quer ser goleiro de futebol no interior do Paraná, na década de 1970. O filme é baseado no livro homônimo de Márcio Américo, que ajudou na elaboração do roteiro juntamente com o diretor. A trilha sonora do filme é deliciosa (até as músicas ufanistas da época!) e mostra como as brincadeiras das crianças daquele tempo eram bem mais lúdicas e saudáveis que os videogames de hoje. O filme estrangeiro que o público escolheu foi o sensacional Balibo, de Robert Connolly, que já comentamos aqui. O filme é ágil e tenso e vale a pena ser visto.Com licença, eu vou à luta!A posição da mulher de hoje em algumas sociedades ainda é injusta e desumana. Mas, mesmo em sociedades que se gabam pelo padrão de civilidade e democracia, a mulher ainda carece de tratamento justo e igualitário. Os dois filmes de ficção vencedores da edição da Mostra deste ano, feitos por duas realizadoras, mostra a fragilidade da mulher na sociedade e de como ela ainda tem que lutar para conseguir, de fato, os seus direitos.O longa Quando Partimos, da diretora Feo Aladag, conta a história da alemã Umay, que vive em Istambul um casamento opressor e sem felicidade. Ela foge com o filho para Berlim, à procura de abrigo na sua família, mas o que encontra são convenções estabelecidas pela sociedade machista, na qual sobra pouco ou nada para Umay reivindicar, a não ser voltar para viver ao lado do marido.Já o filme Beyond da diretora e atriz sueca Pernilla August, mostra o encontro de Leena com a mãe, que está morrendo em um hospital, depois de anos de ausência. A atriz Noomi Rapace, que vive Leena, recebeu o prêmio de melhor atriz do júri pela excepcional composição (a cubana Yasima Torrés, que vive o difícil papel de Saartjie Baartman, no filme Vênus Negra merece menção honrosa). O filme mostra que as primeiras opressões que as mulheres vivem são no próprio lar, com mães que as criam de forma machista e autoritária. O encontro de Leena com a mãe revelará antigas feridas não cicatrizadas (o tema foi magistralmente tratado pelo cineasta Ingmar Bergman no filme Sonata de Outono. Por sinal, a diretora Pernilla August trabalhou com Bergman como atriz no filme Fanny & Alexandre, em 1982). Dois filmes, duas diretoras, dois universos do mundo feminino e uma constatação: as mulheres têm muitoainda por conquistar.OS PREMIADOS DA 34ª MOSTRA INTERNACIONAL DE CINEMA DE SÃO PAULOTROFÉU BANDEIRA PAULISTA 2010PRÊMIO FICÇÃO – COMPETIÇÃO NOVOS DIRETORESJúri: Alan Parker, Ana Luiza Azevedo, Carlo di Carlo, Michel Ciment, Miki Manolojvic, Samuel Maoz, Serge AvédikianMelhor Atriz: Noomi Rapace, por Beyond, de Pernilla AugustPrêmio Especial do Júri: Beyond, de Pernilla AugustMelhor Filme: Quando Partimos, de Feo AladagPRÊMIO DOCUMENTÁRIO – COMPETIÇÃO NOVOS DIRETORESJúri: Felipe Tassara, Rainer Hartleb, Wolney AttalaPrêmio Especial do Júri: O Samba Que Mora em Mim, de Georgia Guerra-PeixeMelhor Documentário: Jardim Sonoro, de Nicola BellucciPRÊMIO DA CRÍTICAPrêmio Especial da Crítica: Carlos, de Olivier Assayas – França/AlemanhaMelhor Filme: Mistérios de Lisboa, de Raoul Ruiz – PortugalPRÊMIO DO PÚBLICOMelhor Filme Brasileiro: Meninos de Kichute, de Luca AmbergMelhor Filme Internacional: Balibo, de Robert ConnollyMelhor Documentário Brasileiro: José & Pilar, de Miguel Gonçalves MendesMelhor Documentário Internacional: Pense Global, Aja Rural, de Coline SerreauPrêmio da Juventude: O Mágico, de Sylvain ChometPRÊMIO AQUISIÇÃO CANAL BRASIL (curtas-metragens)Júri: João Nunes, Luiz Carlos Merten, Alessandro Giannini, Nina Rahe, Dolores Orosco, Ana Paula SouzaMelhor Curta-metragem: Pimenta, de Eduardo MattosPRÊMIO ITAMARATYJúri: Bernardo Spinelli, Eduardo Valente, Georgia Costa AraújoPrêmio Especial – Homenagem pelo Conjunto da Obra: Carlos ReichenbachMelhor Curta-Metragem: Pimenta, de Eduardo Mattos (R$ 15 mil)Melhor Longa-Metragem – Documentário: Lixo Extraordinário, de Lucy Walker, João Jardim, Karen Harley (R$ 30 mil)Melhor Longa-Metragem – Ficção: Rosa Morena, de Carlos Oliveira (R$ 45 mil)PRÊMIO HUMANIDADE Mahamat Saleh Haroun, diretor de Um Homem que GritaRaoul Ruiz, diretor de Mistérios de LisboaHannah Schygulla, atriz e diretora

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